A chamada reforma ministerial não trouxe, até agora, estabilidade ao governo Dilma. Trará? Difícil dizer. Depois de tantas concessões, o parlamento não consegue reunir sequer o quórum mínimo para apreciar as pautas, em decorrência de manobras do presidente da Câmara, que - mesmo com as provas do seu envolvimento com a corrução - continua tendo o apoio da oposição de direita. De resto, no âmbito geral, num só dia, ontem, o governo sofreu quatro derrotas, conforme assinala o jornalista Bernardo Melo Franco no artigo aí abaixo.
Por Bernardo Mello Franco
A crise que engoliu o governo voltou a ganhar
velocidade nesta quarta. Em um só dia, a presidente Dilma Rousseff sofreu
quatro derrotas contundentes. Perdeu no Congresso, perdeu no Supremo Tribunal
Federal e perdeu duas vezes no Tribunal de Contas da União.
O primeiro revés teve gosto de reprise. Pelo
segundo dia seguido, o governo não conseguiu mobilizar um número mínimo de
deputados para avaliar os vetos à pauta-bomba. A sabotagem foi articulada, de
novo, pelo correntista suíço Eduardo Cunha.
Em movimento combinado com ele, partidos que se
dizem aliados esvaziaram o plenário para impedir o início da sessão. O boicote
teve apoio expresso dos líderes de PP, PR, PSD, que não marcaram presença para
elevar a pressão por cargos.
A bancada do PMDB, que acaba de emplacar dois
ministros, também deixou a presidente na mão. A ausência de 28 deputados da
sigla pôs em xeque a liderança de Leonardo Picciani, que se apresentava como o
novo fiador do palácio na Câmara.
Pouco depois do almoço, a crise fez escala no
Supremo. O ministro Luiz Fux, nomeado por Dilma, barrou a tentativa de adiar a
análise das contas do governo no TCU.
As duas últimas derrotas aconteceriam no tribunal
de contas. Por unanimidade, os ministros rejeitaram pedido para afastar o
relator Augusto Nardes, acusado de politizar o caso ao antecipar seu voto
contra o Planalto. Em seguida, aprovaram o parecer pela rejeição das contas do
governo no ano passado.
A oposição tentará usar o parecer do TCU para
turbinar o impeachment, mas quem torce pela queda do governo não deve soltar
fogos. Mesmo que o Congresso reprove as contas, será difícil sustentar a tese
de que uma presidente pode ser cassada por fatos ocorridos em outro mandato.
De qualquer forma, as quatro derrotas desta quarta
mostram que Dilma foi otimista demais ao declarar, no início do dia, que já
conseguia ver alguma "luz no fim do túnel".
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Fonte: Folha de São Paulo, versão para assinantes, edição do dia 08/10/2105
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