quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Adaline e o paradoxo do tempo

Por Débora Marx

Para muitos, a ideia de ser jovem eternamente implica numa utopia distante. Milhares de pessoas, inclusive, até se tornam escravos dos cuidados excessivos e da busca incansável pela “fórmula da juventude”. Até hoje, apesar de inúmeros esforços em vão, esse sonho continua inatingível na vida real.
Contudo, no universo ficcional dirigido pelo jovem Lee Toland Krieger, Adaline Bowman vive essa experiência desejada por tantos. Aos 29 anos sofre um acidente que altera seu fenótipo. Adaline para de envelhecer e a partir dai vê-se em uma nova realidade: jovem para sempre!
Dessa forma, sua vida vira de cabeça para baixo, o tempo passa e sua juventude inabalada causa estranhamento e curiosidade forçando-a a abrir mão de uma vida estável, de criar e manter laços, vivendo uma mentira a cada década, quando troca de identidade, de visual e de endereço.
Na construção do enredo proposto, percebemos que Adaline passa pela vida sem vivê-la e mesmo com tantos anos - mais de 100 - tem uma história vazia, sem grandes amigos, vendo quem ama partir, longe de sua única filha, sozinha na prisão da eterna juventude.
Como na maioria das produções de cinema, o ápice do filme se constrói a partir do “boy meets girl”, quando Adaline conhece Ellis e mesmo sentindo que precisa parar de sabotar sua própria felicidade e ser dar a chance de viver, não consegue dançar com o presente, presa às músicas do passado e ao ritmo frenético do eterno e, paradoxalmente, morto futuro.



No meio desse dilema, J. Mills Goodloe, roteirista do filme, nos mostra que mais vale uma vida curta preenchida, do que uma longa vida vazia. O mais interessante da linguagem de Goodloe é sua visão de amor: Durante toda a trama fica clara a ideia de que a efemeridade se adéqua à paixão, mas, para viver o amor, envelhecer e crescer juntos é necessário. No fim, esse paradigma é quebrado e Adaline escolhe e entende que estar junto pelo máximo de tempo que for possível é melhor do que se apegar ao estereótipo de que amar é viver e morrer juntos.
Ainda sobre o tempo e sua condição determinante na vida da protagonista, Harrison Ford traz uma de suas atuações mais brilhantes dos últimos anos e mostra que as situações podem mudar e os anos correrem, mas existem pessoas que deixam muito de si em nós e determinam no passado grande parte do nosso futuro.
Abrindo um grande parêntese e deixando a parte simbólica um pouco de lado, Adaline é imprevisível durante toda a trama, mas foge disso optando por um final mais comercial e previsível - o que é bem condizente com o perfil de Goodloe. A arte e a fotografia são exatas, sem muitos “invencionismos”, trazendo um ar atemporal mesmo com toda a cenografia do passado. Os planos fechados constroem uma relação intimista e harmoniosa, a diegese é interrompida pouquíssimas vezes.

Por fim, e não menos importante, a reflexão sobre a velhice proposta pelo filme é extremamente pertinente, afinal, pensar sobre uma vida sem velhice pode ser uma sensação, surpreendentemente, angustiante. A paz de abrir um álbum de fotos amareladas e ter a plena consciência que tudo aquilo foi vivido, visto, sentido... Saber envelhecer, metamorfosear, entender o que não era entendido, tornar o coração mais manso e menos intempestivo, ver quem resistiu aos anos do nosso lado, enxergar o crescimento dos que amamos, passar valores que o tempo foi incapaz de corroer, refletir sobre a vida com um passo mais lento, um olhar mais atento e um sorriso mais sincero e sábio. "The age of Adaline" me ensinou que viver o fim também é necessário.
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Fonte: http://lounge.obviousmag.org/




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