quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Aquilo que se deseja


O poema Desiderta (palavra em latim que significa 'aquilo que se deseja') do filósofo-poeta estadunidense Max Ehrman tem inspirado agnósticos, muito embora, no Brasil, o poema tenha sido traduzido alimentando o mercado religioso, designadamente, por exemplo, na versão narrada por Cid Moreira. Mas não é esse o seu propósito. Religiões, todas devem ser respeitadas, para que todos que têm uma respeitem o direito dos que não têm nenhuma ou não têm crença em algum deus - sejam eles ateus ou agnósticos. O que não é assimilável é que uma crença religiosa, como assunto pessoal/da esfera privada, seja transposta à esfera pública, regrando-a. A transição de um ano a outro, em todas as culturas, é momento de reflexão e de expressar votos. É assim no mundo ocidental-cristão e também em outros mundos, que têm calendários diferentes do nosso. Aos que têm passado por este espaço, vai aí abaixo, através do poema Desiderata, os meus votos votos para 2016. Todos nós - independentemente de quem somos, da posição econômico-social, da cor da pele, da língua que falamos, etc. - fazemos parte da mesma natureza, somos da mesma espécie, a espécie humana, e somos apenas um minúsculo ponto no enigmático universo, no qual seremos dissolvidos após o perecer - 'a indiferencialidade do nada'. O melhor que se faz é passar pelo trem  desta vida num 'vagão de primeira classe'. Feliz Ano Novo! Happy New Year! Feliz Año Nuevo! Bonne Anné! Felice Anno Nuovo! Ein glückliches neues Jahr!





quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

O que fizemos de nós


Em fins da década de 1980, Zuenir Ventura lançou o '1968 - O Ano Que Não Terminou '. Li-o efusivamente, vendo em suas páginas o mundo cultural e político da 'geração de  68' e das duas gerações que lhe seguiram, sendo muitos destas duas gerações também filhos daquela, pela formação e perspectiva de mundo que dela assimilaram. Há não muito tempo, Zuenir trouxe a lume uma espécie de continuidade do 'Ano que Não Terminou', sob o título de '1968 - O Que Fizemos de Nós'. Os olhos postos em outros tempos. Embora não veja o livro com o mesmo entusiasmo que o anterior, penso que é uma leitura a ter em conta. Não me entusiamo, por exemplo, com uma determinada influência que Zuenir Ventura deixa transparecer de Michel Mafessolli, tomando formulações suas para análises quando, talvez, elas caibam mais para descrição. De qualquer forma, parece-me bastante instigante a compreensão de Zuenir sobre certos segmentos da juventude hoje. Estão muito distantes do tipo de conscientização dos jovens 'filhos de 1968'. Por exemplo, as raves, no tocante ao significado da liberdade sexual, não têm paralelo com Woodstock. De igual modo, a perspectiva sobre as drogas - entre os 'filhos de 1968', usuários ou não, havia um elemento de percepção sobre elas que as inscrevia no movimento da contracultura e de contestação ao que era considerado como conjunto de valores opressivos da sociedade. Como resultado disso, entre nós, vimos Raul Seixas cantar 'a sociedade alternativa'. Bem, independente de reparos, como dito, vale a pena a  leitura de 'O Que Fizemos de Nós'. 

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

O fim da música?

Sem a interrogação, esse é o título de um texto de Vladimir Safatle (USP), o qual lhe tem rendido questionamentos. Safatle trata do quadro musical brasileiro atual. Dentre os questionamentos, duas críticas lhe são dirigidas: "ser elitista" e "ignorar a autenticidade do popular". Pois bem, reproduzo o texto aí abaixo, e o subscrevo inteiramente - letra por letra, palavra por palavra. É de se rir de tais críticas, pela aplicação, por exemplo, de "esquemas histórico-sociológicos" toscos ao campo da cultura. E também por se confundir produto da 'indústria cultural' com manifestação popular autêntica. Diz Safatle que 'a música brasileira se transformou na trilha de fundo da literalidade dos nossos horizontes'. A conferir. 



 Por Vladimir Safatle 
(Departamento de Filosofia - USP)
  
