Por Aldo Fornazieri
(Escola de Sociologia e Política de São Paulo)
Desencadeado o impeachment
por Eduardo Cunha, um exército de analistas políticos e jurídicos se pôs a
campo para tentar desvincular as motivações do presidente da Câmara dos
processos e procedimentos que a tramitação terá nos próximos meses. Cavaleiros
da falsa ciência, esses analistas, ou são idiotas da objetividade, o que é
improvável, ou são manipuladores paratucanos que, em nome de uma suposta
neutralidade, têm a tarefa de construir uma aparência de legitimidade do futuro
governo peemedebista-tucano se o golpe triunfar. Esses analistas querem
esconder que as interpretações que veiculam ou vendem também são ingredientes
da luta política que está em curso. As suas opiniões não são neutras, assim
como não [se] pode desvincular o impeachment dos sentimentos, dos desejos, das
intenções, das ambições e dos interesses de Eduardo Cunha, do PSDB e de setores
do PMDB.
O
momento não é para omissões, pois o impeachment, tal como está posto, é um
golpe e a defesa da democracia não comporta neutralidades. O impeachment carece
de um fundamento jurídico e desta forma, esse instrumento constitucional, que
deveria servir apenas para superar crises derivadas de crimes de
responsabilidade do mandatário supremo da nação, está sendo degradado à
condição de mero instrumento de luta pelo poder. Abre-se um precedente perigoso
para o futuro da democracia, pois qualquer oposição pode lançar mão desse
instrumento para instruir lutas políticas menores.
Presidencialismo
não é parlamentarismo. Em que pese todos os erros do governo e de Dilma, o fato
é que ela tem o respaldo das urnas. As avaliações positivas e negativas da
opinião pública e a maior ou menor capacidade de governar são ingredientes que
variam segundo as circunstâncias e as conjunturas. E se não há ato doloso de
Dilma ninguém tem o direito legítimo e constitucional de tirá-la do cargo.
Cunha
foi movido por um ato de vingança e por uma chantagem consumada. Mas a
principal responsabilidade pelo golpe político posto em movimento por ele deve
ser debitada ao PSDB que, inconformado com o resultado do ato soberano das
urnas, não aceita a derrota e vem mantendo a espada de Dâmocles sobre o
pescoço de Dilma desde o início do segundo mandato. Se é verdade que a atual
crise tem falhas do governo como causas, é inequívoco que ela foi
artificializada e agravada pela ameaça permanente de abertura do processo de
impeachment alimentada por Cunha e pelo PSDB. Essa ameaça foi a fonte de todas
as incertezas e essas incertezas espalharam as chamas da crise e bloquearam a
viabilidade do governo e possíveis soluções para a crise econômica.
Não
há como a historiografia não registrar essa conduta golpista de Cunha e do
PSDB. A biografia de muitos ilustres líderes tucanos começou a ser reescrita
desde a semana passada, na medida em que passaram de uma posição contra o
impeachment a uma posição a favor do golpe. Começaram a se desfazer do lustre
democrático que ostentavam para assumir a desfaçatez do oportunismo político.
Como se diz, “a ocasião faz o ladrão”.
O
PSDB não pode ser isentado também da atitude anti-povo e contra o Brasil que
vem adotando. Sim, porque essa crise política artificial, que agrava a crise
econômica, joga suas consequências negativas maiores sobre os ombros do povo,
gerando desemprego e outros males, assim como prejudica a economia brasileira
como um todo.
Os
ilustres tucanos passaram a apoiar o golpe em nome da ideia de que o “mercado não
quer mais a Dilma”. Mas quem é o mercado? Os Andrés Esteves da vida? O BTG
Pactual? O Marcelo Odebrecht? A Tim, que derruba as ligações dos clientes para
que estes tenham que ligar novamente? As empresas sonegadoras investigadas pela
operação Zelotes? Os bancos que extorquem seus clientes? A Samarco? As empresas
estrangeiras que não pagam impostos sobre remessas de lucros? A elite
brasileira que recebe isenções, incentivos e benefícios fazendo com que a carga
tributária recaia de forma violenta sobre os mais pobres? As empresas
subsidiadas pelo BNDES? São os especuladores que ganham dinheiro com a crise?
