É, para dizer o mínimo, delicado o fato de o governo ser levado a apresentar um orçamento com déficit. É bem provável que, de modo geral, não se tenha noção do que isso significa. Por outro lado, essa situação serve para mostrar como era irreal o quadro das contas públicas e do orçamento da União que nos era descrito. O tempo é, ao fim e ao cabo, porto seguro para fazer ver o que nem sempre se percebe no curto prazo, para gerar convencimentos e para laçar lume sobre a tomada de decisões. O problema é que, às vezes, pode ser tarde demais. Ao render-se ao orçamentário deficitário, talvez o governo devesse emitir sinais também sobre algo que é de extrema gravidade, e que já começa a ser divulgado: a informação segundo a qual o número sobre as reservas do país é fictício, no pressuposto de que o Brasil não teve saldo em conta-corrente que permitisse acumular reservas, sendo elas formadas então inteiramente pela conta de capital do balanço de pagamentos. O que significa dizer, como assinalou César Benjamin, que as reservas correspondem a um passivo externo líquido que é muito maior do que elas. Falando mais didaticamente: é qualquer coisa do tipo como alguém apresentar um elevado saldo em caderneta de poupança, mas esconder um grande rombo no cheque especial.
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