Em todos os momentos em que teve desenvolvimento econômico, o Brasil soube acompanhá-lo de explosão criativa em sua produção cultural, menos agora.
No interior de tais explosões, a música costumava desempenhar um papel de alta relevância. A ideologia cultural nacional sempre foi, em larga medida, uma ideologia musical. Ela aplicava assim, em pleno século 20, essa estratégia política da formação dos Estados-nação no século 19, que consistia em utilizar a música para a construção das "nacionalidades".
Como tivemos de esperar até 1930 para começar a deixar de sermos um mero clube associativo de donos de fazendas para sermos algo mais próximo de um país, foi a partir daí que a música brasileira passou à linha de frente do debate cultural. A construção nacional de Villa-Lobos e das pesquisas musicais de Mário de Andrade são exemplos paradigmáticos nesse sentido.
Na Europa do século 19, a junção entre Estado, nação e povo se fez, entre outros meios, pela elevação da música à linguagem de construção do espaço social e de reconciliação das populações como unidade.
Criou-se o folclore, instrumentos típicos, particularidades que, muitas vezes, eram apenas variações estruturais de constantes globais. Assim, a narrativa do povo que encontra seu solo e os afetos que o singularizam vinha sob a forma do canto, deste mesmo canto que, já dizia Rousseau, era a forma da primeira linguagem que nos deixaria mais próximos da origem e da autenticidade.
Que tenhamos apreendido cirurgicamente a nos orgulhar da música brasileira como expressão maior da espontaneidade bruta de nossos sentimentos e modos de pensar, como modelo de convivência possível entre camadas sociais distintas e distantes (afinal, quando o samba fala alto tudo se mistura), é algo que não deveríamos estranhar. Como vários outros, este país foi construído a ferro, fogo e música.
No entanto, toda operação de ideologia cultural sempre produz mais do que consegue controlar. Essa alta importância da música acabou por produzir um sobreinvestimento. Mesmo que a música brasileira tenha se reduzido, em larga medida, aos limites da canção (a forma musical por excelência de consolidação de laços sociais devido a sua estereotipia formal e de fácil recognição), é inegável que o Brasil, como alguns poucos outros países, soube extrair genialidade de tais limites.
Que, nos anos 1970 e 1980, músicos populares tenham se transformado em expoentes maiores da consciência crítica nacional, trazendo para a esfera da alta circulação cultural aquilo que tinha a capacidade de complexificar nossa imagem de país, de sociedade e de afetos, apenas demonstra como toda construção de um solo e de um território acaba por ter de lidar com o que procura nos levar para além de tal território. O desenvolvimento econômico parecia levar a uma explosão cultural que tendia a complexificar as imagens produzidas por nossa ideologia cultural.
Mas algo de peculiar ocorre a partir dos anos 1990, chegando a seu ápice neste último decênio. A partir de certo momento, impera o movimento que vai do É o Tchan, da era FHC, ao funk e sertanejo universitário do lulismo.
A despeito de experiências musicais inovadoras nestas últimas décadas, é certo que elas conseguiram ser deslocadas para as margens, deixando o centro da circulação completamente tomado por uma produção que louva a simplicidade formal, a estereotipia dos afetos, a segurança do já visto, isso quando não é a pura louvação da inserção social conformada e conformista. A música brasileira foi paulatinamente perdendo sua relevância, para se transformar apenas na trilha de fundo da literalização de nossos horizontes.
Ultimamente, todas as vezes que se levanta a regressão da qual a música brasileira é objeto se é acusado de elitista. Afinal, tais músicas teriam vindo dos estratos mais pobres da população brasileira. O que se chora seria, na verdade, o fim da dominância cultural da classe média urbana e o advento das classes populares e das classes do "Brasil profundo".
Como se fosse o caso de aplicar um esquema tosco de luta de classes ao campo da cultura. Para esses que escondem sua covardia crítica por meio de tal exercício, lembraria da necessidade de desconstruir a farsa de um "popular" que não traz problema algum para o dominante. Lembraria de como não há arte proletária, cultura proletária, religião proletária, moral proletária, Estado proletário, pois, como dizia Marx, os proletários são aqueles que não têm religião, Estado, moral (e acrescentaria música, cultura). Por isso, eles são a indicação do que ainda não tem forma nem imagem. Sendo assim, em vez de aplicar esquemas sociológicos primários, melhor seria ouvirmos de fato o que se produz e nos perguntarmos por que chegamos a esse ponto.
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Fonte: Folha de São Paulo, versão para assinantes do dia 09/10/2015. 

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

O corpo incontido da palavra

Pois então, entre as indicações de filmes e leituras para tempos de férias, anoto agora a "escrita-movimento", inquieta, do lusitano Luís Serguilha. Escrita transbordante, incursionando por trás da aparência das palavras, como que na busca de um conforto ontológico que parece ser vislumbrado apenas pelas frestas das janelas do tempo.  No seu KOA'E (Belo Horizonte, Anome Livros), por exemplo, pode-se ler: "No interior do corpo das escrituras as primeiras energias buscam as regiões mais obscuras da vida e os poetas-cavalos-surfistas desocultam as ebulições da afectividade, as impetuosidades selvagens, porque absorvem o sol-aberto-na-pedra, o desvairamento informulável das palavras e o renascimento do ser que recupera o magnetismo e a transcendência do mundo". Ou ainda: "a palavra suicida-se dentro de si própria porque arriscou em dizer o que não se pode falar: a boca que a acolheu cauterizou-se desejando-a ininterruptamente: uma voz silencia-se nas profundezas da fala porque a imobilidade verdadeira da boca é o tempo puro a desfocar-se." Aí abaixo, uma incursão mais estendida na obra de Serguilha, pela pena ensaística-filosófica de Chiu Yi Chih.  

Luís Serguilha e o seu livro KOA'E: escrita em movimento
transbordante 


                     ESCRITURA E FILOSOFIA NA POÉTICA DE LUÍS SERGUILHA

Por Chiu Yi Chih*

Na poesia de Luís Serguilha vislumbramos cascatas nômades, variações cromáticas de uma duração infinita. O espaço de sua escritura é percorrido por feixes de intensidades e multiplicidades cujas ressonâncias se expandem em miríades de sensações e pulsações tornando impossível qualquer decodificação simplista ou interpretação analítica. Mais do que um mosaico difuso de imagens, sua escritura poética se assemelha a uma espécie de maquinaria cujo dinamismo se deixa apreender como potencialidade energética, proliferação de partículas anárquicas, desprendimento na espessura do Ser. É recorrente nessa extraordinária maquinaria a presença de acontecimentos que se incrustam um no outro, como se estivéssemos diante de um aglomerado de materiais enganchados e acumulados de modo perigosamente assustador. Não é por outro motivo que, fulminante, a escritura serguilhana prossegue, retrocede e avança: máquina heteróclita à semelhança daquelas engenharias maquínicas do escultor francês Jean Tinguely, engrenagem pontilhada pelo uso dissonante de verbos que associam elementos distintos. Para além do mero jorro verbal, ela se fractura, se fragmenta e se revigora através da profusão de metáforas inesperadas. Isso pode ser observado num fragmento-recorte de seu livro KOA'E:

                    (...) As sedas abandonadas dos animais alastram-se
no tutano das constelações aguçadas
                                        pelos soluços das pegadas mareantes
                              e as manadas desertoras ejaculam gérmens nos
interstícios espremidos dos salões nucleares
                como fagulhas babélicas a dedilharem nos soldados-
cantores das grutas                    
                                                onde as fibras embevecidas das
descendências aprofundam os circuitos dos chifres planetários (...)

