Por Ricardo Melo
O
recuo da presidente Dilma em relação à CPMF coroou uma série de iniciativas
desorientadas que comandam o governo desde as ameaças de impeachment.
Primeiro foi a Agenda Brasil, coleção de
postulados conservadores destinada a afagar a elite. Alguém sério ainda lembra
dela?
Depois veio o anúncio atabalhoado do corte de
ministérios. Quantos? Quais? Quando? Deixa pra lá.
Agora o ensaio de ressurreição da CPMF. Nem
se trata de entrar no mérito da proposta. Tampouco perder muito tempo em
registrar o cinismo de oposicionistas e outros tantos que criaram o imposto no
passado e agora posam de seus maiores adversários.
A raiz do problema continua sendo a mesma.
Como compatibilizar um governo que se diz social – e que, por isso, tem sido
reeleito –, mas insiste em procurar socorro naqueles que nunca engoliram a
hegemonia de um partido fora do cenário tradicional da política brasileira. O
pau que bate em Chico continua preferindo os Chicos, este é o fato.
O resultado constrange. A tal base política
esfarela-se dia após dia. As concessões a torto e, principalmente à direita,
não surtem efeito. De uma certa forma, o Planalto caiu na armadilha montada
pela oposição. O fantasma golpista passou a guiar todos os passos da
administração.
Cada lado festeja vitórias fátuas em
tribunais que há muito perderam o respeito público. Além do TCU, Dilma vem
sendo ameaçada pelo TSE. Ora, na mesma corte o PSDB é suspeito de cometer pelo
menos 15 irregularidades na campanha presidencial. Você sabia disso?
Provavelmente não. O assunto está confinado ao pé de página de alguns jornais.
Uma das acusações, veja só, refere-se a doações de empreiteiras citadas na
mesma Lava Jato que sataniza o PT.
Isso sem falar do escândalo do HSBC e da
roubalheira assumida na sonegação fiscal na Receita. Talvez a Operação Zelotes
não seja tão sexy, como diria o ministro Levy. Nesta nem foi preciso recorrer a
vazamentos premiados de criminosos reincidentes. O próprio juiz responsável
pelo caso, aprendiz de Gilmar Mendes, tratou de bloquear a investigação.
O Brasil vive sobretudo uma luta política.
Mas quem vai decidir o desfecho são aqueles que sentem na pele o emprego
minguar, os preços aumentarem, o acesso à educação, à moradia e a benefícios
trabalhistas duramente conquistados ficarem mais difíceis. Isso não se resolve
com discursos ou batalhas apenas pelo poder, seja de que lado for.
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Fonte: Folha de São Paulo, versão para assinantes, edição do dia 31/08/2015
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