Chegamos ao fim da penúltima semana de agosto com o Governo
da Presidente Dilma respirando mais do que quando o mês se iniciou. O ‘acordão’ (não
confundir com acórdão) com o establishment embrulhado na ‘Agenda Brasil’ pelo
Presidente do Senado, as manifestações de ontem (mesmo com a clivagem à
Esquerda dos críticos ao Governo) e a fritura de Eduardo Cunha na frigideira da
corrupção são três fatos fundamentais na canalização do ar de sobrevida do
mandato presidencial. Se serão suficientes para a sobrevivência política da
Presidente, no médio prazo, aí a história já é outra. Não há garantia. Seja
como for, se a oposição de Direita
continuar apostando as suas fichas em “jogadores” sem qualificação ético-política
(passada e presente) para questionar a Presidente, o Governo tem alguma vantagem
no embate. Beira a cretinice, por exemplo, a postura do PSDB em relação ao
Presidente da Câmara. Alguém que, conforme a denúncia da Procuradoria, por
certo, inovou em matéria de gestão de propina: até uma igreja Eduardo Cunha utilizou nos
malfeitos da corrupção. Esse é o homem
alçado à condição de comandante do impeachment, sendo também o terceiro na linha
de sucessão da Presidência, e desse modo, portanto, pode sentar na cadeira presidencial se
o impeachment for consumado! Mas, a inovação dele, envolvendo política, corrupção e esperteza religiosa não tem
limites. Conforme nos faz saber o jornalista Bernardo Mello Franco, ele também
comanda um ‘mercado religioso’ na internet. Isso pode ser conferido no texto aí
abaixo, que sugestivamente o jornalista intitulou-o como ‘Em nome de Jesus.com’.
Por Bernardo
Mello Franco
A denúncia
contra o deputado Eduardo Cunha, acusado de corrupção e lavagem de dinheiro,
foi manchete de todos os portais brasileiros nesta quinta. Ou melhor, de quase
todos. No portal evangélico "Fé em Jesus", a principal notícia era
outra: "Eduardo Cunha fala sobre análise de contas de
ex-presidentes".
O site está registrado em nome da empresa Jesus.com e oferece
serviços como o "Jesus Tube", o "Jesus DJ" e o "Jesus
Mail". A firma pertence ao presidente da Câmara e à sua mulher, a
jornalista Cláudia Cruz.
O "Fé em Jesus" é um dos oito endereços da Jesus.com na
rede. Como pessoa física, Cunha detém nada menos que 284 domínios. O latifúndio
virtual integra um plano imodesto, anunciado pelo deputado, de "criar um
mundo evangélico na internet".
Os endereços comprados pelo peemedebista deixam claro o seu
interesse em lucrar com a fé alheia. Entre os domínios, estão
shoppingjesus.com.br, compracrente.net.br, jesuschat.com.br e
fenodesconto.net.br.
Cunha também registrou endereços que misturam o nome de Jesus aos
de portais famosos, como facebookjesus.com.br, facejesusbook.com.br, e
jesusgoogle.com.br. Se os donos das marcas quiserem explorá-las, terão que
negociar com ele.
Nesta terça, o Ministério Público revelou que o investimento em
sites é apenas a face mais visível das transações do deputado com a fé cristã.
De acordo com a denúncia oferecida ao STF, parte da propina do
petrolão foi paga em "transferências para Igreja Evangélica, a pedido de
Eduardo Cunha". O lobista Júlio Camargo, que delatou o presidente da Câmara,
repassou R$ 250 mil à Assembleia de Deus em Madureira.
O Ministério Público diz que a vinculação do deputado com a igreja
é notória porque ele frequenta cultos de um de seus líderes, Abner Ferreira. Se
acessarem o "Fé em Jesus", da Jesus.com, os procuradores encontrarão
ligações mais fortes. Abner, o pai e o irmão, também pastores, são colunistas
do portal de Cunha.
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Fonte: Folha de São Paulo, versão para assinantes, edição do dia 21/08/2015
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