sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Os que mandam no Brasil, o que eles desejam e o futuro

É de fazer rir algumas análises sobre a conjuntura brasileira, as quais, na ânsia de mostrarem erudição, caem num pseudo-eruditismo sofrível. Com 'abordagens politicistas', que mais parecem conjecturas de aparelhos políticos, bradem hipóteses sem fundamento pretendendo enquadrar em supostos 'esquemas teóricos' as possibilidades da história. Os seus autores, em verdade, procedem como 'modernos colecionadores de borboletas'. É preciso ter senso, já não digo de proporções, mas do ridículo mesmo, e considerar que, por mais que se queira enquadrar as possibilidades conjunturais e estruturais da história, esta nos torna, a cada momento, dupes de nous-mêmes, e nos surpreende com desdobramentos imprevistos. Digo assim a propósito da avalanche de previsões sobre o que ocorrerá com o Brasil, no curso da atual crise, e os consequentes impactos sobre a vida dos brasileiros. Por exemplo: os financiamentos, feitos e a fazer, continuarão com as mesmas regras? Teremos mais imposto? A expansão da universidade pública - com os seus programas - será contida? Ou mais ainda, neste caso, continuar-se-á sem pagar mensalidade nas universidades públicas ou, em busca de receitas, adotar-se-á uma política de financiamento do ensino superior que pressupõe que os estuantes passem a pagar mensalidades, conforme já tem sido defendido? As indagações/dúvidas são diversas. Que muitos que batem panelas e seus 'papagaios de pirata' não alcancem o significado do que está em jogo, é, até certo ponto, "compreensível", afinal a "cegueira" é o preço pago por se personalizar as questões, fixando-se obsessivamente em nomes/pessoas, bem como também  é o resultado do comportamento bovino: conduzir-se irrefletidamente segundo a direção tomada pelo rebanho. Não é compreensível, porém, que abordagens que reivindicam o estatuto de análise se limitem a embrulhar conjecturas com espuma de palavras. Aí não. Não é dessa forma que a banda deve tocar. Para início de conversa, dever-se-ia prestar mais atenção nos segmentos que efetivamente têm dado as cartas no Brasil, definindo diretrizes, impondo-as ao governo e "programando" o futuro do país. Quase sempre de modo sigiloso, secreto. O texto aí abaixo, de Fernando Rodrigues, é bastante ilustrativo a esse respeito. Vale a pena a leitura. 


Por Fernando Rodrigues 
(Mestre em jornalismo internacional pela City University, Londres)

