De forma literária, o texto aí abaixo diz de modo simples e direto o que determinadas abordagens histórico-sociológicas e psicossociais gastam tempo (e papel) para expressar.
Por Sílvia Marques
Vínculo
nada mais é que uma ligação. Quando alguém é contratado por uma empresa, se diz
que esta pessoa tem um vínculo empregatício, isto é, está ligada, conectada à
empresa.
Na
vida afetiva estabelecemos vínculos desde a mais tenra infância. Primeiramente
com a mãe. Mesmo um bebezinho muito novo reconhece o cheiro e a voz materna, se
sentindo acalentado e em harmonia ao encontro do seio da mesma.
O
bebê também estabelece rapidamente vínculos fortes com o pai e outros parentes
que convivem em sua casa com grande regularidade.
Na
escolinha, mesmo as crianças bem pequenas já se sentem mais confortáveis e
felizes perto de determinados coleguinhas e professoras.
E
por aí vamos por toda a nossa vida, construindo relações a partir de
sentimentos e emoções que as pessoas nos despertam. Amamos nossos parentes e
desejamos apenas coisas boas a eles, mas fortalecemos mais os vínculos com
alguns membros da família. O mesmo podemos dizer em relação a colegas,
ex-colegas e até mesmo à amigos.
Fazemos
amizades e temos boas relações profissionais durante toda a vida, mas com
alguns colegas os projetos fluem melhor e com alguns amigos a relação vai mais
fundo, tem mais intimidade, cumplicidade e de certa forma sentimos a nossa vida
irremediavelmente unida a destas pessoas.
Quanto
mais forte o vínculo, mais poderosa a relação. Sem vínculos fortes, elementos
externos abalam a amizade. Muita gente afirma que se afasta de um amigo porque
este deixou de trabalhar na mesma empresa ou se mudou para outra cidade.
Concordo que a distância geográfica atrapalha encontros frequentes, mas se a
amizade é verdadeira, em algum momento, estas pessoas vão arrumar um jeito de
se reencontrarem, por mais que este dia demore a chegar. E quando finalmente
ocorrer o reencontro, ambas as partes sentirão que nada mudou apesar do tempo
distante.
Ter
um vínculo especial com alguém, independente de ser uma amizade, uma relação
familiar ou um namoro/casamento é o mesmo que ter a pessoa impressa em nossa
alma, arraigada à nossa História, fazendo parte da constituição das nossas
lembranças mais profundas e do nosso ser como um todo.
Milhares
de pessoas passam por nossa vida. Muitas apenas uma vez. Outras repetidas
vezes, durante anos, mas nem por isso se integram à nós por mais que tenhamos
um relacionamento cordial e até mesmo agradável. Quem já não passou pela
situação de simpatizar com um vizinho ou um colega, mas não ter vontade de
aprofundar a relação? Por tal razão, com alguns vizinhos só conversamos no
elevador. Com outros, levamos para casa. Por tal razão, com alguns colegas
tomamos um café de vez em quando. Com outros, nos tornamos sócios, amigos,
confidentes. Por tal razão, encontramos alguns parentes só em datas festivas ou
em casos de enfermidade e com outros partilhamos o nosso dia a dia.
Mas
por que isso acontece? Por que nos sentimos mais impelidos para algumas pessoas
do que para outras? Por que sentimos mais falta do amigo A do que do B mesmo os
dois sendo gentis, inteligentes, confiáveis etc? O amor, a paixão e a amizade
ainda são temas misteriosos para a ciência e embora os pesquisadores
compreendam uma série de reações que tais sentimentos desencadeiam em nosso
cérebro, ainda existem muitas perguntas sem resposta para definir os porquês
das relações humanas. Arrisco a dizer, com o meu olhar de leiga extremamente
afetuosa, que nos ligamos, nos vinculamos mais fortemente, com aqueles que, além
de apresentarem um grande número de gostos em comum e uma forma de organizar o
pensamento semelhante, sentem de forma parecida e apresentam necessidades
psicológicas congruentes, levando em conta que relações são espelhos.
Sem vínculos, a vida não faz sentido, pois é só por meio
deles que nos relacionamos verdadeiramente e temos nossas emoções mais
profundas ativadas. É só por meio deles que fazemos a diferença na vida dos
outros e os outros fazem a diferença na vida da gente. É só por meio deles que
nos transformamos por meio das pessoas e as pessoas se transformam por meio de
nós. Os vínculos nos sensibilizam. São os vínculos que trazem à tona o mais
poderoso da nossa humanidade.
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Fonte: http://obviousmag.org/
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