Nesse fragmento LAHAR XXII e em inúmeros outros de sua obra, percebe-se que há uma contaminação ulcerosa na matéria verbal. Os mecanismos sintáticos se alargam de tal modo que rastros e sulcamentos da escrita se diferenciam em gestos-limite mostrando-se irredutíveis a qualquer tipo de enquadramento sintético. Estamos assim diante de espaçamentos de um tempo contínuo cindido em si próprio onde o escultor de palavras corta, raspa, funde, solda, costura e escava fluxos de desejo adormecidos na matéria do caos. Vejamos outro fragmento de LAHAR VIII de seu livro Singradura-do-Capinador-LAHARS que pertence ao conjunto das obras reunidas sob o título KOA'E, este último livro recentemente lançado aqui no Brasil pela Anome Livros. Ali as imagens são condensadas num ritmo maquínico alucinante, alinhavadas por verbos que sempre sugerem movimentos e deslocamentos:

As dilacerações nocturnas dos desvendados rochedos
rodopiam nas bocas extremas das mãos
                         onde continuamente
                              a telefonia do alabastro conduz o sacrifício dos
presságios até ao embarque das conspirações dos sulcos
                    Um ciclo de tigres é modelado compassivamente
                                  pelas bandeiras infinitas dos despenhadeiros
                  e a investigadora orgíaca conduz o lóbulo salino das
orquídeas até à legenda nuclear dos pressentimentos
                     cravejada na virgindade das declinadas habitações

            Nessa escritura plurissensorial as palavras se rebelam contra os princípios da lógica gramatical, excedem o espaço da página, embrenham-se em zonas de indiscernibilidade, ou seja, elas não se contentam em habitar territorialidades pré-fixadas. Como lianas e cipós se entrelaçando nos seus novelos labirínticos, elas escapam do esquema lógico-aristotélico cuja trama seria constituída por ações e imagens sinteticamente encadeadas. Ao transgredirem o esquematismo unilateral de certas velharias estéticas, elas "reescrevem-se" performaticamente numa nova configuração espaço-temporal. Portanto, elas se enredam numa densa volumetria a escorrer por entre relevos e paisagens singulares.
        Os poemas de Serguilha, nesse caso, podem ser lidos à maneira de fragmentos prismáticos. Fragmentos estes que se recortam, se fundem – como peças metálicas ou cristais – à imensa fluidez da massa orgânica. São pedaços cortados e recombinados em fluxos de significânciaNesse aspecto, não devemos buscar um significado unívoco ou identificar o sentido que existiria por detrás de um determinado enunciado. Tudo pode ser lido fragmentariamente. Aqui e ali emergem fagulhas, estilhaços, anfractuosidades da língua. 
        É como se a escritura, desdobrando-se e redobrando-se num vórtice atordoante, dispensasse explicações, pois aquele que quiser decifrá-la acabará se perdendo num movimento vertiginoso de criação vulcânica. Não se trata de uma questão de interpretação ou decifração do texto; ao contrário, exige-se nesse tipo de leitura o ato de deslindar – como diria Roland Barthes – de desenredar aqueles sulcos invisíveis constitutivos do próprio ser da linguagem, a saber, daquilo que se evidencia como Texto, compreendido como máquina abstrata e virtual de infindáveis possibilidades. Assim, não é por outra razão que se percebe a ausência do Autor, pois, na medida em que o autor desaparece nesse fluxo de experiência da linguagem onde o que importa não é a expressão lírica de uma subjetividade específica, solidifica-se cada vez mais a "eclosão de sons peregrinos-tribais ao encontro das palavras pré-babélicas", e que, "sem pontos fixos no espaço, criam linhas de fuga com a exteriorização da vida absoluta, com a correnteza relampagueante das conexões poéticas que se encontram nas multiplicidades do corpo indomável"[1]

No interior do corpo das escrituras as primeiras energias buscam as regiões mais obscuras da vida e os poetas-cavalos-surfistas desocultam as ebulições da afectividade, as impetuosidades selvagens, porque absorvem o sol-aberto-na-pedra, o desvairamento informulável das palavras e o renascimento do ser que recupera o magnetismo e a transcendência do mundo (SERGUILHA: 2011, p.101).


Quem fala nesse agenciamento de enunciação poética é a própria linguagem que se autocria e se autodevora numa espécie de desdobramento assignificante. De certo modo, o que a poética serguilhana persegue em suas dobraduras e variações contínuas não é senão a própria potência da linguagem, enquanto ser-desdobramento de si mesmo, arrebatamento profuso de multiplicidades díspares que se constituem como performances sem começo e fim, descolamentos centrífugos e centrípetos que engendram um contra-discurso. Ainda no mesmo poema LAHAR VIII é possível detectar os indícios dessa afluência:

O incêndio da soberania vegetal argumenta a rapidíssima
anunciação dos quarteirões das bailarinas
                                           aduladoras dos passageiros anfíbios
                   e os esteiros cultivadores das ventanias embriagam-se de
regenerações de heróis centenários
                         que confluem estranhamente
                                          para o incólume arrebatamento do distinto
mergulho das baleias-espelhos (...)

Nesse trecho em particular pressentimos a iminência de um acontecimento majestoso e mítico. Sem explicitar os nexos lógicos desse acontecimento, o poeta lança imagens num fluxo aparentemente desgovernado. É ilógico, insano ou descontrolado somente para a mentalidade cartesiana/aristotélica, porque basta simplesmente ouvir a musicalidade desses versos para perceber que o sentido se encontra mais no cromatismo orquestrado do que no encadeamento sintagmático.
A escritura, nesse caso, se realça e se retalha como decomposição, destruição da própria língua abrindo espaço para o aparecimento do devir interminável: fluxo matérico-musical, o qual longe de ser arbitrário, se difunde organicamente pelo espaço da criação estética. Gilles Deleuze esclarece tal operação de criar uma sintaxe, uma língua estrangeira dentro da própria língua materna:

O que a literatura produz na língua já aparece melhor: como diz Proust, ela traça aí precisamente uma espécie de língua estrangeira, que não é uma outra língua, nem um dialeto regional redescoberto, mas um devir-outro da língua, uma minoração dessa língua maior, um delírio que a arrasta, uma linha de feitiçaria que foge ao sistema dominante...Criação sintática, estilo, tal é o devir da língua: não há criação de palavras, não há neologismos que valham fora dos efeitos de sintaxe nos quais se desenvolvem. Assim, a literatura apresenta já dois aspectos, quando opera uma decomposição ou uma destruição da língua materna, mas também quando opera a invenção de uma nova língua no interior da língua mediante a criação de sintaxe (2008, p.15).



     Desse modo, é compreensível o procedimento pelo qual Serguilha justapõe substantivos separados por um hífen de maneira a criar sentidos insuspeitados, dilatando a própria estrutura sintática da língua, como se pode verificar, por exemplo, nesse fragmento que extraímos do seu livro Processionárias:

(...) A nodosidade sónica da cidade limítrofe
                                                é flanqueada geograficamente
                              pelas axilas lendárias da salsa-dos-pântanos
                                                        onde a mecânica das especiarias
liberta as acrobacias-betoneiras do fogo de artifício (...)

