Leont
Etiel
Quando
John Milk se aproximou do grande abismo, foi tomado por um vislumbre com quem
diz ‘fixa-te’. Era algo tipo um desfiladeiro, com seus mistérios, onde o som de
tudo e de nada poderia ser sintetizado no grande silêncio. Em Cruz da Serra, antes
de o mundo ser mundo, ocidental, acreditava-se que o sentido das coisas, e
portanto da vida, estava no enigma que habita as matas. Grandes e pequenas, as
matas ocultavam e revelavam no escondido aquilo que se procura no dia a dia,
que se avista, porém não se percebe. Aquilo que se busca entender, mas que a
capa da ilusão do pensamento rápido distrai, que, sabemos nós, é uma palavra do
ramo etimológico de trair, dis-trai.
John,
homem afeito aos cálculos da razão, procurava entender as razões daquele
vislumbre. Não entendia. Foi então que pensou em levar em conta, o que
significa dizer na mão, a taça panteísta que espalha pela natureza a razão de
ser do ente, o que é o mesmo que dizer a razão de ser do Ser. A embriaguez
invisível que toma conta da mente como que a disparar as trilhas da lucidez da existência
que a mente, em estado sóbrio, sequer imagina imaginar.
Afastando-se
do longo abismo, com as revelações contabilizadas, com os indícios indiciando o
que, em desejo, se deseja, John fez planos. Grandes e pequenos. E para não
faltar aos cálculos da condensação aristotélica, também médios. Que são, em
verdade, os mais realistas, por dizerem em estado real o que a irrealidade do
longo prazo pretende e por realizarem, ponderando, o que os impulsos, em modo
instintivo, querem.
Na
volta do grande abismo, as ilações assumem quase a dimensão de imperativo categórico.
Este céu estrelado que tanto diz, que tanto completa, que tanto não fala. Um
mundo pela frente para viver, assim pensou John. A transgressão dos sinais das
vias do labirinto da existência.
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