Há, entre alguns povos orientais, o hábito de as pessoas se despedirem com 'muito apreço'. A razão é que - explicou-me pacientemente um amigo indiano certa feita - leva-se muito em conta a probabilidade de a despedida ser a última. Bem, no Ocidente, por estes tempos de fim de ano/início de outro, possivelmente isso seja algo que valha a pena pensar, assim como em outros aspectos das milenares culturas orientais. Dando uma vista de olhos num livro do poeta português Manuel Alegre ('Chegar Aqui'), revi essa preciosidade aí abaixo, que se insere inteiramente nessa perspectiva da brevidade da vida. Chama-se 'Agora Mesmo', mas poderia ser também a 'A Morte a Cada Instante'.
Por
Manuel Alegre
Está
gente a morrer agora mesmo em qualquer lado
Está gente a morrer e nós também
Está gente a despedir-se sem saber que para
Sempre
Este som já passou Este gesto também
Ninguém se banha duas vezes no mesmo instante
Tu próprio te despedes de ti próprio
Não és o mesmo que escreveu o verso atrás
Já estás diferente neste verso e vais com ele
Os amantes agarram-se desesperadamente
Eis como se beijam e mordem e por vezes choram
Mais do que ninguém eles sabem que estão a
[despedir-se
A Terra gira e nós também A Terra morre e nós
Também
Não é possível parar o turbilhão
Há um ciclone invisível em cada instante
Os pássaros voam sobre a própria despedida
As folhas vão-se e nós
Também
Não é vento É movimento fluir do tempo amor e morte
Agora mesmo e para todo o sempre
Amen
Está gente a morrer e nós também
Está gente a despedir-se sem saber que para
Sempre
Este som já passou Este gesto também
Ninguém se banha duas vezes no mesmo instante
Tu próprio te despedes de ti próprio
Não és o mesmo que escreveu o verso atrás
Já estás diferente neste verso e vais com ele
Os amantes agarram-se desesperadamente
Eis como se beijam e mordem e por vezes choram
Mais do que ninguém eles sabem que estão a
[despedir-se
A Terra gira e nós também A Terra morre e nós
Também
Não é possível parar o turbilhão
Há um ciclone invisível em cada instante
Os pássaros voam sobre a própria despedida
As folhas vão-se e nós
Também
Não é vento É movimento fluir do tempo amor e morte
Agora mesmo e para todo o sempre
Amen
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