sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Sociabilidade em rede e carência afetiva ou sobre o real e a 'projeção de vidas imaginárias'

Um texto curto, mas que "cruza" três campos do saber: micro-história (Giovanni Leivi, presente), psicossociologia e a psicologia em si. Fenômenos da socialização em rede. 

Redes Sociais.png

Por Soraya Rodrigues de Aragão 
(Società Italiana di Neuropsicologia) 

Vivemos em uma época em que a maioria dos internautas se classificam nas gerações y e z. São jovens adultos e adolescentes que nos trouxeram mudanças comportamentais a partir de novos paradigmas tecnológicos relacionais, e que as gerações anteriores, de uma certa forma, foram compelidas a se atualizar.
Com a democratização do acesso a internet e redes sociais, foram internalizados novos aspectos comportamentais e agregados novos valores sociais. Presenciamos as transformações sociais reconfigurando o processo de subjetivação das novas maneiras de se relacionar com o mundo e com o outro.
No entanto, junto às conexões, fotos, selfies e check-ins, podemos concluir que as redes sociais foram o propulsor importante para denunciar a nossa fragilidade egóica. Necessitamos incessantemente da aprovação do outro através dos likes e comentários que elevam a nossa autoestima. Necessitamos da validação, da aprovação do outro, em busca de convencer-nos daquilo que não temos certeza em nós mesmos.
Esse olhar perscrutador, avaliador e validativo do outro acerca dos nossos estados emocionais, do nosso sucesso e bem-estar, nos leva à conclusão de que nós não estamos convencidos internamente daquilo que somos e do que sentimos. Existe uma fragilidade em tudo isto e não foi a internet que desenvolveu. Na realidade estas questões já existiam; a internet foi apenas a ferramenta eliciadora para a eclosão dos conteúdos que presenciamos dia a dia nas redes sociais.
Somos seres gregários e nos realizamos nos relacionamentos interpessoais que nos validam através do olhar do outro e isto, além de legitimo, é necessário. No entanto, o que percebo nas redes sociais é uma necessidade premente e constante de autoafirmação, onde se percebe o movimento de convencer o outro do que ainda não estamos convencidos em nós mesmos. Em outras palavras, as redes sociais são o grande termômetro da insatisfação e insegurança das pessoas consigo mesmas.
Isto é comprovado pelo simples raciocínio de que se não conseguimos nos satisfazer em um nível mais profundo, necessariamente precisamos buscar isto fora.
É fato que não somos e nunca fomos, e nem seremos, autossuficientes, portanto, não podemos satisfazer sozinhos as nossas próprias necessidades e carências. Precisamos do outro, é do humano. Mas, na internet, existe uma caricaturização, uma exacerbação do nosso narcisismo.
Sendo assim, as redes sociais "caíram como uma luva" para a (in)satisfação humana e para a necessidade fundamental do olhar de aprovação do outro enquanto sujeito que necessita ser valorado e reconhecido, causando um aprisionamento desta necessidade constante de criar muitas vezes uma personalidade fictícia, uma realidade muitas vezes mascarada para satisfazermos as nossas fantasias e necessidades profundas.
Até que ponto acreditamos nesta realidade da felicidade constante, em uma vida sem problemas?
Nos afugentamos nas redes sociais para criarmos esta possibilidade. Criamos muitas vezes uma realidade pré-fabricada a partir das nossas carências afetivas e emocionais. Vivemos o que gostaríamos de viver na realidade e isto agora foi possibilitado pela socialização da internet.
...Mas... até que ponto podemos nos satisfazer nos reinventando muitas vezes na irrealidade?
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Fonte: http://obviousmag.org/. Título original: 'Carência afetiva e necessidade de auto-afirmação nas redes sociais'. 




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