quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Governo brasileiro: redução da margem de manobra e prisioneiro das suas próprias armadilhas

Repisando o conhecido adágio, é de se dizer, para o Governo da Presidente Dilma, que "nada está tão ruim que não possa piorar". O rebaixamento do Brasil pela agência Standard & Poor's, com a perda do grau de investimento, é uma péssima notícia. No fundo, fazendo a história econômica falar, há dois erros a serem realçados: Primeiro, a celebração que a coligação petista promoveu em 2008 quando esse grau foi atribuído, sem ter em conta devidamente o que implicava passar a "esfera de arbitragem" das agências de risco (a Grécia que o diga), desconsiderando que o mesmo interessa sobretudo a investidores de curto prazo, parados em ativos líquidos - numa economia com robustez, eles são problema, não solução. O segundo erro habita a assessoria da Presidente (mais um nos desatinos de seus assessores), e foi responsável pela estupidez do orçamento deficitário. Uma, digamos, "peculiaridade econômica histórica".Ora, não se mediu as consequências do que isso significava? A Standard & Poor's mediu, e o resultado está aí. Abaixo, um breve artigo do jornalista Renato Andrade a respeito, o qual, ressalvando-se alguns "excessos impressionistas", tem muito a dizer. Originalmente, intitula-se 'A brincadeira acabou'. 

Por Renato Andrade

Se faltava alguma coisa para coroar a sequência de erros do governo Dilma, que jogaram a economia brasileira numa espiral recessiva, agora não falta mais.
A partir desta quinta-feira, o Brasil volta a ser considerado um país pouco seguro para investidores colocarem seu dinheiro. O selo de bom pagador, concedido pela agência Standard & Poor's em abril de 2008, durante o governo do ex-presidente Lula, virou pó, apenas oito meses depois da reeleição de sua sucessora.
O governo só tem a si mesmo para culpar. Os argumentos apresentados pela agência de risco para explicar por que o país não tem mais condições de manter o título são claros.
A mirabolante ideia de apresentar uma proposta de Orçamento com um rombo de R$ 30,5 bilhões para o próximo ano –mais um ineditismo do governo petista– foi o lance derradeiro que garantiu a passagem de volta do Brasil ao clube dos países que pagam caro para conseguir dinheiro nos mercados internacionais.
A indefinição, os recuos, os sinais trocados, toda a falta de coordenação de um governo sem rumo indicavam que esse resultado chegaria em algum momento. Ao que parece, o Planalto esperava uma certa benevolência por parte da turma do dinheiro. Perdeu a aposta. Perdeu o Brasil.
Dilma e seus ministros mais próximos não podem reclamar de que não foram avisados. De Joaquim Levy ao vice Michel Temer, passando por uma infinidade de empresários, banqueiros e políticos de partidos distintos, todos ponderaram que o caminho adotado estava errado. Mesmo assim, por teimosia ou incompetência –ou ambos–, a presidente não teve pulso para mudar o rumo das coisas a tempo de evitar o desastre.
É difícil imaginar a magnitude dos estragos que a economia brasileira sofrerá a partir de agora. A única certeza é que esses estragos virão.
Dilma defendeu na segunda-feira a adoção de "remédios amargos" para resolver os problemas. Talvez seja tarde demais para salvar o paciente.
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Fonte: Folha de São Paulo, versão para assinantes, edição do dia 10/09/2015





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