quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Mulheres - para a sociedade refletir

Recentemente, presenciamos uma reação inteiramente descabida em relação ao tema da redação do ENEM (sobre 'a violência contra a mulher').  Os de sempre saíram a terreiro esgrimindo armas, onde até Simone de Beauvoir foi repulsivamente atacada. Não muita surpresa. O modus oeprandi da extrema direita em ação, com o apoio hipócrita dos seus acólitos. No parlamento, pastores espumaram palavras contra a 'ameça à família', sob o aplauso dos moralistas sem moral (os discípulos do casamento tradicional que, plenas sessões legislativas, se divertem vendo vídeos pornôs). Finalizaram mandando todos os "hereges" às profundezas do inverno. E, juntos, parlamentares da 'Bancada da Bola, da Bíblia e da Bala' deram a bênção final.  Num dos parlamentos mais atrasados da história brasileira, "suas excelências", ao invés de verem no tema abordado na redação do ENEM uma questão de direitos humanos, preferiram enxergar a ação de "satanás", o "diabo atacando a família". Cada um escolhe o circo que deseja e com o qual mais se identifica.  A questão é que existe a realidade, e a sua análise racional deve mostrar como e o que ela é. Foi isso que fez pesquisa recente mostrando o aumento da violência contra a mulher, publicada sob o selo da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (FLACSO), e demonstrando assim quanto tinha razão de ser o tema da redação do ENEM. Está integralmente disponível aqui: http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2015/MapaViolencia_2015_mulheres.pdf. Aí abaixo um rápido realce no estudo.


Por Jefferson Moura

Organizado pela Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres (ONU), pela Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS), pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres e pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), a pesquisa realizada por Julio Jacobo Waiselfisz constatou aquilo que estamos presenciando em nosso cotidiano e que se reflete no avanço da pauta conservadora nos parlamentos brasileiros: a violência letal contra as mulheres aumentou!
Dos 4.762 assassinatos de mulheres (feminicídio), 2.394 foram cometidos por familiares. Destes, 1.583 foram executados pelos maridos ou ex-maridos. Roraima, Espírito Santo, Goiás, Alagoas e Acre são, proporcionalmente, os estados mais perigosos para as mulheres.
A Lei Maria da Penha, aprovada em 2006, não conseguiu conter a escalada do feminicídio entre mulheres negras, mas a taxa caiu entre mulheres brancas e em algumas regiões do país. De cada 5 mulheres assassinadas, 3 são negras.

No geral, o aumento foi de 12,5% de 2006 para 2013, o que demonstra que o machismo é um problema estrutural e que as políticas públicas que temos são insuficientes com relação à segurança das mulheres. Cabe ampliação do arcabouço jurídico, desburocratização de procedimentos e ações de segurança pública voltadas para as mulheres, maior apoio dos programas de proteção a testemunhas e forte investimento em mudanças culturais. A educação deveria cumprir um papel destacado nisso, mas, infelizmente, o atual Congresso só propõe recuos graves.


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