Emil Cioran
(in Nos Cumes do Desespero)
Se
as doenças têm uma missão filosófica neste mundo, ela não pode ser outra senão
demonstrar quão ilusória é a sensação da eternidade da vida e quão frágil é a
ilusão de uma indefinição e de um triunfo da vida. Pois, na doença, a morte
está sempre presente na vida. Os estados genuinamente doentios nos conectam a
realidades metafísicas que um homem normal e saudável é incapaz de entender. É
evidente que, entre as doenças, há uma hierarquia conforme sua capacidade de
revelação. Nem todas apresentam, com a mesma duração e intensidade, a
experiência da imanência da morte na vida e nem todas se manifestam
em formas idênticas de agonia. Nos estados normais e não reveladores, a morte é
considerada vinda de fora e completamente externa à vida. A mesma sensação têm
os jovens ao falar da morte. Mas quando a doença os golpeia em pleno elã, todas
as ilusões e seduções da juventude desaparecem. Toda doença é heroísmo;
mas um heroísmo de resistência, não de conquista. O heroísmo na doença se
manifesta por resistência nos bastiões perdidos da vida.
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