Os apreciadores da ciência histórica sabem das 'outras histórias'. Chamava-se ela Sarah Baartman, sul africana, e em princípio trabalhava numa fazenda de holandeses, até ser conduzida para Londres (em 1810) como uma "selvagem" que havia sido capturada em África, a fim de ser exibida como uma espécie de "aberração" em relação ao que era/é o protótipo ocidental e seus valores. Baartman era uma mulher de 'corpo amplo', com nádegas que faziam volume. Apresentada como coisa exótica na Europa, era exibida em público a troco de pagamento, sendo o seu corpo sistematicamente apalpado, além de "outros afins de natureza similar". Comprada por um domador de animais francês, em Paris, foi exposta durante noites e noites inteiras, e para multidões, com violações das mais diversas. Faleceu em 1815. Para não ter de pagar o enterro, o domador de animais vendeu o corpo ao Musée de l'Homme, onde foi empalmada como animal e exposta nua. Com os anos, o corpo degradou-se e o museu guardou como restos as partes que foram avaliadas como 'mais interessantes', como esqueleto, órgãos genitais e cérebro. Com a chegada de Nelson Madela à Presidência da República da África do Sul, o governo requereu às autoridades francesas a devolução dos restos mortais de Sarah Baartman. No entanto, houve resistência. Em 2002, a questão foi vencida, e os restos mortais foram devolvidos à terra natal dela. Com o 'caso Sarah Baartman', erigiu-se, em significativa medida, o imaginário da hiperssexualização das mulheres negras/mulatas. O filme 'Vênus Negra', embora reproduza determinados estereótipos, recupera um pouco a história dessa mulher, e ao mesmo tempo evidencia, com o recurso da história, um dos calcanhares de Aquiles da ideia de civilidade ocidental. É um filme pertinente, sobretudo nos dias atuais, quando se deseja pintar um falso quadro dos orientais como povos da barbárie permanente. Aí abaixo o trailer do filme.
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