"Escrever é desaparecer na
morfina dos hemisférios dos ofícios sem esperar retorno, sem esperar os rebocos
das fendas baptismais, transplantando gritos da tremenda lucidez sob
locomotivas acesas de pensamento____hospícios irrefreáveis aglutinam-se e se espalham
simultaneamente, anonimamente para tentarem dilacerar o possível poema: dar
vida adentro dos travessamentos da morte (carcaças enfeitiçadas, expiadas e
aguilhoadas entre os baques das transumâncias e os arados a-sígnicos dos engolfamentos
inconscientes): revelar-se nos hiatos-zoológicos de si próprio antes de se
abrir aos brônquios portuários-ocasionais da semanturgia e prosseguir rés aos
ecos dos escorpiões do mundo, à memória aquática gangrenada pela lactescência
cosmogónica_____mímica estética acompanha as tentativas das
descodificações-uivantes; escrever é urdir dilemas placentários
incomensuráveis, é cartografar interferências geológicas, é gaguejar nas
intersecções repulsadas, é desvendar impiedosamente ARABESCOS nas foices das
caiadoras de cometas inalcançáveis_____acontecer soberanamente no corpo
hipnótico-jazzístico das medusas que absorvem expressões-contraditórias
plantadoras de migrações clandestinas e de refúgios propiciatórios de
desaparecimentos onde as escalas da correnteza dos resíduos arrepanham
diferenças arteriais, obeliscos labirínticos, transmutações siderúrgicas
desmanteladas pelos olhares ancestrais-da-agoridade que jamais abocarão a
visibilidade completa (nos rituais dos desertores hipnógenos há círculos de
corvos assopradores de caligrafias obsessivas: incorporar os rumores dos
insectos da gravitação de ex-critas nas embarcações de mortalhas cruzadoras de
cabeças-delirantes_______escrever imperceptivelmente com os alvéolos das
escavações medulares, chacoalhando as malhadeiras dos bestiários: aqui, as
sanguessugas fundentes assinalam as catástrofes necessárias aos rastros das
metástases da palavra em recomeço contínuo: ascendentes de enciclopédias
vitícolas garatujam-se com as falanges prenhes de urtigas giratórias e nas
incertezas das invaginações-silabárias os instantes do espanto serão sempre uma
vigília das cartomantes!)."
(Luis Serguilha, in Embarcações, Porto: Campo das Letras, 2007)
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