Por Débora
Marx
Para
muitos, a ideia de ser jovem eternamente implica numa utopia distante. Milhares
de pessoas, inclusive, até se tornam escravos dos cuidados excessivos e da
busca incansável pela “fórmula da juventude”. Até hoje, apesar de inúmeros
esforços em vão, esse sonho continua inatingível na vida real.
Contudo,
no universo ficcional dirigido pelo jovem Lee Toland Krieger, Adaline Bowman
vive essa experiência desejada por tantos. Aos 29 anos sofre um acidente que
altera seu fenótipo. Adaline para de envelhecer e a partir dai vê-se em uma
nova realidade: jovem para sempre!
Dessa
forma, sua vida vira de cabeça para baixo, o tempo passa e sua juventude
inabalada causa estranhamento e curiosidade forçando-a a abrir mão de uma vida
estável, de criar e manter laços, vivendo uma mentira a cada década, quando
troca de identidade, de visual e de endereço.
Na
construção do enredo proposto, percebemos que Adaline passa pela vida sem
vivê-la e mesmo com tantos anos - mais de 100 - tem uma história vazia, sem
grandes amigos, vendo quem ama partir, longe de sua única filha, sozinha na
prisão da eterna juventude.
Como
na maioria das produções de cinema, o ápice do filme se constrói a partir do
“boy meets girl”, quando Adaline conhece Ellis e mesmo sentindo que precisa
parar de sabotar sua própria felicidade e ser dar a chance de viver, não
consegue dançar com o presente, presa às músicas do passado e ao ritmo
frenético do eterno e, paradoxalmente, morto futuro.
No
meio desse dilema, J. Mills Goodloe, roteirista do filme, nos mostra que mais
vale uma vida curta preenchida, do que uma longa vida vazia. O mais
interessante da linguagem de Goodloe é sua visão de amor: Durante toda a trama
fica clara a ideia de que a efemeridade se adéqua à paixão, mas, para viver o
amor, envelhecer e crescer juntos é necessário. No fim, esse paradigma é
quebrado e Adaline escolhe e entende que estar junto pelo máximo de tempo que
for possível é melhor do que se apegar ao estereótipo de que amar é viver e
morrer juntos.
Ainda
sobre o tempo e sua condição determinante na vida da protagonista, Harrison
Ford traz uma de suas atuações mais brilhantes dos últimos anos e mostra que as
situações podem mudar e os anos correrem, mas existem pessoas que deixam muito
de si em nós e determinam no passado grande parte do nosso futuro.
Abrindo
um grande parêntese e deixando a parte simbólica um pouco de lado, Adaline é
imprevisível durante toda a trama, mas foge disso optando por um final mais
comercial e previsível - o que é bem condizente com o perfil de Goodloe. A arte
e a fotografia são exatas, sem muitos “invencionismos”, trazendo um ar
atemporal mesmo com toda a cenografia do passado. Os planos fechados constroem
uma relação intimista e harmoniosa, a diegese é interrompida pouquíssimas
vezes.
Por
fim, e não menos importante, a reflexão sobre a velhice proposta pelo filme é
extremamente pertinente, afinal, pensar sobre uma vida sem velhice pode ser uma
sensação, surpreendentemente, angustiante. A paz de abrir um álbum de fotos
amareladas e ter a plena consciência que tudo aquilo foi vivido, visto,
sentido... Saber envelhecer, metamorfosear, entender o que não era entendido,
tornar o coração mais manso e menos intempestivo, ver quem resistiu aos anos do
nosso lado, enxergar o crescimento dos que amamos, passar valores que o tempo
foi incapaz de corroer, refletir sobre a vida com um passo mais lento, um olhar
mais atento e um sorriso mais sincero e sábio. "The age of Adaline"
me ensinou que viver o fim também é necessário.
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Fonte: http://lounge.obviousmag.org/
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