Por
Leont Etiel
Mesmo
sabendo que ‘suave é a noite’, Ravi Sharma tinha presente que o ‘o sol também
se levanta’. Após dias e dias em que a sua casa era a estrada, aflorava-lhe a
consciência que, com o amanhecer que se avizinhava, era chegado o momento de,
pelo menos por algum tempo, parar um pouco.
Entremeava,
por assim dizer, sono com conjecturas. Quando o dia estivesse a se levantar, de
imediato, iria à recepção do hotel e acertaria as contas da hospedagem. Partiria
sem o desjejum matinal, para logo apanhar os sopros de vento do alvorecer. Foi
o que sucedeu.
A
caminhar estrada a fora, decidiu que, no momento em que se deparasse com uma
bifurcação em três vias, tomaria o seu destino. Quando isso ocorresse, lançaria
mão como critério para decidir o caminho a seguir o que lhe chamasse a atenção
pelo enigma do horizonte que por ele se avistava, considerando que cada um traz
em si, de mais ou de menos, algo de segredo que se revelado fosse seria como
desnudar a alma, mas como isso não ocorre, ou não é para ocorrer, permanece
tudo lá no cerne que habita como parte constituinte da identidade da pessoa
habitada, que, em momentos de solitária distração, apenas rir, de leve, quando vem
a lume a lembrança do que lá, no cerne, está guardado.
Ao
chegar à bifurcação esperada, e com o critério de decisão que havia definido em
mente, a escolha foi rápida. Margeou pela via que se apresentava à sua
esquerda, avistou ao longe, num raio de distância média, um pequeno aglomerado
que ora se anunciava como casas, ora como pequenos estabelecimentos comerciais,
ora como uma fazenda, numa dessas ilusões de ótica, e também de pensamento, que
muitas vezes fazem as pessoas verem coisas onde elas não existem, mas que, por
elas serem vistas sem serem reais, passam a existir como “fantasmas” provocando
desassossego.
Aproximando-se
do aglomerado, que eram algumas poucas casas, notou que todas elas estavam
fechadas e que o contacto com o exterior dava-se apenas por pequenas frestas
das janelas. Apercebeu-se do grande silêncio que ali se fazia. Só interrompido pelo
ressoar do movimento do vento, mas este é cúmplice do silêncio, e ambos dão
vazão às universais correntes telúricas da solidão.
Afigurou-se
então no pensamento de Ravi Sharma a clarividência de uma decisão: ali ficar. Pensando assim, fez descer das costas a
mochila com os seus poucos pertences e dirigiu-se à sombra de uma árvore. Foi
quando a fresta da janela de uma das casas, atrás de si, se ampliou, fazendo
um rápido barulho. Ravi virou-se a observar, e um idoso senhor lhe acenou. Ele
correspondeu ao aceno e disse:
- Do que precisamos mesmo, é andar, desviar caminhos, refazê-los, para chegarmos ao que está dentro de nós.
- Do que precisamos mesmo, é andar, desviar caminhos, refazê-los, para chegarmos ao que está dentro de nós.
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