            Noutro fragmento, ocorre a mesma operação:

                     aqui as enciclopédias propulsoras
da telefonista-loba-da-cidade exibem
                      as bombagens dos engraxadores-
guerreiros da resplandecência__ gôndolas-
estações tacteadas pelos pólipos das fábulas (...)

     Nesse processo de criação, junções de palavras como "salsa-dos-pântanos", "acrobacias-betoneiras", "telefonista-loba-da-cidade", "engraxadores-guerreiros" e gôndolas-estações" se agenciam como metáforas disjuntivas, visto que remanejam os sentidos já desgastados do nosso universo semântico e suscitam novas associações de sentidos. Tal procedimento de colagem enseja, por assim dizer, o ininterrupto fluxo dos próprios sintagmas da criação. As palavras se tornam lavas inflamadas de um vulcão cujo nome se entreabre e se redescobre em saliências evocadas. 
      Acompanhando as sonoridades, as conjunções vocabulares e os intervalos provocados pela escritura serguilhana, podemos compreender a afirmação de Deleuze em relação ao universo da matéria sensível exposta em A dobra: Leibniz e o barroco:

(...) torna-se evidente que o mecanismo da matéria é a mola. Se o mundo é infinitamente cavernoso, se há mundos nos menores corpos, é porque há "molabilidades por toda parte na matéria", o que dá testemunho não só da divisão infinita das partes mas também da progressividade na aquisição e na perda do movimento, realizando-se, ao mesmo tempo, a conservação da força. A matéria-dobra é uma matéria-tempo, cujos fenômenos são como a descarga contínua de uma "infinidade de arcabuzes ao vento". Aí também se adivinha a afinidade da matéria com a vida, uma vez que é quase uma concepção muscular da matéria que põe a molabilidade em toda parte (2009, p.19).

 Podemos ver a linguagem serguilhana como imenso corpo de musculaturas, nervos, ossos e tendões que se contraem e se dilatam, se dobram e se redobram em veios cavernosos, fluxos de matéria-tempo, molabilidades, saturações. É a profundidade da linguagem enquanto campo desdobrável de órgãos pulsantes cinéticos que se faz presença inenarrável. Ao ler e reler seus fragmentos, o leitor perceberá que tanto a matéria vital quanto a linguagem poética que anomeia estão indissoluvelmente conectadas a tal ponto de não se ver nenhuma distinção clara entre ambas esferas. É assim que o mundo se devém linguagem tanto quanto a linguagem se transforma em cosmos.
Do ponto de vista poético-filosófico, Serguilha propõe a questão fundamental que diz respeito à continuidade entre percepção e expressão: como se dá e o que possibilita o encontro da percepção com o mundo sensível? Eis assim o que nos parece ser a questão  nevrálgica da sua poética: compreender o mundo não mais como campo de essências – o que os filósofos da tradição clássica chamariam por "substâncias" – ou seja, essências a serem desvendadas por investigação teorética ou intuição intelectual. O universo sensível de percepções não está mais diante de nós como Ser-em-si, tela a ser decifrada, objeto de contemplação. O que se vê é apenas o corpo e o mundo, como frente e verso de uma mesma realidade sensível. Ontologicamente, isso significa dizer que o corpo reflete o mundo, é parte constitutiva dele, e, ao mesmo tempo, fá-lo aparecer/existir enquanto ordem fenomenal: campo de irrupções, fermentações, série de figuras polimórficas. Assim, para traçar a relação entre corpo e mundo percebido, Serguilha questiona a categoria da consciência e nos põe diante da indivisão primordial de uma sensibilidade primeira. Em outras palavras, ele representifica a linguagem enquanto mundo tanto como faz o mundo existir enquanto linguagem. Donde a sua ourivesaria sinérgica, o seu ato de justaporpalavras/imagens em estado de turbulência.
 Por certo a sua poesia enquanto memória cósmica abissal transborda, transpassa todas as nomenclaturas e categorias semânticas. Em última instância, ultrapassa as regras ordinárias do pensamento logocêntrico. É plausível concordar com Bachelard nesse ponto:

os poetas nos fornecerão as nuanças de uma felicidade cósmica, nuanças tão numerosas e diversas que somos impelidos a dizer que o devaneio principia com a nuança. E é assim que o sonhador de devaneios recebe uma impressão de originalidade. Com a nuança, percebe-se que o sonhador conhece o cogitonascente (1988, p.115).


 A potência do devaneio confere às nuanças oníricas uma gênese atípica, uma força inaudita que faz com que cada nuança se torne uma imagem germinativa. Daí a afirmação de que:

O grito das escrituras antecipa os territórios proibidos e interroga incansavelmente o corpo-livro da natureza-mãe. O grito, a cavalgada, a navegação, o corpo-ondeante-flutuante participam no caos e no cosmos como uma visão-outra no silêncio da impossibilidade, no silêncio da unidade original, procurando a vida verdadeira ou novas formas de vida (SERGUILHA: 2011, p.100)


Nessa viagem interrogativa acerca do "mapa cósmico", a poesia de Serguilha ultrapassa-se a si mesma enquanto linguagem autossuperadora. Todo movimento corpóreo e sensitivo desemboca na expressividade absoluta da existência.

O poema perfura, abre o seu corpo para ser devorado pela cavalgada-ondeante do cavalo-mundo, do surfista-universo, onde a origem indeterminável das palavras centraliza-se na suprema impossibilidade e nos ecos do abismo construtor e impulsionador das radiações mágicas-alquímicas que regressam à pulsação do delírio, do não-lugar, das bibliotecas imaginárias, da fertilização originária, dos rituais secretos da linguagem (SERGUILHA: 2011; p.102)

 É como se o ser poético, confrontado com aquilo que é da ordem do informulável, e do impensável, pudesse dar à luz uma cartografia cósmica em que cada imagem devolvida à sua potência genésica se revela centelha fundadora de um novo mundo. Mas isso não significa que o poema seja imagem do mundo no sentido de um espelho que mimetizasse a ordem sensível das empiricidades. Longe de cair numa imagem materialista da realidade ou ainda num transcendentalismo mistificador, a sua poesia nos coloca diante do fenômeno das catástrofes e das mutações, diante do "absurdo incandescente do cosmos"[2]. Desse modo, cada poema deverá ser visto menos como objeto de ser do que como objeto de poder capaz de ressacralizar o universo restituindo-o à sua fenomenalidade primeva e original.

