Por Leont Etiel
Agora a noite já chega. A florista
aproxima-se com uma flor que cintila viver. Mas isso já não importa. Quando a
vida bate às portas do noturno a sua visão torna-se cinzenta.
Na vilazinha, a penumbra da luz da
pequenina Igreja faz réstia por entre as frestas das janelas, enquanto o soar
breve do sino anuncia simbolicamente despedidas. São 18h00. Três despedidas.
Despedida do dia que cessa, que
anunciou para alguns e cumpriu; que, para outros, anunciou e não cumpriu; e,
para outros terceiros, nem sequer anunciou. Foi apenas um feixe de luz
escorrendo desordenadamente no espaço.
Despedida de alguém que encerrou o
ciclo vital, sem se dar conta de que este teria fim. E sem entender o significado de a ‘existência
preceder a essência’. Alheio à satisfação resultante da interação entre corpo e
mente. Alheio à introspecção.
Despedida do que fica, porém não mais
enxerga, ou não quer enxergar, a flor que a florista traz na mão esquerda. A
luz do dia não mais lhe corre pela noite da idade. O noturno se lhe levanta
fazendo cinzento a cor de tudo à sua frente. Chega o outono, com a transição
para a quietude do inverno existencial.
Agora a noite já chega. E o tempo de vê-la
além do cinzento não mais vem...
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