quinta-feira, 5 de novembro de 2015

'Vitalidade da doença': bastiões perdidos da vida

Emil Cioran 
(in Nos Cumes do Desespero

Se as doenças têm uma missão filosófica neste mundo, ela não pode ser outra senão demonstrar quão ilusória é a sensação da eternidade da vida e quão frágil é a ilusão de uma indefinição e de um triunfo da vida. Pois, na doença, a morte está sempre presente na vida. Os estados genuinamente doentios nos conectam a realidades metafísicas que um homem normal e saudável é incapaz de entender. É evidente que, entre as doenças, há uma hierarquia conforme sua capacidade de revelação. Nem todas apresentam, com a mesma duração e intensidade, a experiência da imanência da morte na vida e nem todas se manifestam em formas idênticas de agonia. Nos estados normais e não reveladores, a morte é considerada vinda de fora e completamente externa à vida. A mesma sensação têm os jovens ao falar da morte. Mas quando a doença os golpeia em pleno elã, todas as ilusões e seduções da juventude desaparecem. Toda doença é heroísmo; mas um heroísmo de resistência, não de conquista. O heroísmo na doença se manifesta por resistência nos bastiões perdidos da vida. 

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