A poesia como potência linfática e como metamorfose devoradora de simulacros sacraliza o insondado, constitui as ressonâncias demiúrgicas, transforma-se num escorpião de ambivalências, liga-se ao cavalo-sonâmbulo-poeta-surfista como uma recriação das geografias cósmicas-primitivas a provocar rodopios cênicos, biologismos utópicos, tatuagens multissígnicas, entroncamentos imagéticos, síncopes telúricas, alavancas caológicas-meteóricas, dínamos mitológicos, fulgurações perceptivas, rebentações animalisantes, paroxismos da instantaneidade, musicalidades antropofágicas ressuscitadoras da vida latente (SERGUILHA: 2011, p.101)

 A poética de Serguilha, portanto, tangencia lugares inóspitos, inventa suas próprias regras, move-se num jogo de confluência das linguagens: cinema, dança, teatro, pintura e performance. É fundamental assinalar que o conteúdo poético se transversaliza em agenciamentos múltiplos com o cinema contemporâneo: "as correspondências híbridas cultivam as fortísssimas cores das cobras-telhas de Wong Kar-Wai"[3]; com as inquietações do teatro e da própria linguagem poética: "as celas dos exílios-BRECHT-Pavese expandem a direcção pronfundíssima do húmus-gestual onde as vespas das axilas oscilam num carreiro de ecos-de-ninfas-da-cidade-fundida"[4]; ou ainda, com a dança na sua experimentação mais ousada: "os zumbidos dos roteiros das fábulas são coreografados pelas pausas dos barqueiros proverbiais de Merce Cunningham"[5]. Como o próprio poeta afirma:

Esta participação convulsiva do ser-no-mundo, no ser cavalo-poeta-sonâmbulo abre-se à própria linguagem-silêncio que vem de todo o corpo-surfista, do real imprevisível, da luz do labirinto como uma imensa afectividade que caminha para as outras artes, para as ciências, para as pulverizações polifónicas-psicadélicas desterritorializando a língua: uma matilha multilinguística-oscilatória, uma armadilha de luzes, de epicentros entre as subducções da lava do corpo, corpo-fenda, corpo-erosão, corpo-energia-palavra, enfrentando a infinita imagem expansiva com a respiração do desejo e da transmigração imaginária (SERGUILHA: 2011, p.97)

Ciclópica, polissêmica, a obra de Serguilha vista nesse prisma se revela diálogo extremamente sutil e hibridizante com o Universo tal como este se manifesta nas suas múltiplas metamorfoses, seja no crescimento dos vegetais e na decomposição da matéria orgânica, seja mesmo nas diversas formações bio-psíquicas. Ela descortina novos olhares, novos caminhos e linguagens na arte contemporânea no sentido de que cada imagem desenhada no mapa cósmico se dissemina, se multiplica, se infunde nas tonalidades, se realça nos "icebergs sísmicos-insolúveis da história humana"[6], numa relação transversal com as outras artes e ciências, numa dimensão de inexauribilidade contínua, de impermanência subterrânea, numa radiografia incessante das invisibilidades, numa indeterminação ao mesmo tempo precária e efervescente, uma vez que "a caminhada do poema-simulacro-surfista é violenta-crespuscular-contornadora-autónoma e destrói as significabilidades, as interpretações."[7] Por isso mesmo, ela se corporifica e se faz gesto conceitual, órgão ressonante, ação política, porque nunca se enrijece nas formas encouraçadas, sempre mantendo-se singular e universal.
   


 Referências bibliográficas


BACHELARD, Gaston. A poética do devaneio. São Paulo, Editora Martins Fontes, 1988.
DELEUZE, Gilles. Crítica e clínica. São Paulo: Ed. 34, 2008.
_______________. A dobra: Leibniz e o barroco. Campinas, SP. Editora Papirus, 2009.
DERRIDA, Jacques. Margens da filosofia. Campinas, SP. Editora Papirus, 1991.
SERGUILHA, Luís. KOA'E. Belo Horizonte, Anome Livros, 2011.

Notas

[1] Cf. Serguilha, L. KOA'E. Belo Horizonte: Anome Livros, 2011,p.99.
[2] Ibid., p.122.
[3] Ibid., p.53.
[4] Ibid., p.73.
[5] Ibid., p.28.
[6] Ibid., p.95.
[7] Ibid., p.103.
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Chiu Yi Chih, filósofo, escritor, ensaísta, poeta e performer chinês (Taiwan). Publicou o livro Naufrágios (Ed. Multifoco). É mestre em Filosofia pela USP, formado em Letras Clássicas (Grego/Português-USP)  e professor de Filosofia da Arte (Gilles Deleuze) no Instituto Mandarim Yuan De. Criador dos conceitos filósoficos de Metacorporeidade e Philomundus. Philomundus é a sua prosa experimental, concepção filosófica e performance multimidiática.
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Fonte: http://www.revistazunai.com/

Redes sociais e o 'mundo dos memes'

Por Leonardo Sakamoto
(Professor da PUC-SP)

