Por Bernardo Mello Franco
Pau-mandado,
no dicionário "Houaiss", é a "pessoa que obedece a tudo
incondicionalmente, sem objeções, resistência ou protesto". Pau-mandado,
em Brasília, é o apelido que grudou na testa do deputado Celso Pansera, do
PMDB.
Há
três meses, ele saiu do anonimato ao ser acusado de retaliar o doleiro Alberto
Youssef, que entregou à Justiça políticos envolvidos no petrolão. "Estou
sendo intimidado na CPI da Petrobras por um deputado pau-mandado do senhor
Eduardo Cunha", contou o delator.
O
parlamentar obediente era Pansera, que apresentou oito requerimentos para
quebrar os sigilos bancário, telefônico e fiscal da mulher, da irmã e das duas
filhas do doleiro.
Não
foi a única iniciativa do peemedebista contra desafetos de Cunha. O deputado
pediu a convocação da advogada Beatriz Catta Preta, que defendia delatores e
abandonou o caso ao ser ameaçada. Também tentou convocar o procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, que denunciou o presidente da Câmara por corrupção e
lavagem de dinheiro.
A
trajetória de Pansera é curiosa. Foi dirigente da UNE, trafegou pela ala
radical do PT e migrou para o ultraesquerdista PSTU, sem ser notado em nenhuma
das etapas. Sua carreira só engrenou com o cunhismo. Em 2014, virou deputado
pelo PMDB.
Até
julho, o pau-mandado se dividia entre a política e a administração de um
restaurante na Baixada Fluminense, que batizou de Barganha. "Achei o nome
no dicionário", ele explicou à repórter Clarissa Thomé.
Em
Brasília, o deputado conheceu acepções mais lucrativas para a palavra. Na
negociação do Planalto com o PMDB, foi premiado com o Ministério da Ciência e
Tecnologia.
A
pasta deveria estimular a inovação e preparar o Brasil para o futuro. Ao
entregá-la a um político tão inexpressivo, a presidente Dilma Rousseff mostra
que o país está condenado a continuar sendo apenas um grande exportador de
soja.
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Fonte: Folha de São Paulo, versão para assinantes, edição do dia 04/09/2014
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