Por José de Souza Martins
Há 15
anos, lancei, pela Edusp, meu livro Reforma Agrária, o Impossível
Diálogo. Para debater o tema, fui convidado a participar, naquela
época, do programa Roda Viva, da TV Cultura. Vários dos debatedores eram e
continuam sendo ativistas do PT, muito identificados com o MST e alguns com a
CPT – Comissão Pastoral da Terra. Na época, era presidente da República o
Professor Fernando Henrique Cardoso e ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul
Jungmann. Só há poucos dias, consegui o link do programa (https://youtu.be/W-54wmBQysw). O governo FHC terminou em 2002, sucedido democraticamente pelo
PT. Treze anos se passaram de governos do PT, em que o partido mergulhou na
defesa dos interesses do agronegócio, e com ele se identificou carnalmente,
principal inimigo da reforma agrária. Secundarizou o MST e descartou a
CPT e a Igreja. Não obstante, nem o MST nem a CPT, nesse longo tempo de seu
partido no poder, foram claros a respeito de tão grave anomalia. Não dedicaram
a essa anomalia o mesmo ímpeto e o mesmo antagonismo que demonstraram naquele
debate. Quando, justamente, esta é a hora de rever equívocos e de olhar no
espelho da história. Onde estão os arrogantes questionamentos daquele dia
distante?
Revendo o
debate, depois de tanto tempo e da enorme virada política que houve no país,
não posso deixar de me sentir recompensado pelo teor de minha análise, que
mantenho, e de minha coerência na postura crítica quanto à
complicada questão agrária e quanto à questão da relação entre teoria e práxis
e da mais complicada, ainda, questão da incompatibilidade entre ciência e
militância. Os que confundiram ideologia com ciência privaram CPT e MST de
referências fundamentais para transformar o rico elenco de sua prática num rico
elenco de interpretações que os teria transformado em personagens
políticos decisivos de um Brasil renovado. Preferiram o silêncio da
cumplicidade, satanizaram os críticos, perderam o brilho e perderam o
protagonismo.
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