É um enigma essa de Eça de Queirós. Conto com 'raiz histórica', em adornos aristocráticos, sobre um morto, o que está em causa no mesmo é coisa para uma cavaqueira alongada. Dessas de tertúlias intermináveis. Vai no português lusitano, que, por vezes, faz confusão na escrita de quem transita pelos dois, falados dos dois lados do Atlântico (o Acordo Otográfico tem sido uma ficção).
Eça com a esposa |
Por Eça de Querós
Há muitos, muitos anos vivia um homem chamado D. Rui de Cardenas. Ele ia
todos os dias à Igreja de Nossa Senhora do Pilar. D. Leonor, mulher de D.
Afonso de Lara, um homem riquíssimo, ia todos os Domingos à missa. D. Rui, um
dia viu-a rezar e apaixonou-se por ela.
Todos os domingos, D. Leonor ia à missa acompanhada por uma aia, e
quando a aia se apercebeu que D. Rui estava apaixonado por D. Leonor, foi logo
dizer ao seu marido.
D. Afonso de Lara quando soube do que se estava a passar mandou os
empregados prepararem as malas e os cavalos, para no dia seguinte partirem.
Foram para uma casa do campo.
D. Leonor, foi obrigada pelo seu marido a escrever uma carta destinada a
D. Rui, a dizer várias mentiras e a pedir-lhe para ele lá ir à noite. Um
empregado de D. Afonso foi entregar a carta ao destinatário, e ele aceitou
ir.
D. Rui foi pelo caminho mais curto, pelo Cerro dos Enforcados. Quando
chegou ao Cerro dos Enforcados viu quatro enforcados e ao sair de lá ouviu um
deles a chamá-lo e pediu-lhe que lhe corta-se a corda. Ele fez o pedido. O
enforcado foi com ele a Cabril (à casa de D. Leonor).
Ao chegar lá o enforcado subiu e transformou-se numa pessoa igual a D.
Rui. Quando chegou ao cimo das escadas, alguém o tentou matar, espetando uma
adaga no peito, e este caiu no chão.
D. Rui depois percebeu que aquele não era um encontro de amor, mas sim
de morte.
No caminho de regresso, o enforcado pediu a D. Rui que o pendura-se de
novo na forca. Ele assim o fez.
No dia seguinte, D. Afonso foi à terra de D. Rui ver se havia novidades
se ele tinha morrido ou não, até que deu de caras com
ele.
Depois, D. Afonso soube que quem ele matou foi um morto, e ficou cheio
de vergonha.
Algum tempo depois a família de D. Afonso de Lara encontrou-o morto no
jardim.
A sua mulher depois do que acontecera foi morar para Segóvia (onde
morava antigamente). E acabou por casar com D. Rui de Cardenas, no ano de
1475.
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