Terá o mercado o monopólio da soberania popular? Francamente, o Brasil do
próximo período terá que ser o país da radicalização do conflito social, pois a
hipocrisia é despudorada, a enganação tornou-se a regra do jogo e o sacrifício
dos mais pobres chegou aos limites da suportabilidade.
Michel
Temer aderiu ao Golpe?
De
fato, o silêncio de Temer sobre o impeachment é ensurdecedor. Emite sons e
alaridos dos desejos da ambição. Emergirá da figura polida do vice-presidente a
fisionomia de Joaquim Silvério dos Reis? A imprensa dá conta de que ele foi
afiar os punhais nas pedras de amolar de Aécio Neves, de José Serra e de outras
figuras que querem chegar ao poder por atalhos antidemocráticos.
Os
idiotas da objetividade e os manipuladores de opinião vendem a ideia de que
Temer organizará um “governo de união nacional”. Será um governo de união
nacional um governo que nasce da conjura de corruptos, de inconformados, de
ambiciosos, de vingativos e de irresponsáveis?
Um
possível governo Temer, tudo indica, será de instabilidade provavelmente maior
do que um governo de continuidade de Dilma. Pesará sobre ele a acusação de
ilegitimidade. Com o agravamento da crise econômica e do desemprego, os
movimentos sociais afluirão às ruas. O PT e Lula passarão para a oposição
visando um resgate de sua desgraça. Sendo o PMDB um ator competitivo em 2018, o
PSDB guardará uma distância regulamentar e passará para uma oposição mais
acirrada se a crise se agravar. Um governo Temer não conseguirá escapar também
das injunções das investigações da Lava Jato.
Os
idiotas da objetividade e os manipuladores de opinião acreditam que o programa
peemedebista “Uma Ponte para o Futuro” será a salvação da lavoura. No Brasil a
insensatez e a esperteza políticas difundem a ideia de que programas feitos em
gabinetes de especialistas possam valer alguma coisa. Se valessem, a solução
dos problemas brasileiros seria fácil. Nenhum programa será eficaz se não tiver
enraizamento social, se não tiver fundamento nas forças vivas e reais da
economia, da sociedade, dos movimentos populares, da intelectualidade, das
universidades, das entidades da sociedade civil.
Por
onde quer que se olhe, a crise, agravada pelo processo de impeachment, não terá
uma solução fácil e nem tranquila. Esse processo, tal como foi posto, precisa
resvalar para as ruas e reclama o protagonismo da sociedade civil e dos
movimentos sociais. Caso contrário, se o golpe triunfar, a onda conservadora
agredirá as conquistas sociais e o peso do ajuste será jogado de forma mais
virulenta sobre os ombros dos trabalhadores. Para além disso, é preciso lutar
contra esse processo de ruptura democrática. Usar atalhos não fundados na
soberania popular para chegar ao poder é inaceitável. Usar o impeachment porque
ele está inscrito na Constituição para tirar a presidente Dilma não lhe garante
a legitimidade e nem a justiça. Usar uma lei para punir um inocente, além de
ser um ato injusto, é um ato criminoso.
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Fonte: http://jornalggn.com.br/. Título original: 'PSDB, o Sócio de Eduardo Cunha no Golpe'.
Quando a cabeça não pensa o corpo padece, diz um ditado, ou seja, quando há um projeto fixado apenas na manutenção do poder, de qualquer partido, quem sofre golpe na verdade é o povo, os excluídos verdadeiros inocentes a quem é dirigida a conta, através de impostos, etc. A insatisfação do povo está generalizada e sentida não por efeito da mídia e sim pelas péssimas e inegáveis condições de vida.Talvez o melhor utopia seja a mudança de toda essa cúpula política corrompida. O povo está sem esperança, desiludido e assistindo a elite do poder se beneficiando de regalias e ganhos jamais imaginados em nossa história.
ResponderExcluirAté quando teremos os piores índices de IDH, de avaliação de educação, de violência e saúde?