Você sabe qual é? Bom, vale conhecer o conto infantil de José Saramago, que tem a mesma denominação, e que foi transformado em animação. Aí abaixo, a animação e um testemunho do conto pelas palavras de Lídia Valadares.
Por Lídia Valadares
Às
vezes, cometemos o erro de pensar que precisamos de fazer coisas geniais,
extraordinariamente abrangentes, para salvar o mundo e logo desanimamos ao
pensar que isso está fora do nosso alcance (as inovações são para os gênios!).
Pois eu penso que não é esse o caminho certo. Creio que as grandes obras
resultam do somatório articulado, persistente e sistemático de coisas simples,
de pequenos gestos e atitudes do dia-a-dia, bem à nossa dimensão, à nossa
pequenez, e resultantes da nossa convicção, empenho e criatividade, que cada um
procura desenvolver ao máximo para criar um futuro mais risonho, não apenas o
seu, mas o de uma sociedade na qual está inserido.
E, nesta linha de pensamento, surgiu na
vitrina da minha memória um livro que já li há algum tempo, mas que fui buscar
à estante para reler. Bom sinal, pois muitos livros se lêem, mas poucos se
relêem, na minha opinião. Eu reli: “A Maior Flor do Mundo”, de José Saramago. E confesso que o achei ainda mais
delicioso, desta vez. Talvez porque já conhecia a história e fiquei mais
disponível e atenta a outros pormenores. Talvez porque tive hipótese de
estabelecer novos diálogos com o texto, de preencher mais espaços em branco…
Ou, talvez, porque, como diz André Maurois, “A leitura de um bom livro é um
diálogo incessante: o livro fala e a alma responde.” E a minha alma respondia a
cada passagem, a cada palavra, a cada espaço em branco. Achei o livro fantástico!
Começa,
assim, o autor: “As histórias para crianças devem ser escritas com palavras
muito simples, porque as crianças, sendo pequenas, sabem poucas palavras e não
gostam de usá-las complicadas. Quem me dera saber escrever essas histórias, mas
nunca fui capaz de aprender e tenho pena. Além de ser preciso escolher as
palavras, faz falta um certo jeito de contar…”. Pois eu acho que Saramago
escolheu, com mestria, as palavras e deu provas de um jeito fascinante de
contar essas histórias.
Fala de um
menino que salta de “árvore em árvore como um pintassilgo” e se dedica “à
vagarosa brincadeira que o tempo alto, longo e profundo da infância a todos nós
permitiu…” E eu habitei, por momentos, a minha infância…
E, nesta
inebriante felicidade e liberdade, o menino andou, andou, por caminhos sem fim,
até que chegou ao cimo de uma imensa encosta, onde só havia uma flor. “Mas tão
caída, tão murcha, que o menino se achegou de cansado.”
Bem, o que se
passa daqui para a frente eu não vou contar, até porque perderia toda a beleza,
só lendo… O autor passa da prosa à prosa poética, de novo volta à prosa, mas
cada palavra, cada expressão desperta múltiplas sensações, emoções, e dá provas
de uma singular arte de escrever. A história é muito curta, mas a lição é
GRANDE.
E termina
desta forma: “Quem sabe se um dia virei a ler outra vez esta história, escrita
por ti que me lês, mas muito mais bonita?...”
Não
resisto em citar o que está na contra-capa do livro e que achei provocatório
(bem ao jeito de Saramago), mas fantástico: “E se as histórias para crianças
passassem a ser de leitura obrigatória para os adultos? Seriam eles capazes de
aprender realmente o que há tanto tempo têm andado a ensinar?”
Mas,
afinal, o que tem a ver este livro com o assunto inicial? Por que razão
apareceu ele no fio da meu pensamento?
Leiam-no
e descobrirão facilmente porquê.
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Fonte: http://dialogostextuais.blogs.sapo.pt/11205.html
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