domingo, 24 de maio de 2015

O que revela o grande abismo

Leont Etiel
Quando John Milk se aproximou do grande abismo, foi tomado por um vislumbre com quem diz ‘fixa-te’. Era algo tipo um desfiladeiro, com seus mistérios, onde o som de tudo e de nada poderia ser sintetizado no grande silêncio. Em Cruz da Serra, antes de o mundo ser mundo, ocidental, acreditava-se que o sentido das coisas, e portanto da vida, estava no enigma que habita as matas. Grandes e pequenas, as matas ocultavam e revelavam no escondido aquilo que se procura no dia a dia, que se avista, porém não se percebe. Aquilo que se busca entender, mas que a capa da ilusão do pensamento rápido distrai, que, sabemos nós, é uma palavra do ramo etimológico de trair, dis-trai.
John, homem afeito aos cálculos da razão, procurava entender as razões daquele vislumbre. Não entendia. Foi então que pensou em levar em conta, o que significa dizer na mão, a taça panteísta que espalha pela natureza a razão de ser do ente, o que é o mesmo que dizer a razão de ser do Ser. A embriaguez invisível que toma conta da mente como que a disparar as trilhas da lucidez da existência que a mente, em estado sóbrio, sequer imagina imaginar.
Afastando-se do longo abismo, com as revelações contabilizadas, com os indícios indiciando o que, em desejo, se deseja, John fez planos. Grandes e pequenos. E para não faltar aos cálculos da condensação aristotélica, também médios. Que são, em verdade, os mais realistas, por dizerem em estado real o que a irrealidade do longo prazo pretende e por realizarem, ponderando, o que os impulsos, em modo instintivo, querem.

Na volta do grande abismo, as ilações assumem quase a dimensão de imperativo categórico. Este céu estrelado que tanto diz, que tanto completa, que tanto não fala. Um mundo pela frente para viver, assim pensou John. A transgressão dos sinais das vias do labirinto da existência. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário