Por Breno Altman
A
mobilização prevista para acontecer nas próximas horas foi originalmente
convocada, no caso de São Paulo, por um acerto bilateral entre a CUT e o
Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), liderado por Guilherme Boulos.
Rapidamente teve
adesão dos principais movimentos sociais e entidades sindicais.
Partidos de posições
conflitantes – como o PT, o PC do B e o PSOL – também acabaram, de uma forma ou
outra, por se somar à iniciativa. Que em cada cidade ou estado é impulsionada
por protagonistas distintos, correspondendo à capacidade maior ou menor de
mobilização que cada organização possui.
Ao contrário do que
se passa no Equador, por exemplo, onde setores de ultraesquerda se juntam à
direita nas manifestações em curso contra o presidente Rafael Correa, aqui as
principais forças progressistas, contra ou a favor do governo Dilma Rousseff,
decidiram confluir, ao menos momentaneamente, em uma frente única contra o
conservadorismo.
Repete-se, em certa
medida, o cenário político do segundo turno das eleições presidenciais do ano
passado. Acima de simpatia ou antipatia pela administração formalmente liderada
pelo PT, o traço de identidade é o repúdio ao retrocesso.
Quem for às ruas
neste dia 20 estará rechaçando os grupos reacionários que almejam quebrar
regras constitucionais para encurtar o mandato presidencial, abrindo caminho
para o estabelecimento de um governo sob sua hegemonia.
Alguns setores que
estarão presentes nas mobilizações desta quinta-feira (20/08), provavelmente
minoritários, gostariam que essa fosse a principal ou a única bandeira
levantada pelos manifestantes.
Se assim fosse, os
atos de logo mais poderiam ser entendidos puramente como jornada contra o
golpismo e a favor do governo Dilma Rousseff.
Mas esta não é a realidade.
O rumo adotado pela
presidente depois das eleições, particularmente em política econômica, mas
também na composição dos ministérios, vem alimentando poderosa rejeição no
campo social de esquerda, incluindo eleitores e ativistas tradicionais do PT.
O chamado ajuste
fiscal conta com a oposição aberta das principais organizações sindicais e
populares, mesmo daquelas dirigidas por petistas, como é o caso da CUT.
Elevação da taxa de
juros, limitação de direitos trabalhistas e contingenciamento dos gastos
públicos, entre outras medidas que vem provocando recessão, desemprego e
redução salarial, contam com a repulsa de amplos segmentos progressistas.
A inexistência de
reformas que transfiram para o capital parte da reestruturação do orçamento
nacional, através de impostos sobre grandes fortunas ou dividendos de
acionistas, por exemplo, também é motivo de protestos.
Por essas e outras, a
mobilização que se avizinha será, ao mesmo tempo, resposta contra a direita e
negação da atual política econômica. Defesa da democracia e denúncia de pactos,
como o proposto ao redor da agenda de Renan Calheiros, que confrontam o caminho
programático referendado pelo voto de outubro.
Quem tiver a
expectativa que o 20 de agosto será uma data governista irá se frustrar ou
poderá ajudar a danificar o frágil acordo político que antecedeu sua
convocação.
Destino semelhante
terão os agrupamentos e militantes que imaginaram o dia de hoje como momento de
oposição “pela esquerda” à presidente Dilma Rousseff.
A linha de corte não
é o apoio ou o rebate ao governo, mas o combate à agenda conservadora nas ruas,
no parlamento e na própria administração federal.
Todo cuidado é pouco,
aliás.
Diante da poderosa
ofensiva das forças mais atrasadas do Estado e da sociedade, este foi o acordo
possível para reagrupar o campo progressista e leva-lo de volta ao jogo.
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Fonte: http://operamundi.uol.com.br/
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