sábado, 28 de novembro de 2015

Questões de Agora: Drogas, Saúde Coletiva e Educação



Desde que, no contexto internacional, o cientista social estadunidense Howard Becker publicou a clássica obra Outsiders (que combina reflexão teórica e pesquisa empírica realizada com usuários de maconha e músicos de casas noturnas), os estudos sobre as drogas ganharam outras 'perspectivas metodológicas'. O livro de Becker é um marco, e nesse sentido realiza significativas mudanças de foco. Por exemplo, da 'ideia essencializada de crime' para o termo desvio (o que significa a existência de uma relação social); do realce no indivíduo para o foco nas relações (as quais geram regras e demandam o seu cumprimento); da ênfase na naturalização das regras ao enfoque na sua produção social, destacando os processos de imposição de rótulos pela sociedade dita 'normal' no que se refere a pessoas e comportamentos tidos como desviantes (do que seria o 'normal'). No Brasil, contudo, esse background esteve relativamente ausente nas discussões das ciências do campo do social - prova disso é que o livro só foi traduzido/veio a lume no país em 2008, 45 anos após a sua publicação. Pois bem, essa é uma das referências analíticas dos estudos e pesquisas que tenho coordenado/desenvolvido sobre as drogas, e cujo resultado neste ano de 2015, além de alguns papers, é a publicação do trabalho cuja capa aí acima está estampada, tendo como título 'Drogas, Saúde Coletiva e Educação: Conhecimentos para a Ação Formativa', viabilizado no âmbito de um projeto financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Trabalho construído na estimável interação com a equipe e o Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação, Sociedade e Culturas (GEPEDUSC)/UFPB Litoral Norte - bolsistas, ex-bolsistas e colegas professores, bem como no diálogo com  amigos que, quando solicitados, não se furtaram em realizar a leitura do material e a fazer observações. A outra referência analítica do texto é oriunda do campo da saúde coletiva, considerando, por exemplo, a démarche da perspectiva bio-psico-social.  Em linhas gerais, procura-se fazer aquilo que, em boa parte das vezes, está ausente nas abordagens brasileiras sobre as drogas, isto é, traçar uma espécie de genealogia desse fenômeno, mostrando-o em suas diversas dimensões, como os aspectos que envolvem a sua dupla tipificação: drogas lícitas e ilícitas. Penso que esse é um enfoque fundamental para que se possa, no trato do assunto,  alcançar o objetivo para o qual o trabalho pretende contribuir, ou seja, compreender adequadamente esse fenômeno – sem preconceitos e (falsos) moralismos -, no sentido de, com conhecimento de causa, definir posições a seu respeito e ações (políticas, educativas, reguladoras, etc.) que a análise racional julgue necessárias. Por fim, no dia 15/12, a partir das 19h30, estaremos realizando na UFPB/Litoral Norte, na unidade de Mamanguape, uma discussão/palestra onde estarão sendo debatidas posições favoráveis e contrárias à descriminalização de drogas como a cannabis. 

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