quinta-feira, 30 de julho de 2015

'Novos rumos da corrupção' e o cala-boca nos defensores de intervenção militar

Descontada a delinquência da Revista Veja na cobertura dos escândalos que assola o país (acompanhada da indignação seletiva de muitos) e a desfaçatez dos que - invocando os propósitos de uma suposta "causa" - a tudo justificam ou dizem que não se passou nada, sobra a realidade. E esta, como combustível da história, não faz concessões a discursos que não passam de espumas de palavras. Pois bem, os novos rumos das investigações sobre os casos de corrupção bate às portas do setor eletrônico. Ao mesmo tempo que isso faz aumentar a tensão no Governo e no PT, a chegada das investigações aí representa um cala-boca nos defensores da volta da ditadura, que clamam por uma intervenção militar. A prisão do Presidente da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro, sob acusação de recebimento de uma bolada como propina, é o ato que consubstancia esse cala-boca. Ele é vice-almirante da Marinha. A ideia segundo a qual não há corrupção em governos militares oscila entre o analfabetismo histórico  e a mentira a serviço da manipulação política com objetivos golpistas. Segue artigo de periodista da Folha a respeito. 

Por Bernardo Mello Franco 

A prisão do presidente da Eletronuclear mostra que a Lava Jato ultrapassou as fronteiras da Petrobras. A investigação chegou com força ao setor elétrico, que concentra alguns dos maiores investimentos do governo federal. Ao que tudo indica, o petrolão era só o começo.
O enredo da nova série, já chamada de eletrolão, parece reprise da anterior. O governo repartia as estatais entre os partidos aliados. As estatais repartiam os contratos entre as empreiteiras. As empreiteiras repartiam a propina entre os dirigentes das estatais e seus padrinhos em Brasília.
O último elo da partilha são os políticos, que ainda não apareceram na história. "É possível que no avanço das investigações a gente chegue a isso", disse o delegado Igor Romário de Paula. Para bons entendedores, o recado não poderia ser mais claro.
No início do governo Lula, o setor elétrico era propriedade do PT. Dilma Rousseff, ainda pouco conhecida, comandava o Ministério de Minas e Energia. Depois do mensalão, a pasta passou ao controle do PMDB. Foi chefiada por figuras como Silas Rondeau e Edison Lobão, ambos aliados do ex-presidente José Sarney.
Rondeau caiu ao ser citado na Operação Navalha. Lobão, que voltou ao Senado, é investigado na Lava Jato. Estava no ministério quando a Eletronuclear licitou as obras de Angra 3, novo foco da investigação.
Segundo o delator Dalton Avancini, a partilha beneficiou sete empreiteiras. "Já havia um acerto entre os consórcios com a prévia definição de quem ganharia cada pacote", contou. Depois, as empresa pagariam propina a dirigentes da estatal e ao PMDB.
Apesar do enredo repetido, o caso da Eletronuclear traz uma novidade. O presidente da estatal, Othon Luiz Pinheiro da Silva, é vice-almirante reformado. Sua prisão, sob suspeita de embolsar R$ 4,5 milhões, serve de alerta a quem pensa que uma "intervenção militar" salvaria o país da corrupção. Em tempo: na ditadura, nunca haveria espaço para uma operação como a Lava Jato. 
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Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/bernardomellofranco/2015/07/1661632-o-petrolao-era-so-o-comeco.shtml

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