Instigado por amigos a se manifestar sobre os últimos desdobramentos da Operação Lava Jato, César Benjamin, cientista político e um dos fundadores do PT que há já alguns anos deixou o partido (antes da sua chegado à Presidência da República), foi lapidar no breve texto aí abaixo, o qual substancialmente subscrevo. Coloca no centro do debate a relação entre Esquerda e República, refutando o oportunismo, digo eu, típico da maruagem. Na Esquerda, esta tem significado, por exemplo: 1) a decisão do resultado de reuniões antes de elas acontecerem (negando a interação e as sínteses que só os debates vivos produzem), de modo que elas (as reuniões) tornam-se meros jogos de cartas marcadas; 2) a utilização de bens públicos, como os telefones de uma instituição, para fins outros/particulares; 3) a manipulação de pessoas, com as que estão em processo de formação e os militantes de base, fazendo-as de massa de manobra para defender os interesses dos "gurus"; 4) a aversão ao debate teórico e ao aprofundamento conceitual das questões (possivelmente para os "gurus" não serem desmascarados), dizendo-se que não se pode perder tempo como isso, que é 'elitismo intelectual' (!?) - assim, promovem-se os discursos vazios e o oba-oba populista do praticismo. Fico apenas nestes quatro exemplos, mas existem vários outros. Pois bem, a situação vivida pelo Brasil hoje foi produzida, em grande parte, por esta visão de Esquerda, ignorante quanto ao significado da perspectiva republicana. É esta visão de Esquerda, desastrosa, que está a ser derrotada. Que ilações sejam tiradas! Seja como for, no entanto, a fatura será paga pelo ideário geral da Esquerda (e não por uma força política específica, como o PT), isto é, será paga pelo ideário da liberdade com igualdade social, da laicidade, de uma vida sem preconceitos e discriminações, etc. O realce de César Benjamin vai nesse sentido.
Por César Benjamin
Vários amigos pedem minha opinião sobre os desdobramentos
recentes da Operação Lava Jato. Tenho pouco a dizer. Divergi e critiquei Lula e
José Dirceu – primeiro em reuniões, depois publicamente -- quando eles estavam
no auge de seu poder. Não me sinto inclinado a bater neles agora, quando estão
caindo.
A reflexão de fundo, que todos devemos fazer, é sobre a relação
entre a esquerda e a República. As instituições da República devem ser ocupadas
para serem usadas, minadas e enfraquecidas em nome
de uma missão histórica que a esquerda se atribui, ou elas devem ser
fortalecidas? É possível ser socialista sem ser republicano?
Foi esse o pano de fundo do meu debate com o grupo de Lula e
José Dirceu, ainda no PT, anos atrás. Eles venceram. O partido entendeu rapidamente
qual era a nova orientação. Eu saí para preservar a minha história.
Cumpre-se, agora, a minha profecia de então: “O lulismo
produzirá a maior derrota da esquerda brasileira em sua história.” Os que me
conhecem pessoalmente já ouviram essa frase diversas vezes, mesmo quando Lula
era um presidente excepcionalmente popular. Sempre afirmei que depois do ciclo
de poder do lulismo teríamos uma sociedade muito mais conservadora.
Fui chamado de tudo, desde rancoroso até psicopata.
Infelizmente, eu tinha razão.
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