Na historia, denomina-se vitória de Pirro quando se vence algo, mas a vitoria tem ares de derrota, por conta do penoso esforço empreendido e do alto preço pago (trata-se de uma alusão à Guerra Pírrica da Antiguidade, envolvendo Roma e a cidade de Tarento, com o governante grego Pirro sendo um protagonista central). Ora bem, em face dos últimos acontecimentos, as evidências estão a emitir sinais no sentido de se conceder o “Troféu Vitória de Pirro” ao Governo da Presidente Dilma e ao PT. O drive político do momento:
1) Configura-se, a passos largos, com a chancela do establishment, o “acordo de salvação” do Governo Dilma. Após as notas das associações empresarias, depois da mudança de linha de destacados setores da imprensa monopolizada, assim como em seguida à entrevista do Presidente do maior banco privado do país pregando “entendimento”, o Presidente do Senado, que andava afastado do Palácio do Planalto, confabulou com a Presidente, reaproximou-se e apresentou uma agenda com medidas para promover o “entendimento” e a “estabilidade”. A Presidente, de pronto, abriu os braços.
2) Mas, qual é o preço do acordo? Este é o problema. Além de se tornar ainda mais refém do PMDB, ou da ala do partido comandada por Renan Calheiros, surge quase inacreditável ver o Governo abrir os braços para uma agenda que defende, por exemplo, que atendimentos no SUS passem a ser pagos, além de fazer mimos às operadores de planos de saúde. Efetivado isso, será a rendição total. Já não há mais anéis – será a entrega dos dedos, mãos, braços, o corpo inteiro.
3) A imprensa monopolizada vai dando os ares da efetivação do acordo. Há, contudo, ainda, uma pedra no meio caminho, ‘no meio do caminho há uma pedra’ (ou mais), como diria Drummond: o Presidente da Câmara, que até agora foi excluído dos “convescotes palacianos”, e que já avisou que, assim, “não deixará a coisa de graça”. Do outro lado, há um Aécio Neves, que, não refeito da derrota nas urnas, dia e noite, sonha em sentar na cadeira presidencial, tendo como proposta a realização de novas eleições, proposta na qual, diga-se de passagem, ele não tem o apoio de segmentos importantes do seu partido (estes, discretamente, apoiam os acertos que estão a ser feitos com o Governo). Portanto, Aécio é outro, além de Eduardo Cunha, que, por certo, não tem disposição para assimilar tal acordo.
4) Três fatos, pelo menos, podem mudar o rumo das coisas: a dimensão das manifestações contra o Governo (como a do dia 16 próximo); alguma “trampa” do Presidente da Câmara; ou algum desdobramento/acontecimento novo no âmbito da Operação Lava Jato, que tenha significativo impacto.
Não havendo mudança de rota, o Governo Dilma e o PT podem levantar o “Troféu Vitória de Pirro”. Será por desonra ao mérito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário