Há uma lacuna em muitas análises políticas sobre o atual momento
brasileiro, lacuna que as debilitam e as remetem à esfera de uma mera “tautologia
politicista”. E promovem a cegueira em relação a aspectos fundamentais. Por outras palavras: é irrelevante circunscrever as abordagens sobre a
crise apenas à movimentação dos agentes políticos em cena. Desse modo, não chegamos
à percepção do que está em causa no presente momento e menos ainda
conseguir-se-á vislumbrar os delineamentos futuros. Falta o fator econômico em
tais análises, a fusão entre economia e política – ou digamos, como opção de
abordagem, é necessário fazer a Economia Política falar (seja na tradição que
vai de Adam Smith à crítica de Marx, seja na perspectiva de autores
contemporâneos, como o teórico das relações internacionais Robert Gilpin). Sem a aludida fusão não vamos analiticamente a lugar nenhum.
Alguns elementos como prova empírica disso:
1) Observe o gráfico aí abaixo. Ele descreve o percurso da taxa básica de juros (Selic), com a marcha da insensatez dos últimos tempos, chegando aos 14,25%, com o aumento de julho - a despeito das críticas de várias vozes com treino no assunto. Ora, o aumento da Selic tem como consequência imediata o aumento das despesas do governo, com o pagamento de juros aos credores detentores de títulos da dívida pública - nesse processo, cada ponto na elevação da Selic custa ao governo, em números arredondados anualmente, conforme dados mais recentes, cerca de R$ 15 bilhões de reais. Depois, ainda tem-se a pachorra de se falar em ajuste fiscal e até em segurar o 13º dos aposentados!
2) Abstraiamos o aludido aí acima. Sobra então a desculpa do aumento dos juros como medida preventiva ao aumento da inflação. Aí, a lorota é grande. Até o tucano José Serra já disse, por escrito, e com razão, que o fundamental da pressão sobre a inflação teve/tem a ver com câmbio e com a correção de tarifas e preços administrados.
3) Um nítido retrato da sangria decorrente do pagamento dos juros da dívida pública: em 2014, o governo Dilma repassou R$ 251,1 bilhões aos credores da União, um aumento de cerca de 35% em relação ao ano anterior (R$ 185,8 bilhões). Esse montante, de 2014, seria suficiente para pagar uma década do Programa Bolsa Família. É possível, assim, entender, por exemplo, por qual razão banqueiros estão se sucedendo em declarações de apoio à permanência da Presidente (pelo menos enquanto lhes for conveniente).
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