sexta-feira, 24 de julho de 2015

'Dilma e o nó de Brasília' ou o esboço de um acordo de rendição

Preste atenção no que está escrito aí baixo, por Eduardo Jorge, em artigo publicado na Folha de São Paulo. Ex-petista, ex-candidato à Presidência pelo PV e bastante próximo do PSDB, designadamente do senador José Serra ou da 'ala' dos 'cabeças brancas', é provável que ele não esteja a falar apenas por si próprio. O texto é intitulado 'Dilma e o nó de Brasília'; o restante da denominação (ou o esboço de um acordo de rendição) é de minha responsabilidade - voltarei ao assunto para dizer o porquê da mesma. 

Por Eduardo Jorge 

Quando Alexandre desembarcou na Frígia, atual Anatólia, na Turquia, vindo da Grécia para sua jornada na Ásia, deparou-se com a lenda do Nó Górdio. Há mais de 300 anos o rei Górdio e seu filho Midas haviam arrumado um terrível, enorme e indestrutível nó. Quem o desfizesse teria as portas abertas para a conquista da Ásia Menor. Alexandre o cortou com sua espada e foi adiante com o carisma da lenda.
Nossa presidenta Dilma Rousseff, assombrada permanentemente por sombrias investigações que ninguém pode prever quando acabam e onde vão parar, observa perplexa um tremendo Nó Górdio instalado em pleno Palácio do Planalto. O Nó de Brasília! O Nó do Brasil! Se não o decifra, não governa.
O nó foi criado pelos próprios governos petistas anteriores. Foi concebido pela insensata campanha presidencial de 2014, sem programa escrito nem registrado, e com as promessas feitas em debates e na propaganda eleitoral, que foram abandonadas logo no dia seguinte à vitória. O país prometido não existia.
Sozinha, isolada pelo seu próprio partido e por aliados, Dilma está acorrentada às regras inflexíveis e implacáveis do mandato fixo de quatro anos do presidencialismo.
O que fazer, então? Uma ideia para tirar o país da mais cruel paralisia, da depressão e do descrédito na nossa capacidade de reagir começa a circular. A coruja da consciência já saiu a voar, pois a ideia começa a surgir espontânea e simultaneamente em vários pontos.
Estive no lançamento da Frente pelo Parlamentarismo, em 16 de julho, na Câmara dos Deputados, onde conversamos sobre essa possibilidade. Nas redes sociais, uma proposta detalhada de diálogo com todas as forças políticas e com a presidenta sobre o tema, recebeu uma avalanche de comentários.
Houve muita pancadaria entre aqueles que defendem impeachment imediato e os petistas que não sabem que o comando do partido daria graças a Deus por sair da enrascada em que se meteu. Mas houve também muitos comentários de apoio e de esperança na proposta.
Qual é a ideia? Primeiro, não politizar ou constranger as atuais investigações e possíveis decisões da Justiça. Elas têm ritmo diferente da política e têm que garantir aos acusados da Operação Lava Jato ampla possibilidade de defesa.
Segundo, diante da enormidade da crise, a presidenta Dilma tomaria a iniciativa de se desfiliar do PT, mantendo-se sem filiação partidária até 2018 com o compromisso de neutralidade diante das disputas das eleições de 2016 e de 2018.
Terceiro, a presidenta proporia a formação de um governo de crise semelhante ao que fez o presidente Itamar Franco, mas desta vez tendo ela própria à frente, e não o vice-presidente, como naquele caso.
Apresentaria um programa mínimo de emergência. Convidaria os partidos interessados em apoiar o programa a dar sugestões e contribuir nos aspectos sociais, econômicos, ambientais e políticos mais urgentes. Sairia imediatamente deste cipoal de 38 ministérios para um conselho operacional de 15 pastas. Sugeriria um ministro-coordenador.
Os partidos interessados em ajudar deverão indicar os seus quadros, de preferência técnicos reconhecidos e com tradição ética. Sugiro um início de debate sério e a longo prazo sobre a adoção do parlamentarismo no Brasil em futuras gestões.
Voltando do lançamento da já mencionada Frente Parlamentarista, em Brasília, encontrei duas jovens eleitoras minhas. São sobreviventes das três ondas de voto útil que se abateram sobre nós nas vésperas do primeiro turno de 2014.
Uma das moças chegava ao Brasil, a outra ia embora. É desejo delas, e de muitos outros jovens que continuam a interagir comigo pelas ruas e pelas redes sociais, que o país tome uma ação política capaz de romper com esse impasse asfixiante. É isso o que me anima a falar de uma saída como essa.
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Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/227135-dilma-e-o-no-de-brasilia.shtml


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