Descontada a delinquência da Revista Veja na cobertura dos escândalos que assola o país (acompanhada da indignação seletiva de muitos) e a desfaçatez dos que - invocando os propósitos de uma suposta "causa" - a tudo justificam ou dizem que não se passou nada, sobra a realidade. E esta, como combustível da história, não faz concessões a discursos que não passam de espumas de palavras. Pois bem, os novos rumos das investigações sobre os casos de corrupção bate às portas do setor eletrônico. Ao mesmo tempo que isso faz aumentar a tensão no Governo e no PT, a chegada das investigações aí representa um cala-boca nos defensores da volta da ditadura, que clamam por uma intervenção militar. A prisão do Presidente da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro, sob acusação de recebimento de uma bolada como propina, é o ato que consubstancia esse cala-boca. Ele é vice-almirante da Marinha. A ideia segundo a qual não há corrupção em governos militares oscila entre o analfabetismo histórico e a mentira a serviço da manipulação política com objetivos golpistas. Segue artigo de periodista da Folha a respeito.
Por Bernardo Mello Franco
A prisão do presidente da Eletronuclear
mostra que a Lava Jato ultrapassou as fronteiras da Petrobras. A investigação
chegou com força ao setor elétrico, que concentra alguns dos maiores
investimentos do governo federal. Ao que tudo indica, o petrolão era só o
começo.
O enredo da nova
série, já chamada de eletrolão, parece reprise da anterior. O governo repartia
as estatais entre os partidos aliados. As estatais repartiam os contratos entre
as empreiteiras. As empreiteiras repartiam a propina entre os dirigentes das estatais
e seus padrinhos em Brasília.
O último elo da
partilha são os políticos, que ainda não apareceram na história. "É
possível que no avanço das investigações a gente chegue a isso", disse o
delegado Igor Romário de Paula. Para bons entendedores, o recado não poderia
ser mais claro.
No início do governo
Lula, o setor elétrico era propriedade do PT. Dilma Rousseff, ainda pouco
conhecida, comandava o Ministério de Minas e Energia. Depois do mensalão, a
pasta passou ao controle do PMDB. Foi chefiada por figuras como Silas Rondeau e
Edison Lobão, ambos aliados do ex-presidente José Sarney.
Rondeau caiu ao ser
citado na Operação Navalha. Lobão, que voltou ao Senado, é investigado na Lava
Jato. Estava no ministério quando a Eletronuclear licitou as obras de Angra 3,
novo foco da investigação.
Segundo o delator
Dalton Avancini, a partilha beneficiou sete empreiteiras. "Já havia um
acerto entre os consórcios com a prévia definição de quem ganharia cada
pacote", contou. Depois, as empresa pagariam propina a dirigentes da
estatal e ao PMDB.
Apesar do enredo
repetido, o caso da Eletronuclear traz uma novidade. O presidente da estatal,
Othon Luiz Pinheiro da Silva, é vice-almirante reformado. Sua prisão, sob
suspeita de embolsar R$ 4,5 milhões, serve de alerta a quem pensa que uma
"intervenção militar" salvaria o país da corrupção. Em tempo: na
ditadura, nunca haveria espaço para uma operação como a Lava Jato.
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Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/bernardomellofranco/2015/07/1661632-o-petrolao-era-so-o-comeco.shtml
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