Acaba de chegar às livrarias o livro Brizola, do cientista político Clóvis Brigagão e de Trajano Ribeiro (Editora Paz e Terra, 2015). Na justa medida, as suas cerca de 300 páginas veem preencher uma lacuna sobre a pessoa que foi Leonel Brizola na história política brasileira. Prefeito de Porto Alegre, Governador do Rio Grande do Sul, Governador do Rio de Janeiro, Deputado Federal, Brizola, tenha-se concordado ou não com a totalidade das suas posições, foi um homem público de tipo praticamente inexistente no seio da mediocridade política brasileira atual (com raras exceções). Tinha o que poucos têm: coragem - qualidade em falta na "Esquerda" tradicional que aí está (esquecem que ela é uma das condições para a virtude). Liderou a Cadeia da Legalidade para garantir a posse de João Goulart, após a renúncia de Jânio Quadros, e assim evitar o golpe da ruptura constitucional, mas, quando, enfim, o Golpe Civil-Militar assumiu formas em 1964, ele pregou a resistência ao mesmo - não logrando êxito, viu-se obrigado a partir paro exílio. No estrangeiro, não titubeou em articular forças, pensar o Brasil e preparar a volta. Para a Direita e para a Esquerda, nunca fez jogo de esconde-esconde com as suas posições: desde logo, no exílio, assumiu a afiliação social-democrata, acostando-se à Internacional Socialista, com forte apoio do então Primeiro-Ministro português Mário Soares. De volta ao Brasil, após a Lei da Anistia, enfrentou abertamente as Organizações Globo, transformando-se em seu inimigo número 1. Preparou-se durante toda a sua vida para ser Presidente do Brasil, o que não foi possível - esteve próximo disso em 1989, mas, por uma "pingueira" de votos, não foi ao segundo turno com Fernando Collor, tendo este disputado com Lula. Mesmo apoiando o PT e Lula (chegou a ser seu vice numa das disputas presidenciais), via-os com desconfiança, dizendo que iriam capitular diante do poder econômico, poder que ele prometia, uma vez na Presidência, "de serrote em punho, cortar-lhe as pernas". Faleceu em 2004, rompido com o primeiro Governo Lula, a quem havia apoiado, por discordar das suas diretrizes econômicas. A determinada altura, expoentes do lulismo andaram a colocar o quadro na parede da história com a figura do ex-Presidente sempre quase em posição de 'superioridade infinita' em relação a Leonel Brizola. É uma injustiça, e o livro agora publicado pode contribuir para corrigi-la, sobretudo junto às novas gerações, que não viram Brizola em ação. Da minha parte, dos albores da adolescência-juventude, tenho presente algumas 'imagens brizolistas' que são significativas, dentre elas: a foto, que é cada do livro, em que, numa comunidade do Rio de Janeiro, ele salta uma fogueira, para simbolizar que não lhe faltava coragem e disposição para enfrentar os desafios (foto de Aguinaldo Ramos); os debates presidenciais de 1989, em que mantinha uma posição frontal; as palavras, em forma de verso, que o poeta chileno Pablo Neruda lhe endereçou no exílio (em carta), das quais destaco as seguintes:
"Nossos adversários pertencem a um mundo desesperado e só a
violência e a crueldade podem mantê-los.
Porém, a consciência e o coração dos homens não aceitam a
permanência dessas imposições.
Você e as outras personalidades que interpretam o futuro do
Brasil encontrarão o caminho da unidade vitoriosa, da unidade
sem exclusões, que permita o restabelecimento da liberdade e da
dignidade do grande povo irmão."
Enfim, o livro Brizola é uma leitura que vale a pena ser feita. O manancial de informações que ele traz constitui-se numa importante contribuição para entendermos a história do Brasil de agora, sobretudo em tempos de golpismos. Chega em boa hora. Como diz o amigo Romero Venâncio, ajuda!
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