As pessoas desistiram de checar a informação que consomem.
Na verdade, nunca fizeram isso, mas antes a procedência era de veículos, grandes ou pequenos, tradicionais ou alternativos, que davam a cara para bater, garantindo transparência ao informar quem fazia parte de suas equipes e sua visão de mundo. Esses veículos são bons, honestos e ilibados? Afe! Não necessariamente. Mas, ao menos, podem ser questionados judicialmente em caso de propagação de mentiras.
Conteúdo anônimo, sem assinatura, segue ganhando força na rede. Não raro, escondem-se sob a justificativa de que estão fugindo de possível represálias porque representam grupos perseguidos. Mas uma grande parte permanece nas sombras para produzir munição para uma guerra virtual por corações e mentes que você pode não ver, mas está aí.
Esses sites e contas em redes sociais, sejam eles progressistas ou conservadores, valem-se de algo que os jornalistas teimam em ignorar, pois bate de frente com [a] visão sagrada que têm de seu ofício: para muitos leitores, não faz diferença se uma informação é verdadeira ou falsa, não faz diferença um esforço hercúleo de reportagem. Quando o conteúdo vai ao encontro do que essa pessoa acredita, ela não se importa se é mentira ou não e vai abraçar o argumento e difundi-lo.
Pois o importante não é construir coletivamente significados e alternativas, mas vencer um debate que pode estar atrelado à manutenção de seus próprios privilégios, dos privilégios de uma classe social, de velhas tradições ou simplesmente para vencer um debate com um amigo pelo prazer de vencer.
Isso atinge conservadores ou progressistas, todos que façam parte do debate público. Mas uma coisa é estar exposto ao justo escrutínio de ideias e ser criticado por elas – o que faz parte do jogo. Outra coisa é a difamação. Por exemplo, textos e memes que atribuem frases que nunca foram ditas para tentar minar a credibilidade fluem loucamente pela rede. São de consumo fácil. Conversei com uma pessoa que trabalhava em campanhas digitais e era responsável por formar opinião em redes sociais. Ela me explicou que o objetivo de pôr um meme falso para circular não é tanto mudar a ideia de quem concorda com a pessoa que é alvo da campanha de difamação, mas municiar de argumentos e fortalecer a identidade de quem não concorda. E, ao mesmo tempo, tentar criar uma dúvida razoável em quem fica na zona cinzenta.  Para isso, adotava uma fórmula mais ou menos assim:
1) Escolha uma foto da pessoa a ser difamada;
2) Coloque como título um questionamento à credibilidade/honestidade/competência da pessoa. Prefira programas de edição de imagens porque o resultado é melhor mas, se não for possível, use um gerador de memes mesmo;
3) Na base da imagem, invente uma declaração que a pessoa nunca disse e que mostre sua incoerência ou atribua algo a ela. Atenção: seja sutil. Não coloque uma declaração conservadora em uma pessoa progressista e vice-versa porque notarão que é coisa forjada. Utilize algo que o cidadão comum, pouco informado, consideraria verossímil;
4) Publique o meme nas redes sociais, precedido de um comentário desabonador sobre a pessoa ou exija, de forma indignada, uma resposta dela sobre a mentira com cara de verdade que você acaba de criar. Ridicularize;
5) Certifique-se que o meme será compartilhado. Se você controlar várias contas anônimas em redes sociais, compartilhe em todas elas. Marque outros sites que fazem serviço semelhante ao seu para que possam difundir também, dando credibilidade à ação. Para isso, é sempre bom ter uma rede de contatos ativa. Hoje ele te ajuda, amanhã você o ajuda.
“Não adianta vocês tentarem combater um meme ou uma notícia falsos com informação correta porque muitas pessoas não estão nem aí. Elas querem algo para apoiar sua visão de mundo e não se importam muito se é verdade ou mentira'', afirmou minha fonte que, por razões óbvias, terá a identidade preservada. Em outras palavras, estamos perdendo a guerra para os boatos.
Tenho uma coleção de memes produzidos para me atacar e todos seguem mais ou menos modelo. Alguns são engraçados, outros violentos, mas todos têm a mesma cara-de-pau de inventarem algo. Alguns não valem o processo judicial, mas outros sim. Não pela censura, sou contra isso. Mas pela possibilidade de descobrir quem controla os sites que se vangloriam por serem anônimos e seus interesses, mas ameaça a integridade física das pessoas nas redes sociais.
Como saber se uma informação está incorreta? Bem, às vezes você não tem como saber de antemão, por isso é importante checar sempre, independente da fonte. Ou, pelo menos, procurar a sua origem – onde foi dito isso, quando e em que circunstância – de forma a não propagar boato. Separar joio do trigo demanda gente bem informada e, mais do que isso, bem formada. Que consiga olhar para algo e nele cravar um ponto de interrogação ao invés de exclamação.
Isso talvez seja um dos maiores desafios que teremos nos próximos anos. O futuro de um mundo em que todos possuem ferramentas de comunicação em massa ao seu alcance, mas não se importam necessariamente se o que passam adiante foi coletado e produzido com um mínimo de cuidado ou não, passa por uma educação para a mídia, como sempre martelo por aqui. Por ensinar crianças e jovens a saberem ter responsabilidade sobre o conteúdo que repassam. Grandes poderes trazem grandes responsabilidades, já diria o Tio Ben.
Se você é daqueles que não leem coisa alguma e dizem que não tem tempo, nem paciência para isso, e, além do mais, acham que senso crítico é uma besteira, mas adoram curtir, compartilhar e retuitar tudo o que passa pela frente, feito um chimpanzé com câimbra, por favor, dedique-se apenas à divulgação de tumblr de gatinhos que se assustam com mordidas de tartarugas, fotos de pugs em fantasias vexatórias para a alegria de seus donos e memes com lições de vida de alguém que passou por uma grande provação e tem o objetivo de levar às lágrimas.
Mas abstenha-se de transmitir informação. 
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Fonte: http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/. Título original: 'Você não crê em Papai Noel. Mas acredita em memes anônimos'.


domingo, 27 de dezembro de 2015

França Antártica - 'Brasil Vermelho'


Se aprecia cinema, e ainda mais nas férias, anote esse aí: 'Vermelho Brasil'. Trata-se de uma produção baseada no livro homônimo ('Rouge Brésil') do francês Jean-Christophe Rufin e cuja realização envolveu quatro países: França, Brasil, Portugal e Canadá. O foco incide sobre a tentativa francesa, no século XVI, de fundar uma colônia no atual Rio de Janeiro, a chamada França Antártica, entrando em disputa com os portugueses. Em meio a isso, estavam os índios, 'peles avermelhadas'. Possivelmente o filme contribua em, pelo menos, três perspectivas: 1) para entender por que foi Portugal - e não outro país europeu - que desenhou o território continental do Brasil, fazendo surgir a mistura dos nossos contornos identitários; 2) para evidenciar que construção cultural tem a ver com força (diferente do que difunde um determinado multiculturalismo "mascarado", por um lado, e parvo, por outro); 3) para mostrar que a noção religiosa de pecado (cristã-católica), no tocante ao comportamento moral-afetivo, é 'plástica', e pelos primórdios do Brasil ela (a noção) foi toldada conforme as conveniências religiosas/coloniais. Aí abaixo o trailer do filme. 


