Um texto curto, mas que "cruza" três campos do saber: micro-história (Giovanni Leivi, presente), psicossociologia e a psicologia em si. Fenômenos da socialização em rede.
Por Soraya Rodrigues de Aragão
(Società Italiana di Neuropsicologia)
Vivemos
em uma época em que a maioria dos internautas se classificam nas gerações y e
z. São jovens adultos e adolescentes que nos trouxeram mudanças comportamentais
a partir de novos paradigmas tecnológicos relacionais, e que as gerações
anteriores, de uma certa forma, foram compelidas a se atualizar.
Com
a democratização do acesso a internet e redes sociais, foram internalizados
novos aspectos comportamentais e agregados novos valores sociais. Presenciamos
as transformações sociais reconfigurando o processo de subjetivação das novas
maneiras de se relacionar com o mundo e com o outro.
No
entanto, junto às conexões, fotos, selfies e check-ins, podemos concluir que as
redes sociais foram o propulsor importante para denunciar a nossa fragilidade
egóica. Necessitamos incessantemente da aprovação do outro através dos likes e comentários que elevam a nossa
autoestima. Necessitamos da validação, da aprovação do outro, em busca de
convencer-nos daquilo que não temos certeza em nós mesmos.
Esse
olhar perscrutador, avaliador e validativo do outro acerca dos nossos estados
emocionais, do nosso sucesso e bem-estar, nos leva à conclusão de que nós não
estamos convencidos internamente daquilo que somos e do que sentimos. Existe
uma fragilidade em tudo isto e não foi a internet que desenvolveu. Na realidade
estas questões já existiam; a internet foi apenas a ferramenta eliciadora para
a eclosão dos conteúdos que presenciamos dia a dia nas redes sociais.
Somos
seres gregários e nos realizamos nos relacionamentos interpessoais que nos
validam através do olhar do outro e isto, além de legitimo, é necessário. No
entanto, o que percebo nas redes sociais é uma necessidade premente e constante
de autoafirmação, onde se percebe o movimento de convencer o outro do que ainda
não estamos convencidos em nós mesmos. Em outras palavras, as redes sociais são
o grande termômetro da insatisfação e insegurança das pessoas consigo mesmas.
Isto
é comprovado pelo simples raciocínio de que se não conseguimos nos satisfazer
em um nível mais profundo, necessariamente precisamos buscar isto fora.
É fato que não somos e nunca
fomos, e nem seremos, autossuficientes, portanto, não podemos satisfazer
sozinhos as nossas próprias necessidades e carências. Precisamos do outro, é do
humano. Mas, na internet, existe uma caricaturização, uma exacerbação do nosso
narcisismo.
Sendo
assim, as redes sociais "caíram como uma luva" para a (in)satisfação
humana e para a necessidade fundamental do olhar de aprovação do outro enquanto
sujeito que necessita ser valorado e reconhecido, causando um aprisionamento
desta necessidade constante de criar muitas vezes uma personalidade fictícia,
uma realidade muitas vezes mascarada para satisfazermos as nossas fantasias e
necessidades profundas.
Até
que ponto acreditamos nesta realidade da felicidade constante, em uma vida sem
problemas?
Nos
afugentamos nas redes sociais para criarmos esta possibilidade. Criamos muitas
vezes uma realidade pré-fabricada a partir das nossas carências afetivas e
emocionais. Vivemos o que gostaríamos de viver na realidade e isto agora foi
possibilitado pela socialização da internet.
...Mas...
até que ponto podemos nos satisfazer nos reinventando muitas vezes na
irrealidade?
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Fonte: http://obviousmag.org/. Título original: 'Carência afetiva e necessidade de auto-afirmação nas redes sociais'.
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