Por Leonardo Sakamoto
Li reclamações de leitores de jornais e sites indignados com
a veiculação de uma imagem do corpo morto de um pequeno menino sírio, afogado e
estirado em uma praia da Turquia após uma tentativa fracassada de sua família
de atravessar o mar para fugir da guerra.
Publicadas com cuidado que o tema
merece, por mais que doam aos olhos e mexam com o estômago e atrapalhem o
jantar ou o café da manhã, imagens têm o poder de trazer a realidade para
perto.
É fácil ficar indiferente diante de
números de violência, mas com rostos a situação muda de figura. Dizer que
milhares de pessoas morrem afogadas na tentativa de fugir do conflito na Síria
ou de fome na África é uma coisa. Mas mostrar a morte de uma criança, usando as
mesmas roupas e, quiçá, o mesmo corte de cabelo que o filho de qualquer um de
nós é outra.
Ou trazer o corpo frio de um rapaz, de olhos bonitos,
que era marceneiro, e de sua noiva, professora, que gostava de cantar de manhã.
Ou ainda os cadáveres de três
adolescentes de uma mesma família, que sempre esperavam até a noite acordadas a
chegada do pai que trazia comida para dentro de casa.
Ou de um motorista de uma ambulância,
que tinha orgulho do seu trabalho.
O outro deixa de ser estatística, e
passa a ser um semelhante, pois é feito de carne e osso e não de números. Nesse
momento, há uma aproximação, uma identificação, fundamental para empurrar os
espectadores de um conflito para ações, de protesto, de boicote. Seja em uma
crise humanitária no Mediterrâneo, em um massacre no Oriente Médio, em uma
guerra entre grupos rivais na África, na luta pela independência do Sudeste
Asiático ou por conta da violência armada em favelas das grandes cidades do
Brasil.
Vivemos em um mundo cuja informação se espalha em tempo real.
Mas, mesmo com essa facilidade, muitos se furtam de ter acesso ao mundo.
Ao mesmo tempo, a tecnologia bélica
transformou certos conflitos em cenas de videogame, filtrando sangue, suor e
vísceras pelas lentes de drones e câmeras de aviões e helicópteros. O que
chega, não raro, à tela de uma TV, de um computador ou de um smartphone é algo
asséptico, palatável, consumível em doses homeopáticas. Pois não parece humano
e sim ficção.
Quando a comunicação é globalizada,
cresce a força e a importância de ações globalizadas pela paz. Acertam os
veículos de comunicação que divulgaram as imagens, como o UOL, que não
configuram sensacionalismo como os programas espreme-que-sai-sangue da TV, que
repetem aquilo que já se sabe pelo tesão da audiência. Mas são uma declaração
pública contra a barbárie.
Diante disso, a ignorância do que
acontece à nossa volta deixa de ser uma benção e passa a se configurar
delinqüência social.
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Fonte: http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/
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