sábado, 18 de julho de 2015

O 'drive' político do momento e Janus

Registra a ciência histórica que, na religião romana da Antiguidade, havia um deus chamado Janus, que é representado por uma cabeça com dois rostos opostos, de maneira a olhar para frente e para trás ao mesmo tempo. Era a divindade protetora dos começos, quer dizer da hora inicial do dia e do primeiro mês do ano - Januarius (janeiro). Dessa forma, abria e fechava todas as coisas e guardava o passado (ano findante) e o futuro (ano novo). Pois bem, vamos ao ponto da situação: metaforicamente falando, Janus teria, neste momento, muito trabalho no Brasil. E sem garantia de que fecharia a "caixa do tempo". O 'drive' político não lhe daria sossego, mesmo Janus tendo dois rostos. Em síntese, a seguir, o ponto da situação. 

Janus: deu origem ao mês de janeiro; como o Brasil
chegará  em dezembro, talvez nem ele soubesse

1) No mesmo dia em que descompassadas abordagens, confundindo desejo com realidade, davam o deputado Eduardo Cunha como liquidado, ele, de uma só tacada, autorizou o funcionamento de quatro CPIs, manobrando e atropelando processos. Duas delas com potencial explosivo para o governo: a do BNDES e dos Fundos de Pensão.  Mesmo assim, cometendo o mesmo equívoco de análise, o 'Diário do Centro Mundo', através de Paulo Nogueira, voltou a dizer o mesmo: que Eduardo Cunha está morto. Deveria ao mesmo levar em conta que um 'dead man walking' ainda não foi sepultado. Afirmar que alguém que arrumou financiamento para mais de cem deputados (sabendo dos seus segredos) e que tem fortes relações com o establishment (também sabendo dos seus segredos) está morto, representa um equívoco primário de anlálise. Os fatos imputados a Cunha são gravíssimos, e ele pode até cair, mas não nessa velocidade que esses descompassados artigos estão a assinalar. 

2) O ex-Presidente Lula foi arrastado ao centro da "tempestade". Agora é oficial: passou a ser investigado pelo Ministério Público Federal por suposto tráfico de influência, em favor, por exemplo, da Odebrecht, em obras que (o complicador!) receberam financiamento do BNDES.  Como ninguém é culpado antes das provas e do julgamento, cabe aguardar o desenrolar do processo. 

3) Sobre o grau de preparo de parlamentares do PT para enfrentar o árduo debate da presente conjuntura: é fraco, muito fraco, com raríssimas exceções, como é o caso do deputado Alessandro Molon. A coisa chegou a um ponto que a ´área de influência petista' está tendo que se acostar, principalmente nas redes sociais, em intervenções de parlamentares de outros partidos, em alguns casos, parlamentares sem convergência histórico-ideológico com o percurso petista, a exemplo do deputado Sílvio Costa do.... PSC pernambucano. Pois é, torcer a cara aos livros, desqualificar o debate teórico e o processo de formação política, em nome do praticismo e da realpolitik, mais cedo ou mais tarde, cobra o seu preço.  




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