“Massa
feita da mistura de variadas substâncias, que se emprega para vedar
hermeticamente junturas e frinchas de frascos, aparelhos de destilação (tb.
para forrar retortas, tubos etc.), protegendo-os contra a ação do fogo ou
impedindo a saída de substâncias neles contidas." Este é um dos
significados de luto noDicionário Houaiss. O luto, tempo necessário para
aprender a viver sem, é isso: uma massa (sentimento) de variadas substâncias
(experiências) que nos veda hermeticamente de forma a nos proteger (acalmar a
dor) do sentimento de amputação do que nos parece essencial.
Em
nosso cotidiano conquistamos e perdemos a todo o instante; amigos, amores,
trabalho. “Viver é perder” escreve François George. Todo ser
humano perde e teme perder. Perder é modificar, reaprender. Não me refiro
àquelas perdas tragicamente irreparáveis, nestes casos o luto é apenas o tempo
nos dando afago de mãe; estancando uma hemorragia fatal. Me refiro a
separações, distanciamentos. Não somos habituados a perder; a ficar só; a
enfrentar a falência de sonhos tampouco estamos habituados a explicitar ou
justificar dores, é neste momento que o tempo do luto chega, e nasce menos
dedicado ao fato que ao renascimento.
Morremos
um pouco em cada despedida, mas também despertamos um pouco em cada adeus. Não
respeitar o tempo particular de cada dor é, no fundo, prolongá-la.
Luto
é morte e também renascimento, um trabalho particular de enfrentamento e
reconciliação. O tempo do luto é a possibilidade de observar tanto a
necessidade do silêncio quanto da fala. Ambos são fundamentais; o silêncio é
alimento perfeito que traz na pausa o entendimento; e a fala é um retirar de
cintos, um sopro, uma respiração. O luto, tempo temido de dor, é também aquele
que nos ensinará a equilibrar o delicado. E não há nada mais delicado que
viver.
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Fonte: http://lounge.obviousmag.org/
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