Por José Saramago
(Science-fiction I) 
Talvez o nosso mundo se
convexe 
Na matriz positiva doutra
esfera. 
Talvez no interspaço que medeia 
Se permutem secretas
migrações. 
Talvez a cotovia, quando
sobe, 
Outros ninhos procure, ou
outro sol. 
Talvez a cerva branca do meu
sonho 
Do côncavo rebanho se
perdesse. 
Talvez do eco dum distante
canto 
Nascesse a poesia que
fazemos. 
Talvez só amor seja o que
temos, 
Talvez a nossa coroa, o nosso
manto. 
(in Os Poemas Possíveis, Lisboa: Caminho, 1981)
 
 
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