Desde que, no contexto internacional, o
cientista social estadunidense Howard Becker publicou a clássica obra Outsiders (que combina reflexão teórica e pesquisa empírica
realizada com usuários de maconha e músicos de casas noturnas), os estudos
sobre as drogas ganharam outras 'perspectivas metodológicas'. O livro de Becker
é um marco, e nesse sentido realiza significativas mudanças de foco. Por
exemplo, da 'ideia essencializada de crime' para o termo desvio (o que significa a existência de uma relação social); do
realce no indivíduo para o foco nas relações (as quais geram regras e demandam
o seu cumprimento); da ênfase na naturalização das regras ao enfoque na sua
produção social, destacando os processos de imposição de rótulos pela sociedade
dita 'normal' no que se refere a pessoas e comportamentos tidos como desviantes
(do que seria o 'normal'). No Brasil, contudo, esse background esteve relativamente ausente nas
discussões das ciências do campo do social - prova disso é que o livro só foi
traduzido/veio a lume no país em 2008, 45 anos após a sua publicação. Pois bem,
essa é uma das referências analíticas dos estudos e pesquisas que tenho
coordenado/desenvolvido sobre as drogas, e cujo resultado neste ano de 2015,
além de alguns papers, é a publicação do trabalho cuja capa aí acima
está estampada, tendo como título 'Drogas, Saúde Coletiva e Educação:
Conhecimentos para a Ação Formativa', viabilizado no âmbito de um projeto
financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq). Trabalho construído na estimável interação com a equipe e o Grupo de
Estudos e Pesquisas em Educação, Sociedade e Culturas (GEPEDUSC)/UFPB Litoral
Norte - bolsistas, ex-bolsistas e colegas professores, bem como no diálogo com
amigos que, quando solicitados, não se furtaram em realizar a leitura do
material e a fazer observações. A outra referência analítica do texto é oriunda
do campo da saúde coletiva, considerando, por exemplo, a démarche da perspectiva bio-psico-social. Em linhas gerais, procura-se fazer aquilo que, em boa parte das vezes,
está ausente nas abordagens brasileiras sobre as drogas, isto é, traçar uma
espécie de genealogia desse fenômeno, mostrando-o em suas diversas dimensões, como os aspectos que envolvem a sua dupla tipificação: drogas lícitas e
ilícitas. Penso que esse é um enfoque fundamental para que se possa, no trato
do assunto, alcançar o objetivo para o qual o trabalho pretende contribuir, ou seja,
compreender adequadamente esse fenômeno – sem preconceitos e (falsos)
moralismos -, no sentido de, com conhecimento de causa, definir posições a seu
respeito e ações (políticas, educativas, reguladoras, etc.) que a análise
racional julgue necessárias. Por fim, no dia 15/12, a partir das 19h30, estaremos realizando na UFPB/Litoral Norte, na unidade de Mamanguape, uma discussão/palestra onde estarão sendo debatidas posições favoráveis e contrárias à descriminalização de drogas como a cannabis.
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