domingo, 26 de julho de 2015

O ‘drive político’ do momento: metamorfose ambulante e mundo paralelo

Certa feita o ex-Presidente Lula definiu-se como ‘uma metamorfose ambulante’. Com se sabe, a expressão é do saudoso Raul Seixas, pelo que, logo, alguém fez graça indagando se o líder petista também era ‘um maluco beleza’. Seja como for, não se pode dizer que ultimamente o ex-Presidente - vendo pairar sobre si a espada de Dâmocles – não tem sido uma metamorfose da oscilação. Notas do ‘drive’ político do momento:

1) Em espaços de tempo quase que imediatos, o ex-Presidente Lula passou da pregação à retomada da peleja PT x PSDB à busca de um entendimento com os tucanos. Tudo isso, claro, de forma sigilosa. Deve ter percebido ou sido informado que, ao fim e ao cabo, a sobrevivência do Governo Dilma  e, de determinado modo, dele próprio depende da posição do PSDB. Com o senador José Serra o encontro já ocorreu. Sinalizou que também deseja conversar com o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, que respondeu com educação e cortesia tripudiadoras: mostrou-se disponível, mas, primeiro, disse que iria tirar umas férias. E partiu. Praticamente ao mesmo tempo, o ex-petista Eduardo Jorge, pessoa bastante próxima aos tucanos ‘cabeças brancas’, escreveu um artigo expondo as condições para um “acordo de salvação” do Governo Dilma - na ciência da política, ver apenas coincidências é coisa para tontos.  Não seria a primeira vez que FHC abonaria o ex-Presidente Lula e estariam juntos. Fez isso junto a instituições internacionais no início do primeiro governo petista (e não recebeu gratidão, diga-se), esteve nas discussões iniciais que resultaram na fundação do PT, apoiou o candidato Lula no segundo turno em 1989, recebeu-o em Palácio, quando Presidente, para conversações e jantares (sob sigilo, solicitado pelo líder petista).  Para já, as tratativas para esse “acordo de salvação”, buscadas pelo ex-Presidente Lula, o que demonstram é o grau de preocupação que passou a lhe fazer companhia.

2) Há, contudo,  um “descompasso” em relação às referidas tratativas: o mundo paralelo em que muitos petistas, diante da gravidade da crise política, passaram a habitar. Neste mundo, o ex-Presidente está prestes a se tornar Secretário-geral da ONU, a ganhar o Prêmio Nobel da Paz, a exercer novamente a Presidência da República, além de ser o timoneiro que criou tudo de bom que existe no país, e se ilicitude existe, a resposta está na ponta da língua: ‘sempre foi assim, nos outros governos também existia’.  E o inimigo é o ‘PSDB direitista e neoliberal’ de FHC. A situação nivela-se à coisa de maluco, e não é beleza. Que se tenha prometido chegar ao Governo para fazer diferente dos outros, já não importa; que os inimigos e a direita estejam oficialmente na coalizão governista, não se enxerga. A insistência nas miragens desse mundo paralelo tem tudo para apressar o desastre. Ensina a história que, na arte da política, fechar os olhos ao que o mundo real é significa optar por ser tragado por ele. Mas há quem preferia a negação permanente do ‘princípio da realidade’. Aí, francamente, convenhamos, o caso é mesmo psicanalítico.



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