Por Vanelli Doratioto
Se
você não é Edith Piaf, em “Je ne regrette rien”, certamente já se arrependeu de
alguma coisa na vida. Nosso caminho é feito de acertos e de erros e se
pudéssemos voltar no tempo e abreviar as consequências dos nossos passos tortos
possivelmente o faríamos.
Quase
sempre estamos correndo para cima e para baixo, tentando resolver questões
práticas do nosso dia a dia, e nesse ínterim deixamos irremediavelmente coisas,
pessoas e situações importantes para depois, inclusive nós mesmos.
Muitas
vezes passam-se longos anos, até que lá no finalzinho resolvemos colocar tudo
para fora. Tiramos todos os apetrechos, todos os badulaques, todas as neuras,
calamos o orgulho e ficamos nós, assim como viemos ao mundo, e dessa forma
choramos sinceramente tudo que poderia ter sido, mas não foi.
Existe
hoje na internet um website denominado “Secret Regrets” no qual pessoas falam
sobre o maior arrependimento que tiveram na vida. Por lá mais de vinte e cinco
mil confissões anônimas sussurram os mais diversos arrependimentos:
“Eu
me arrependo de ter me casado com o meu ex-marido. Ele era psicologicamente e
verbalmente abusivo para mim e para nosso filho. Nós carregamos cicatrizes
invisíveis até hoje”.
“Me
arrependo de ter afastado as melhores pessoas da minha vida. Hoje a solidão é
um lembrete que me acompanha”.
“Lamento
não ser forte o suficiente para deixá-lo. Não é que você seja uma pessoa ruim,
pelo contrário, mas não é com você que quero ficar pro resto da vida”.
“Eu
me arrependo de não ter visto que você era o grande amor da minha vida. Hoje
estamos casados e não podemos ficar juntos”.
“Eu
me arrependo de não ter sido eu mesmo”.
São
inúmeras confissões que se desdobram no website diariamente, e grande parte
delas parece irrevogável, contudo ouso dizer que diferente do que acontece com
quem está a um passo da morte, e esse não é o nosso caso (espero), sempre há a
possibilidade de reverter, com muita coragem, grande parte dos pesares de
nossas equivocadas decisões ou omissões passadas.
O
que precisamos ter em mente é que na vida para cada escolha sempre haverá uma
renúncia. Não é possível ganhar todas, contudo pensar de forma sensata antes de
agir e ter energia para tal, caso seja nossa vontade, é uma boa solução para
minar parte de nossos problemas futuros.
Algumas
vezes somos levados a decidir de forma precipitada na vida e em outras
simplesmente optamos por não decidir. Nenhuma das duas opções é vantajosa,
apesar de parecerem por vezes confortáveis.
Se
em algum momento paramos em um ponto não muito agradável, se estancamos em um
lugar estranho às nossas vontades, sempre existe uma porta que pode ser
encontrada ou uma janela que pode ser aberta, basta que olhemos atentos e
corajosos ao nosso redor.
A
resolução de nossos dilemas, quando possível, nos cabe, contudo só a ética nos
dirá se nossas escolhas são viáveis ou não. Por bem ou por mal, apesar de
morrermos sós, na vida caminhamos juntos e muitas vezes o decidir coloca na
balança a nossa felicidade em contraponto com a das pessoas que nos acompanham.
Somos sempre nós versus os outros no momento de decidir. O importante é que
nunca sejamos apenas nós, tão pouco só os outros. Viver é muito complexo e para
isso não existem fórmulas prontas, precisamos aprender a equilibrar as coisas
de forma justa.
Para
quem está se despedindo da vida sobra apenas uma possibilidade, a de ser
autêntico e tomar como prioridade a vontade própria, doa a quem doer. Já para
nós que vivos passeamos pelo mundo, existem mil possibilidades, cada qual com
seu louvor e pesar.
Se
acertamos e olhamos para trás com orgulho de nossas escolhas, isso é ótimo, se
erramos e podemos remediar nossas decisões, o dia é hoje e o momento é o agora
e se elas não podem ser remediadas, felizmente temos a capacidade plena de
aprender com cada uma delas e de, quem sabe, até mesmo transmitir algum
aprendizado ao próximo.
Para
nossos acertos, palmas. Para nossos arrependimentos, a resolução. Para o que
não pode ser mudado, nossa ponderação em forma de ensinamentos.
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Fonte: http://obviousmag.org/. Título original: 'Sobre a vida e os arrependimentos que carregamos'.
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