Difícil encontrar, nos principais órgãos de imprensa (nacional e internacional), notícias confiáveis sobre a situação grega. Em geral, predomina a parcialidade para desgastar o governo grego. Só garimpando muito, encontra-se informação digna dessa denominação a respeito. Nesse sentido, aí abaixo uma entrevista com o conhecido economista James Galbraith, da Universidade do Texas em Austin (EUA).
Jovem apoiante do governo grego, liderado pelo partido Syriza |
Por Eleonora Lucena (Folha de São Paulo)
Folha — Quais são as possíveis
consequências da atual crise na Grécia?
James
Galbraith — Nesse
momento, as potências europeias estão esmagando Grécia de todas as maneiras
possíveis. Claramente, elas pretendem derrubar o governo eleito da Grécia e
substituí-lo por um governo mais complacente.
Qual deve
ser o voto no próximo domingo? Se você fosse grego, como o sr. votaria?
Eu
certamente votaria "Não". A independência política do país está em
jogo.
A Grécia
deve sair do euro?
Não. Não há
nenhum mecanismo legal que possa forçar a Grécia a sair, e o país não vai
deixar voluntariamente o euro sob este governo.
Quais seriam
as consequências políticas e econômicas de uma saída da Grécia do euro?
As
consequências da política vingativa das potências europeias em relação à Grécia
serão muito graves. Ela vai envenenar toda uma geração contra a Europa e encorajar
partidos anti-europeus. Incluindo, especialmente, a Frente Nacional, na França.
Em qual
dimensão essa crise pode afetar o projeto de Europa?
A liderança
europeia parece inclinada a sacrificar a Europa para o seu próprio projeto de
controle político e financeiro.
Como o
sistema bancário europeu deve reagir a esta crise? Há risco de quebras?
O Banco
Central Europeu pode lidar com o sistema bancário e poderia também ter
protegido os bancos gregos se não se guiasse por forças políticas para
destruí-los.
Há paralelos
entre a situação grega atual e Argentina no início do século 21?
Possivelmente.
Há paralelos
entre a situação atual e a que antecedeu a Primeira Guerra Mundial?
Certamente.
O momento lembra agosto de 1914, quando a Europa tombou em uma guerra destrutiva.
Também se assemelha à "Paz cartaginesa" de 1919, quando o Tratado de
Versalhes impediu a criação de uma solução de paz justa e durável, exigindo o
pagamento de dívidas impagáveis pela Alemanha.
Por que as alegações de que a Grécia
é "preguiçosa" e "perdulária" estão erradas?
São
estereótipos racistas, vis e condenáveis como são todos os estereótipos
racistas.
Qual é o
papel do sistema financeiro na crise grega?
Não há
"crise grega". É uma crise da Europa e uma consequência da crise
financeira global. É claro que o sistema financeiro tem desempenhado um papel
central.
Nas causas
da crise, é correto afirmar que a dívida privada grega se transformou em
pública e que houve fraude de bancos?
A dívida
grega, em grande parte para bancos franceses e alemães, foi assumida em 2010
pelos outros Estados europeus, o BCE e o FMI, a fim de resgatar esses bancos. A
Grécia não obteve nenhum benefício dessa operação. Os bancos, que fizeram
empréstimos terríveis, não tiveram perdas e escaparam.
Diretores
não-europeus do FMI objetaram e previram que poderia ser um desastre.
Com Yanis
Varoufakis [ministro grego], o sr. defendeu um novo modelo de desenvolvimento
para o continente. Como seria este modelo? O sr. tem falado com ele?
Estamos em
comunicação todos os dias. Estou orgulhoso de estar com Yanis Varoufakis que é,
a meu ver, uma das pessoas mais extraordinárias que tive o privilégio de
conhecer.
Qual é a sua
avaliação do desempenho do governo grego e das instituições europeias nesta
crise?
Nenhum
governo lida com tudo perfeitamente. Mas o governo grego tem tido uma posição
honesta. As instituições europeias (e o FMI) têm um comportando que a história
julgará.
Como
explicar a posição da Alemanha no caso? O país não é o maior beneficiário do
euro e não deverá perder muito se o projeto fracassar?
A Alemanha,
a França e os países do Norte europeu são comandados por lideranças com visão
tacanha, mais interessadas em se manter no poder e avançar em suas ambições
políticas.
A Grécia
deveria buscar apoio na Rússia ou na China?
Não há
esperança razoável para afirmar que isso iria funcionar.
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