domingo, 15 de novembro de 2015

Ideologia, ciência e reforma agrária

Por José de Souza Martins 

Há 15 anos, lancei, pela Edusp, meu livro Reforma Agrária, o Impossível Diálogo. Para debater o tema, fui convidado a participar, naquela época, do programa Roda Viva, da TV Cultura. Vários dos debatedores eram e continuam sendo ativistas do PT, muito identificados com o MST e alguns com a CPT – Comissão Pastoral da Terra. Na época, era presidente da República o Professor Fernando Henrique Cardoso e ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann. Só há poucos dias, consegui o link do programa (https://youtu.be/W-54wmBQysw).  O governo FHC terminou em 2002, sucedido democraticamente pelo PT. Treze anos se passaram de governos do PT, em que o partido mergulhou na defesa dos interesses do agronegócio, e com ele se identificou carnalmente, principal inimigo da reforma agrária. Secundarizou o MST e descartou  a CPT e a Igreja. Não obstante, nem o MST nem a CPT, nesse longo tempo de seu partido no poder, foram claros a respeito de tão grave anomalia. Não dedicaram a essa anomalia o mesmo ímpeto e o mesmo antagonismo que demonstraram naquele debate. Quando, justamente, esta é a hora de rever equívocos e de olhar no espelho da história. Onde estão os arrogantes questionamentos daquele dia distante? 
Revendo o debate, depois de tanto tempo e da enorme virada política que houve no país, não posso deixar de me sentir recompensado pelo teor de minha análise, que mantenho,  e de minha coerência na postura crítica quanto  à complicada questão agrária e quanto à questão da relação entre teoria e práxis e da mais complicada, ainda, questão da incompatibilidade entre ciência e militância. Os que confundiram ideologia com ciência privaram CPT e MST de referências fundamentais para transformar o rico elenco de sua prática num rico elenco de interpretações que os teria transformado em personagens políticos decisivos de um Brasil renovado. Preferiram o silêncio da cumplicidade, satanizaram os críticos, perderam o brilho e perderam o protagonismo. 



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