Preste atenção no que está escrito aí baixo, por Eduardo Jorge, em artigo publicado na Folha de São Paulo. Ex-petista, ex-candidato à Presidência pelo PV e bastante próximo do PSDB, designadamente do senador José Serra ou da 'ala' dos 'cabeças brancas', é provável que ele não esteja a falar apenas por si próprio. O texto é intitulado 'Dilma e o nó de Brasília'; o restante da denominação (ou o esboço de um acordo de rendição) é de minha responsabilidade - voltarei ao assunto para dizer o porquê da mesma.
Por Eduardo Jorge
Quando
Alexandre desembarcou na Frígia, atual Anatólia, na Turquia, vindo da Grécia
para sua jornada na Ásia, deparou-se com a lenda do Nó Górdio. Há mais de 300
anos o rei Górdio e seu filho Midas haviam arrumado um terrível, enorme e
indestrutível nó. Quem o desfizesse teria as portas abertas para a conquista da
Ásia Menor. Alexandre o cortou com sua espada e foi adiante com o carisma da
lenda.
Nossa presidenta Dilma Rousseff, assombrada
permanentemente por sombrias investigações que ninguém pode prever quando
acabam e onde vão parar, observa perplexa um tremendo Nó Górdio instalado em
pleno Palácio do Planalto. O Nó de Brasília! O Nó do Brasil! Se não o decifra,
não governa.
O nó foi criado pelos próprios governos
petistas anteriores. Foi concebido pela insensata campanha presidencial de
2014, sem programa escrito nem registrado, e com as promessas feitas em debates
e na propaganda eleitoral, que foram abandonadas logo no dia seguinte à
vitória. O país prometido não existia.
Sozinha, isolada pelo seu próprio partido e
por aliados, Dilma está acorrentada às regras inflexíveis e implacáveis do
mandato fixo de quatro anos do presidencialismo.
O que fazer, então? Uma ideia para tirar o
país da mais cruel paralisia, da depressão e do descrédito na nossa capacidade
de reagir começa a circular. A coruja da consciência já saiu a voar, pois a
ideia começa a surgir espontânea e simultaneamente em vários pontos.
Estive no lançamento da Frente pelo
Parlamentarismo, em 16 de julho, na Câmara dos Deputados, onde conversamos
sobre essa possibilidade. Nas redes sociais, uma proposta detalhada de diálogo
com todas as forças políticas e com a presidenta sobre o tema, recebeu uma
avalanche de comentários.
Houve muita pancadaria entre aqueles que
defendem impeachment imediato e os petistas que não sabem que o comando do
partido daria graças a Deus por sair da enrascada em que se meteu. Mas houve
também muitos comentários de apoio e de esperança na proposta.
Qual é a ideia? Primeiro, não politizar ou
constranger as atuais investigações e possíveis decisões da Justiça. Elas têm
ritmo diferente da política e têm que garantir aos acusados da Operação Lava
Jato ampla possibilidade de defesa.
Segundo, diante da enormidade da crise, a
presidenta Dilma tomaria a iniciativa de se desfiliar do PT, mantendo-se sem
filiação partidária até 2018 com o compromisso de neutralidade diante das
disputas das eleições de 2016 e de 2018.
Terceiro, a presidenta proporia a formação de
um governo de crise semelhante ao que fez o presidente Itamar Franco, mas desta
vez tendo ela própria à frente, e não o vice-presidente, como naquele caso.
Apresentaria um programa mínimo de
emergência. Convidaria os partidos interessados em apoiar o programa a dar
sugestões e contribuir nos aspectos sociais, econômicos, ambientais e políticos
mais urgentes. Sairia imediatamente deste cipoal de 38 ministérios para um
conselho operacional de 15 pastas. Sugeriria um ministro-coordenador.
Os partidos interessados em ajudar deverão
indicar os seus quadros, de preferência técnicos reconhecidos e com tradição
ética. Sugiro um início de debate sério e a longo prazo sobre a adoção do
parlamentarismo no Brasil em futuras gestões.
Voltando do lançamento da já mencionada
Frente Parlamentarista, em Brasília, encontrei duas jovens eleitoras minhas.
São sobreviventes das três ondas de voto útil que se abateram sobre nós nas
vésperas do primeiro turno de 2014.
Uma das moças chegava ao Brasil, a outra ia
embora. É desejo delas, e de muitos outros jovens que continuam a interagir
comigo pelas ruas e pelas redes sociais, que o país tome uma ação política
capaz de romper com esse impasse asfixiante. É isso o que me anima a falar de
uma saída como essa.
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Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/227135-dilma-e-o-no-de-brasilia.shtml
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