Certa feita o ex-Presidente Lula definiu-se como ‘uma
metamorfose ambulante’. Com se sabe, a expressão é do saudoso Raul Seixas, pelo
que, logo, alguém fez graça indagando se o líder petista também era ‘um maluco
beleza’. Seja como for, não se pode dizer que ultimamente o ex-Presidente -
vendo pairar sobre si a espada de Dâmocles – não tem sido uma metamorfose da
oscilação. Notas do ‘drive’ político do momento:
1) Em espaços de tempo quase que imediatos, o
ex-Presidente Lula passou da pregação à retomada da peleja PT x PSDB à busca de
um entendimento com os tucanos. Tudo isso, claro, de forma sigilosa. Deve ter
percebido ou sido informado que, ao fim e ao cabo, a sobrevivência do Governo
Dilma e, de determinado modo, dele
próprio depende da posição do PSDB. Com o senador José Serra o encontro já
ocorreu. Sinalizou que também deseja conversar com o ex-Presidente Fernando
Henrique Cardoso, que respondeu com educação e cortesia tripudiadoras:
mostrou-se disponível, mas, primeiro, disse que iria tirar umas férias. E
partiu. Praticamente ao mesmo tempo, o ex-petista Eduardo Jorge, pessoa
bastante próxima aos tucanos ‘cabeças brancas’, escreveu um artigo expondo as
condições para um “acordo de salvação” do Governo Dilma - na ciência da
política, ver apenas coincidências é coisa para tontos. Não seria a primeira vez que FHC abonaria o
ex-Presidente Lula e estariam juntos. Fez isso junto a instituições
internacionais no início do primeiro governo petista (e não recebeu gratidão,
diga-se), esteve nas discussões iniciais que resultaram na fundação do PT,
apoiou o candidato Lula no segundo turno em 1989, recebeu-o em Palácio, quando
Presidente, para conversações e jantares (sob sigilo, solicitado pelo líder
petista). Para já, as tratativas para
esse “acordo de salvação”, buscadas pelo ex-Presidente Lula, o que demonstram é
o grau de preocupação que passou a lhe fazer companhia.
2) Há, contudo,
um “descompasso” em relação às referidas tratativas: o mundo paralelo em
que muitos petistas, diante da gravidade da crise política, passaram a habitar.
Neste mundo, o ex-Presidente está prestes a se tornar Secretário-geral da ONU,
a ganhar o Prêmio Nobel da Paz, a exercer novamente a Presidência da República,
além de ser o timoneiro que criou tudo de bom que existe no país, e se ilicitude
existe, a resposta está na ponta da língua: ‘sempre foi assim, nos outros
governos também existia’. E o inimigo é
o ‘PSDB direitista e neoliberal’ de FHC. A situação nivela-se à coisa de
maluco, e não é beleza. Que se tenha prometido chegar ao Governo para fazer
diferente dos outros, já não importa; que os inimigos e a direita estejam
oficialmente na coalizão governista, não se enxerga. A insistência nas miragens
desse mundo paralelo tem tudo para apressar o desastre. Ensina a história que,
na arte da política, fechar os olhos ao que o mundo real é significa optar por
ser tragado por ele. Mas há quem preferia a negação permanente do ‘princípio da
realidade’. Aí, francamente, convenhamos, o caso é mesmo psicanalítico.
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