Dizia Beethoven que "milhares de pessoas cultivam a música, mas poucas têm a revelação dessa grande arte", sendo ela, complementava, "capaz de reproduzir, em sua forma real, a dor que dilacera a alma e o sorriso que a inebria." Pois bem, entre nós, embora deslocado do palco dos grandes medalhões da música brasileira, o cearense Belchior é, sem lugar para dúvidas, uma dessas pessoas que traduziram (e traduzem) o significado da arte musical. Caso alguém objete-lhe algo em decorrência de suas "deambulações atuais", a contraposição, mutatis mutandis, pode vir outra vez de Beethoven: "ainda não se levantaram barrerias que digam ao gênio daqui não passarás." Não há outra compreensão a formar ao passarmos em revista a Dissertação de Mestrado intitulada "Muito Além de Apenas um Rapaz Latino-americano: Investimentos Interdiscursivos das Canções de Belchior", de Josely Teixeira Carlos. Considere-se também a inquietação criativa na ousada adaptação que ele fez do texto original em latim de O Cântico dos Cânticos na música 'Corpos Terrestres', cantada em latim entremeada com comentários em inglês (com uma vocal de as Frenéticas). Uma empreitada, até onde alcanço, sem similar em outro artista brasileiro. O Cântico dos Cânticos, sabemos, é um texto do Antigo Testamento (um tanto secundarizado contemporaneamente, religiosamente falando) que trata do tema terreno do amor entre homem e mulher, celebrando-o em si, tomando em conta o erotismo e, ao que parece (diz a interpretação historiográfica), sem foco na função reprodutiva. Foi escrito por Salomão. Pois então, por esses "mares" navegou a criatividade artística de Belchior. E para quem pensa que essa criatividade parou pelos sucessos dos anos 1970/1980, precisa ouvir 'Vício Elegante' (1996), trabalho que, no todo, faz como que consubstanciar a poesia em forma e conteúdo sobre coisas de ontem e de agora. Link para a referida Dissertação aqui: http://www.repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/8767/1/2007_dis_jtcarlos.pdf. 'Corpos Celestes' e 'Vício Elegante' aí abaixo.
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