Por Hélio Schwartsman
A
sensação é a de que o governo está desmilinguindo. A conjunção das crises
econômica e política, ampliada pelos inéditos índices de rejeição a Dilma
(nunca antes na história deste país um presidente foi tão impopular) e pelo
inesgotável fluxo de pouco abonadoras informações policiais, tende a ser fatal
para o partido no poder.
O PT deverá pagar um preço político alto nos
próximos pleitos. Não dá para dizer que é injusto, já que o partido não só está
envolvido no que pode ser descrito como uma orgia de corrupção mas também
cometeu erros graves na condução da economia. Parece-me precipitado, porém,
decretar desde já que o caos e a anomia se assenhoraram de Brasília.
Os sucessivos golpes que o Congresso, em
especial a Câmara, dispara contra o governo comportam vários adjetivos, mas não
podem ser qualificados como irracionais. As pautas-bomba, que poderiam terminar
de afundar as contas públicas, têm pelo menos dois anteparos: o Senado,
discretamente mais responsável que a Câmara, e o veto presidencial. O cálculo
de certos deputados é que eles podem, numa só tacada, posar de amigos de segmentos
do eleitorado, pressionar o governo a liberar verbas e cargos (caso da chamada
base aliada) e ainda impor maior desgaste a Dilma e ao PT (objetivos da base
aliada e da oposição).
Em princípio, tudo isso é possível mesmo, mas
não é um jogo sem riscos. Em primeiro lugar, no curto prazo, ele alimenta a
instabilidade política e a incerteza econômica, o que contribui para tornar a
recessão mais intensa e mais prolongada do que o estritamente necessário. O
problema maior, porém, é que, enquanto políticos se dedicam a seus projetos
pessoais, o país deixa de tratar da questão que realmente importa, que é
rediscutir os termos do pacto social. Enquanto continuarmos fingindo que temos
renda para ser uma Suécia, seguiremos estruturalmente condenados a flertar com
fracasso.
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Fonte: Folha de São Paulo, versão para assinantes, edição do dia 07/08/2015.
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