domingo, 13 de dezembro de 2015

Uma brisa de arte com classe: o triunfo do romantismo



Por Eduardo Prjadko 

Em termos históricos, o romantismo foi um movimento artístico que dominou a Europa por quase todo o século XIX. Obras como o romance Os sofrimentos do jovem Werther, de Goethe (1749 - 1832), marcaram o início de um jeito bastante particular de fazer, apreciar e sentir uma obra de arte. O artista deixou de ser uma mero servo da corte para finalmente ter a chance de mostrar quem ele realmente era, ou pelo menos uma idealização de si mesmo (embora nunca fosse admitir ser uma idealização).
Outras obras importantes da época foram a Nona Sinfonia de Beethoven (1770 - 1827), a ópera O Anel dos Nibelungos de Wagner (1813 - 1883) e o Fausto de Goethe. O que todas estas obras carregam em comum são a subjetividade, as emoções à flor da pele, o exagero, a busca pelo inalcançável. O romântico era antes de mais nada, um idealista. Idealizava o mundo ao seu redor de uma forma particular e morreria tentando mostrar sua visão, centralizando o mundo no seu próprio ego. A sua obra estava a cima de tudo!
O século XIX produziu grandes gênios que deram força à cultura ocidental, mas ao final do século, este grande movimento perdia sua força e dava lugar à outras tendências que se opunham ao romantismo. No entanto, o ocidente aprendeu a ser romântico e nunca mais deixou de ser. Digo isto pois até hoje vemos obras atuais e de grande sucesso com fortes características românticas. Claro que ao longo do século XX, outras formas de criar e apreciar as artes ganharam bastante força, mas vemos que em geral nunca deixamos de gostar e produzir obras que retratam o romantismo.
Na verdade não se pode dizer que uma obra atual é romântica apenas pela sua estética, isso porque não pertence ao contexto do romantismo. Mas podemos falar sim que muitas obras atuais carregam conceitos e estética de bases românticas muito fortes. Os exemplos mais significativos e notáveis desta afirmação estão no cinema, que é para o século XX o que a ópera foi para o século XIX, ou seja, o ápice de toda uma cultura onde se comunicam todas as linguagens artísticas que conhecemos. É no cinema onde convergem literatura, música, artes visuais, moda, atuação, fotografia, etc.
O exemplo mais atual que podemos dar sobre o triunfo do romantismo é o ganhador do Oscar 2015, Birdman. Para começo de conversa, todo o filme é centrado no ego e no alter ego de Riggan (Michael Keaton). Este, por sua vez, busca mostrar ao mundo o seu valor como artista, o seu valor como indivíduo dentro do mundo artístico. Ele sofre por isso; não quer ser apenas mais um entre os milhares. Busca a cima de qualquer coisa ser singular. Vemos Riggan movendo à tudo e à todos e arriscando toda sua carreira por algo que está além do dinheiro, além das pessoas, além da vida. Além disso, Riggan é importunado diariamente por seu maior demônio, o papel que deu à ele fama e notoriedade no passado: Birdman, um personagem representante da mediocridade em que se encontra Holliwood, segundo a crítica que o filme faz. 
Não é difícil encontrar paralelos com o romantismo do século XIX. Wagner construiu um teatro inteiro apenas para exibir suas obras, e em 1876 estreou o teatro com um dos maiores espetáculos que o mundo já viu. Goethe provocou uma onda de suicídios por toda a Europa ao publicar seu livro Os sofrimentos do jovem Werther. Beethoven se tornou um marco e até hoje é endeusado por suas obras. Ora, do que se trata Birdman se não a tentativa de Riggan de "devastar" o mundo com sua arte e provar sua grandiosidade? 
O que falar então do aclamado filme Whiplash? Andrew Neiman (Milles Teller) ultrapassa todos os limites físico e psicológicos para se tornar não apenas um baterista de jazz, mas o melhor baterista de jazz. O personagem não aceita, em hipótese alguma, ser pior do que qualquer um de seus colegas ou ser menos importante que qualquer outro assunto. Somente um verdadeiro romântico poderia assumir um fardo tão pesado como este.
Os exemplos de filmes que retratam paixões platônicas, seja por um objetivo, seja por uma pessoa, são inúmeros. Ter uma paixão platônica nada mais é do que almejar algo supostamente inalcançável. O público nunca deixou de amar enredos que envolvam o inalcançável e me parece que este gosto pelo impossível não acabará tão cedo. Se ampliarmos os horizontes desta análise e viajarmos um pouco mais, veremos que até mesmo os atuais blockbusters de super-heróis (que salvaram a indústria de cinema "holliwoodiano" na última década) contém elementos muito fortes do romantismo. No final das contas, tudo se trata de superação, cada um à sua maneira. 
O cinema é só o exemplo mais forte. Se olharmos para os lados, para as linguagens menos mainstream, bons exemplos também não faltarão. Na literatura temos Nicholas Sparks e Cinquenta Tons do Cinza vendendo feito água. Sparks se tornou famoso por escrever livros que envolvam amores impossíveis e muito drama platônico. Cinquenta Tons de Cinza não preciso nem explicar né? 
Nos teatros paulistanos, o que não faltam são opções de releituras de obras românticas, principalmente no Teatro Municipal. Óperas de Verdi (1813 - 1901) e Wagner, ícones do romantismo, são feijão com arroz no mais chique teatro de São Paulo. 
Naturalmente que não podemos resumir todo o cenário artístico atual ao romantismo. Existem inúmeras frentes artísticas bastante diferentes se desenvolvendo por aí. Arte Contemporânea por exemplo, continua sendo uma grande polêmica, sem falar na ascensão da Arte Urbana como uma das principais expressões artísticas atuais. Apesar disso, não se pode negar que o romantismo está mais presente do que nunca nas nossas vidas. O mais importante a se notar nesta observação é que nós gostamos muito disso. O romantismo definitivamente triunfou e continua triunfando, desde a sua invenção.
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