Repúdio à vilania

Nós, abaixo assinados, vimos a público protestar veementemente contra a vileza de Alexandre Schwartsman (“O Porco e o Cordeiro”, Folha de S. Paulo, 16/12/2015), que atinge de forma acintosa a professora Leda Paulani e o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, com quem o colunista mantém divergências públicas no campo das ideias, aludidos covarde e indiretamente como “Leitoa” e “Porco”.
A agressão é duplamente vil, porque, cifrada, só pode ser compreendida pelas pessoas que tenham conhecimento de outras ofensas, igualmente violentas, perpetradas pelo mesmo colunista aos dois professores.
A falta de decência também se manifesta no chamar de “jumentinho italiano” e de “Dona Anta” duas autoridades legítimas de governo eleito e democrático.
Em geral, tal tipo de vilania merece ser desconsiderado, pois visa sempre a estampar manchetes, às quais não logra o agressor chegar por mérito, talento ou conhecimento. Mas há limites até para a sordidez!
Repudiamos o desrespeito no plano pessoal, a intolerância inadmissível no plano da disputa política democrática e a violação de todas as regras elementares do debate plural e civilizado de ideias.
Repudiamos também a conivência da Folha de S.Paulo e do respectivo editor na prática de tamanha torpeza, transgredindo o código de ética que o próprio jornal afirma seguir.


Assinaturas:

