terça-feira, 22 de setembro de 2015

Luto do tempo


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“Massa feita da mistura de variadas substâncias, que se emprega para vedar hermeticamente junturas e frinchas de frascos, aparelhos de destilação (tb. para forrar retortas, tubos etc.), protegendo-os contra a ação do fogo ou impedindo a saída de substâncias neles contidas." Este é um dos significados de luto noDicionário Houaiss. O luto, tempo necessário para aprender a viver sem, é isso: uma massa (sentimento) de variadas substâncias (experiências) que nos veda hermeticamente de forma a nos proteger (acalmar a dor) do sentimento de amputação do que nos parece essencial.
Em nosso cotidiano conquistamos e perdemos a todo o instante; amigos, amores, trabalho. “Viver é perder” escreve François George. Todo ser humano perde e teme perder. Perder é modificar, reaprender. Não me refiro àquelas perdas tragicamente irreparáveis, nestes casos o luto é apenas o tempo nos dando afago de mãe; estancando uma hemorragia fatal. Me refiro a separações, distanciamentos. Não somos habituados a perder; a ficar só; a enfrentar a falência de sonhos tampouco estamos habituados a explicitar ou justificar dores, é neste momento que o tempo do luto chega, e nasce menos dedicado ao fato que ao renascimento.
Morremos um pouco em cada despedida, mas também despertamos um pouco em cada adeus. Não respeitar o tempo particular de cada dor é, no fundo, prolongá-la.
Luto é morte e também renascimento, um trabalho particular de enfrentamento e reconciliação. O tempo do luto é a possibilidade de observar tanto a necessidade do silêncio quanto da fala. Ambos são fundamentais; o silêncio é alimento perfeito que traz na pausa o entendimento; e a fala é um retirar de cintos, um sopro, uma respiração. O luto, tempo temido de dor, é também aquele que nos ensinará a equilibrar o delicado. E não há nada mais delicado que viver.
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Fonte: http://lounge.obviousmag.org/



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