quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Escrever - o eu, o nós.

"Escrever é desaparecer na morfina dos hemisférios dos ofícios sem esperar retorno, sem esperar os rebocos das fendas baptismais, transplantando gritos da tremenda lucidez sob locomotivas acesas de pensamento____hospícios irrefreáveis aglutinam-se e se espalham simultaneamente, anonimamente para tentarem dilacerar o possível poema: dar vida adentro dos travessamentos da morte (carcaças enfeitiçadas, expiadas e aguilhoadas entre os baques das transumâncias e os arados a-sígnicos dos engolfamentos inconscientes): revelar-se nos hiatos-zoológicos de si próprio antes de se abrir aos brônquios portuários-ocasionais da semanturgia e prosseguir rés aos ecos dos escorpiões do mundo, à memória aquática gangrenada pela lactescência cosmogónica_____mímica estética acompanha as tentativas das descodificações-uivantes; escrever é urdir dilemas placentários incomensuráveis, é cartografar interferências geológicas, é gaguejar nas intersecções repulsadas, é desvendar impiedosamente ARABESCOS nas foices das caiadoras de cometas inalcançáveis_____acontecer soberanamente no corpo hipnótico-jazzístico das medusas que absorvem expressões-contraditórias plantadoras de migrações clandestinas e de refúgios propiciatórios de desaparecimentos onde as escalas da correnteza dos resíduos arrepanham diferenças arteriais, obeliscos labirínticos, transmutações siderúrgicas desmanteladas pelos olhares ancestrais-da-agoridade que jamais abocarão a visibilidade completa (nos rituais dos desertores hipnógenos há círculos de corvos assopradores de caligrafias obsessivas: incorporar os rumores dos insectos da gravitação de ex-critas nas embarcações de mortalhas cruzadoras de cabeças-delirantes_______escrever imperceptivelmente com os alvéolos das escavações medulares, chacoalhando as malhadeiras dos bestiários: aqui, as sanguessugas fundentes assinalam as catástrofes necessárias aos rastros das metástases da palavra em recomeço contínuo: ascendentes de enciclopédias vitícolas garatujam-se com as falanges prenhes de urtigas giratórias e nas incertezas das invaginações-silabárias os instantes do espanto serão sempre uma vigília das cartomantes!)."

(Luis Serguilha, in Embarcações, Porto: Campo das Letras, 2007)

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