1.      Ademir Aparecido Paschoa, produtor.
2.      Adriana Nunes Ferreira, economista.
3.      Adriano Biava, economista.
4.      Airton Paschoa, escritor.
5.      Alcides Goularti Filho, Unesc.
6.      Alcides Silva de Miranda, Professor Associado – Cursos de Graduação, Pós-graduação e Laboratório de Apoio Integrado em Saúde Coletiva – UFRGS.
7.      Amilton Jose Moretto, economista
8.      Ana Mesquita, economista.
9.      Ana Rosa Ribeiro de Mendonça, professora do IE/Unicamp.
10.    Ana Tereza da Silva Pereira Camargo, médica, Diretora Administrativa do CEBES.
11.    Anderson Henrique dos Santos Araújo, professor, Universidade Federal de Alagoas.
12.    Andre Lázaro, professor da UERJ e pesquisador da Flacso-Brasil.
13.    André Martins Biancarelli, professor e diretor associado do Instituto de Economia (IE/Unicamp).
14.    André Paulani Paschoa, Advogado.
15.    Andrés Vivas Frontana, economista, professor de Economia da ESPM e da Fecap.
16.    Anivaldo Padilha, presidente do Fórum 21.
17.    Antônio do Amaral Rocha, jornalista e editor, São Paulo.
18.    Antonio Prado, economista.
19.    Antonio Tadeu Oliveira, demógrafo.
20.    Barbara Fritz, director of the Institute for Latin American Studies (Freie Universität Berlin).
21.    Bruno de Conti, economista.
22.    Camila Gripp, pesquisadora, The New School for Social Research.
23.    Carlos Alonso B. de Oliveira, economista.
24.    Carlos Eduardo Silveira, economista.
25.    Carlos Salas, economista.
26.    Ceci Vieira Jurua, economista.
27.    Celso Amorim, diplomata.
28.    Christy Ganzert Pato, professor da Universidade Federal da Fronteira Sul.
29.    Cilaine Alves Cunha, professora de literatura brasileira (FFLCH/USP).
30.    Claudio Castelo Branco Puty, professor UFPA e secretário executivo do Ministério do Trabalho e Previdência.
31.    Cornelis Johannes van Stralen, psicologo social e cientista político, professor aposentado da UFMG.
32.    Dainis Karepovs, historiador.
33.    Daniel Brazil, roteirista e diretor de TV.
34.    Daniela Magalhães Prates, economista, professora associada do Instituto de Economia da Unicamp e pesquisadora do CNPq.
35.    Danilo Araujo Fernandes, professor da Universidade Federal do Pará.
36.    Denis Maracci Gimenez, professor do Instituto de Economia da Unicamp.
37.    Domingos Leite Lima Filho, Programa de Pós-Graduação em Tecnologia, Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).
38.    Eduardo Fagnani, economista (IE/Unicamp).
39.    Eleutério F. S. Prado, professor titular da USP.
40.    Eli Iola Gurgel Andrade, professora associada da Faculdade de Medicina da UFMG.
41.    Elias Jabbour, professor adjunto da FCE-UERJ.
42.    Elizabeth Harkot de La Taille, professora associada, Estudos Linguísticos e Literários em Inglês, Departamento de Letras Modernas (FFLCH/USP).
43.    Elizete Mitestaines, jornalista.
44.    Emilio Chernavsky, doutor em Economia (FEA/USP).
45.    Erminia Maricato, professora titular aposentada da USP.
46.    Fabrício de Oliveira, economista.
47.    Fernando Caldas, historiador, mestre pela USP.
48.    Fernando Ferrari Filho, professor de Economia da UFRGS.
49.    Fernando Nogueira da Costa, professor titular do IE-UNICAMP.
50.    Fernando Rugitsky, professor da FEA/USP.
51.    Francisco Alambert, professor de História (FFFLCH/USP). istóriaHist´roia
52.    Francisco Luiz C. Lopreato, economista e professor do IE/Unicamp.
53.    Francisco Menezes, economista.
54.    Francisco Roberto Papaterra Limongi Mariutti, professor.
55.    Frederico Gonzaga Jayme Jr., professor Economics Department, Cedeplar (UFMG).
56.    Frederico Mazzucchelli, economista.
57.    Gaudencio Frigotto, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
58.    Gema Martins, advogada.
59.    Giorgio de Marchis, Università degli Studi Roma Tre, Dipartimento di Lingue, Letterature e Culture Straniere.
60.    Guilherme Leite Gonçalves, professor de Sociologia do Direito da UERJ.
61.    Guilherme Mello, economista.
62.    Heloísa Fernandes, socióloga, USP.
63.    Iná Camargo Costa, professora aposentada da USP.
64.    Isabel Frontana, historiadora, mestre pela USP.
65.    Isabel Loureiro, professora de Filosofia (UNESP).
66.    Isabela Soares Santos, cientista social.
67.    Ivonaldo Leite, pesquisador (CNPq /UFPB)
68.    João Policarpo R. Lima, Departamento de Economia da UFPE/Pesquisador do CNPq
69.    João Sayad, economista, professor da FEA/USP.
70.    João Whitaker, professor livre-docente (FAU/USP) e secretário municipal de Habitação de São Paulo.
71.    José Carlos Braga, economista.
72.    Jose Dari Krein, economista.
73.    José Esteban Castro, Newcastle University, Reino Unido.
74.    Juan Pablo Painceira, economista, Banco Central do Brasil.
75.    Julia Braga, professora associada da Faculdade de Economia da UFF.
76.    Jurema Alves Pereira, assistente social, doutoranda (UERJ).
77.    Laura Carvalho, professora da FEA/USP.
78.    Laura Tavares, economista.
79.    Lauro Mattei, professor de Economia da UFSC.
80.    Lena Lavinas, professora titular do Instituto de Economia da UFRJ.
81.    Lenina Pomeranz, professor da FEA/USP.
82.    Léo Heller, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz.
83.    Leonardo Boff, teólogo, professor emérito de ética da UERJ e membro da Iniciativa Internacional Carta da Terra.
84.    Ligia Giovanella, médica, pesquisadora Fiocruz.
85.    Luciana Vieira, economista.
86.    Luiz Eduardo de Vasconcelos Moreira, psicanalista.
87.    Luiz Eduardo Simões de Souza, Universidade Federal do Maranhão – PPGDSE.
88.    Luiz Fernando de Paula, economista (UERJ).
89.    Luiz Filgueiras, professor de Economia da UFBA.
90.    Magda Biavaschi, desembargadora aposentada e pesquisadora CESIT
91.    Manuela Lavinas Picq, Universidade San Francisco de Quito.
92.    Marcelo de Carvalho, docente do Curso de Ciências Econômicas (Unifesp).
93.    Marcelo Miterhof, economista.
94.    Marcelo Weishaupt Proni, economista.
95.    Márcio Lupatini, professor da UFVJM.
96.    Marcio Pochmann, economista.
97.    Marcio Sotelo Felippe, advogado.
98.    Maria Augusta Bernardes Fonseca, professora universitária.
99.    Maria Ciavatta, PPG-Educação Universidade Federal Fluminense.
100.  Maria de Lourdes Rollemberg Mollo, professora do Departamento de Economia da Universidade de Brasília.
101.  Maria Elisa Cevasco, professora (FFLCH/USP).
102.  Maria Noemi de Araujo, psicanalista.
103.  Maria Rita Kehl, psicanalista.
104.  Marildo Menegat, professor (UFRJ).
105.  Marina Macambyra, bibliotecária.
106.  Mário da Costa Campos Neto, professor titular em Geologia Estrutural e Geotectônica do Instituto de Geociências (USP).
107.  Maryse Farhi, economista.
108.  Maurílio Maldonado, advogado.
109.  Miguel Bruno, economista.
110.  Nazareno Affonso- Urbanista e artista Plástico
111.  Nelson Fernando de Freitas Pereira, médico.
112.  Niemeyer Almeida Filho, professor titular do Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlândia e presidente da Sociedade Brasileira de Economia Política.
113.  Paula Motagner, economista.
114.  Paulo Daniel e Silva, economista.
115.  Paulo Sérgio Fracalanza, diretor do IE/Unicamp.
116.  Paulo Henrique Furtado de Araujo, economista, professor da Faculdade de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e diretor da Sociedade Brasileira de Economia Política (SEP).
117.  Pedro Cezar Dutra Fonseca, professor titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS.
118.  Pedro Paulo Zahluth Bastos, professor associado (livre-docente) do Instituto de Economia/Unicamp.
119.  Pedro Rafael Lapa, economista.
120.  Pedro Rossi, economista.
121.  Pierre Salama, Professor emeritus, economia, Universidade de Paris XIII
122.  Potyara Pereira, professora da Universidade de Brasília.
123.  Ramón García Fernández, professor (UFABC).
124.  Raquel Raichelis, assistente social, professora da PUC/SP.
125.  Remi Castioni, Faculdade de Educação (UnB).
126.  Rennan Martins, jornalista e editor do Blog dos Desenvolvimentistas.
127.  Ricardo Antônio de Souza Karam, especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, doutor em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento (PPED/UFRJ).
128.  Ricardo Musse, professor de Sociologia (FFLCF/USP).
129.  Ricardo Oliveira Lacerda de Melo, professor associado da Universidade Federal de Sergipe/ Departamento de Economia.
130.  Roberto Schwarz, professor de Literatura, Unicamp.
131.  Rodrigo Pimentel Ferreira Leão, mestre em Desenvolvimento Econômico.
132.  Ronaldo Coutinho Garcia, técnico de Planejamento e Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
133.  Rosana Icassatti Corazza, economista, doutora em Política Científica e Tecnológica e professora do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas.
134.  Rosangela Ballini, Professora – IE/Unicamp
135.  Rubem Murilo Leão Rego, professor (Unicamp).
136.  Rubens Luis Ribeiro Machado Jr., professor da ECA/USP.
137.  Rubens Sawaya, economista.
138.  Salete de Almeida Cara, professora (FFLCH-USP).
139.  Sandra Regina Alouche, professora universitária.
140.  Sebastiao Velasco, IFCH/Unicamp.
141.  Sérgio Alcides Pereira do Amaral, professor da Faculdade de Letras da UFMG.
142.  Sérgio Rosa, bancário.
143.  Silvio Antônio Ferraz Cario, economista e professor da UFSC (Campus Florianópolis).
144.  Simone Deos, economista.
145.  Solange Puntel Mostafa, professora da USP.
146.  Tania Bacelar de Araujo, doutora em economia e professora aposentada da UFPE.
147.  Tarso Genro, ex-governador do Rio Grande do Sul.
148.  Tiago Oliveira, economista, mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp.
149.  Vanessa Petrelli Corrêa, professora titular, IE/UFU.
150.  Wagner Nabuco, editor da Caros Amigos.
151.  Waldir Quadros, professor.
152.  Walquiria Domingues Leão Rego, professora universitária, Unicamp.
153.  Walter Belik, economista.
154.  Wilson Cano, economista.
155.  Wladimir Pomar, economista.