Um grupo com 9 dos mais importantes empresários brasileiros recebeu Joaquim Levy na 4ª feira (2.set.2015) à noite em São Paulo. No encontro reservado, quase secreto, apresentaram as condições para continuar a apoiar o governo, a gestão da economia e a própria permanência de Levy no cargo de ministro da Fazenda.
A agenda tem três pontos: 1) fazer todos os esforços para que o Brasil mantenha o grau de investimento dado por agências de classificação de risco; 2) buscar um superávit de 0,7% do PIB na execução das contas de 2016 e 3) promover um forte corte em subsídios e programas governamentais para atingir essa meta.
Estavam na reunião de 4ª feira representados, pelo menos, 8 dos 10 maiores grupos empresariais nacionais. Por volta de 23h30, decidiu-se que era importante, na frente de Joaquim Levy, telefonar para a presidente Dilma Rousseff e relatar o que estava sendo tratado. A missão coube a um dos presentes, um empresário do Rio do de Janeiro.
O telefonema foi realizado, Dilma atendeu e foi informada sobre os temas em discussão.
Todos no encontro estavam preocupados com a proposta de Orçamento para 2016 contendo um déficit de 0,34% do PIB. O empresário ao telefone disse a Dilma que era vital para o país perseguir e obter a meta de superávit de 0,7% em 2016.
Ficou claro na conversa que os empresários brasileiros davam apoio à posição de Joaquim Levy, considerado mais liberal e confiável do que os ministros Nelson Barbosa (Planejamento) e Aloizio Mercadante (Casa Civil).
Os empresários –e isso foi dito a Dilma– avaliam que a perda do grau de investimento terá efeitos catastróficos para o país. Haverá aumento do custo para captar empréstimos. A recessão se aprofundará, produzindo mais desemprego.
A situação política retroalimentará a crise. O país poderá então entrar em território desconhecido e com risco de esgarçamento das instituições.
Na 5ª feira (3.set.2015) pela manhã, o dia seguinte ao encontro de empresários em São Paulo, Dilma chamou Joaquim Levy para uma conversa pessoal em Brasília. Ao final, a presidente ordenou a vários ministros que dessem entrevistas dizendo que o ministro da Fazenda estava mantido no cargo.
A realidade é que a permanência de Levy está diretamente relacionada à capacidade de o governo atender aos 3 pedidos dos empresários reunidos na última 4ª feira em São Paulo.
Durante a reunião com os empresários, Levy chegou a falar sobre a dificuldade de conseguir o superávit de 0,7% apenas cortando gastos –porque há muitas resistências do governo em eliminar programas e subsídios.
Levy perguntou aos presentes: como cortar o Orçamento se existem uma infinidade de despesas obrigatórias e muita pressão de setores do governo para manter certos programas sociais? Foi quando um dos empresários respondeu de maneira bem direta: “Tem de cortar porque não tem dinheiro”.
Os empresários reagiram de maneira difusa à sugestão de criar algum tipo de imposto.
Alguns até disseram ser possível uma nova taxa, na condição de ser temporária. Outros foram mais refratários. “Temporário no Brasil quase sempre vira permanente”, disse um dos presentes. Todos ao final cobraram primeiro os cortes mais duros antes que impostos fossem criados.
Números foram apresentados sobre programas que poderiam ser cortados. Até o relativamente novo vale cultura foi citado como penduricalho que drena recursos do governo e poderia ser extinto. Não houve consenso sobre quais seriam exatamente os cortes.
Dentro de uma semana, o grupo pretende ter uma minuta com sugestões para promover um enxugamento nas despesas da proposta de Orçamento de 2016.
Joaquim Levy em alguns momentos soltou frases enigmáticas. Por exemplo, ao dizer que o cenário estava mudando muito rapidamente. “O futuro é incerto”, disse o ministro. “Será que é com o Temer?”.
A citação a Michel Temer foi interpretada por alguns como uma espécie de incerteza de Levy sobre as condições de o atual vice-presidente da República assumir e melhorar a conjuntura do país.
O ministro da Fazenda disse aos presentes que a presidente da República estava ciente de que o quadro está “mais grave”.
Os empresários saíram do encontro de 4ª feira já na madrugada de 5ª. Alguns só deixaram o local por volta das 2h da madrugada do dia 3.set.2015.
Apesar da seriedade e da dramaticidade que os empresários empregaram às conversas de 4ª feira, a embocadura geral do grupo é a de tentar  ajudar a tirar o país da atual situação de crise política e econômica. É desse mesmo grupo a ideia de fazer uma “lei de responsabilidade gerencial'' para empresas estatais –tema encampado pelos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e Renan Calheiros.
No final do encontro, os presentes não se mostraram seguros de que o governo poderá cumprir as 3 condições apresentadas a Dilma Rousseff. Mas todos têm duas certezas.
Primeiro, que sem o superávit de 0,7% do PIB em 2016 o país está fadado a perder o grau de investimento. Segundo, que se nos próximos 1 ou 2 meses não ficar claro qual será o rumo da economia, a sustentação a Joaquim Levy vai se liquefazer e o ministro da Fazenda poderá deixar o cargo.
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Fonte: http://fernandorodrigues.blogosfera.uol.com.br/

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