Não
se sabe qual será a dimensão das manifestações deste domingo. Contudo, para quem
lança mão das ferramentas da análise social na abordagem da conjuntura brasileira,
uma coisa já parece certa: a linha editorial das Organizações Globo. Ou seja,
comparando com a cobertura dada às manifestações passadas, com o canal
para assinantes do grupo (Globonews) convocando a população, os prenúncios para este domingo estão a se apresentar
diferentes. As notícias a respeito não têm a ênfase oposicionista de antes, e quase chegam a sugerir que serão menores do que os protestos anteriores. Por que isso? Já tratamos do assunto aqui: uma mudança de posição
das Organizações Globo, como parte do “acordo de salvação” do Governo Dilma, chancelado pelo establishment. Essa cobertura compõe as cenas da vitória de
Pirro do Palácio do Planalto e do PT. Estimulando a arrumação desse “acordo”,
esteve diretamente envolvido um dos Marinhos, família proprietária das
Organizações Globo. A jornalista Daniela Lima dá-nos conta disso em detalhes no
texto aí abaixo. Ou seja, ala do PSDB liderada por Aécio Neves vai ter que torcer
muito para que os seus aliados consigam impulsionar as manifestações a uma
dimensão tal que faça com que as Organizações Globo mudem de posição novamente.
Por Daniela Lima
O
vice-presidente do Grupo Globo, João Roberto Marinho, procurou nas últimas
semanas líderes das principais forças políticas do país e integrantes do
governo para expressar preocupação com o agravamento da crise e pedir moderação
para evitar que ela se aprofunde ainda mais.
Um dos proprietários do maior grupo de
comunicação do país, que inclui a maior rede de televisão e o jornal "O
Globo", Marinho encontrou-se com três ministros do governo Dilma Rousseff
(PT) e reuniu-se com o vice-presidente Michel Temer (PMDB) na semana passada.
No dia 5, quando o Senado organizou uma
sessão solene em homenagem aos 50 anos da TV Globo, Marinho se reuniu com o
presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e conversou reservadamente com
as bancadas do PT e do PSDB no Senado.
Segundo um integrante do governo, Marinho
também esteve com o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, principal
auxiliar de Dilma, o chefe da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, e
o ministro do Turismo, Henrique Alves, dono de uma afiliada da TV Globo no Rio
Grande do Norte.
Na conversa com Temer, que ocorreu na última
terça (11), Marinho pediu uma avaliação das chances de o Planalto conseguir
recompor sua base no Congresso e questionou o vice sobre os caminhos que o PMDB
vê para o país.
O empresário esteve ainda com o presidente do
PSDB, senador Aécio Neves (MG), na reunião com a bancada do PSDB, e falou com
outros dois líderes de prestígio na sigla, o governador paulista, Geraldo
Alckmin, e o senador José Serra (SP).
Conforme relatos obtidos pela Folha sobre
essas conversas, Marinho manifestou em todos os encontros preocupação com a
situação econômica, mencionando a queda acentuada do faturamento dos grupos de
mídia e de outros setores da economia.
Outros líderes empresariais transmitiram
mensagens semelhantes nas últimas semanas, mas os apelos de Marinho tiveram
ressonância maior entre os políticos por causa da influência da Globo na
opinião pública. Por meio de sua assessoria, ele disse à Folha que
preferia não comentar o assunto.
O empresário já manifestava preocupação com o
cenário econômico e o risco de descontrole no ambiente político há cerca de
dois meses, quando recebeu o governador Geraldo Alckmin na sede da Globo, no
Rio.
A preocupação dos empresários aumentou após a
decisão do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de
romper com o governo e patrocinar projetos que ameaçam o equilíbrio das
finanças públicas.
Nos últimos dias, porém, o governo começou a
discutir com líderes do PMDB no Senado uma agenda de reformas e ganhou fôlego
para enfrentar os opositores que defendem a saída de Dilma como solução para a
crise.
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Fonte: Folha de São Paulo, versão para assinantes, edição do dia 16/08/2015.
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