sexta-feira, 1 de maio de 2015

O colapso do figurino francês: universidade e ciências sociais

Um trabalho que não recusa a polêmica e não escamoteia os fatos, eis o que é o novo livro do economista Nildo Ouriques (Universidade Federal de Santa Catarina/Instituo de Estudos Latino-americanos). Denomina-se 'O Colapso do Figurino Francês: Crítica às Ciências Sociais no Brasil'. Por que o livro é polêmico? Saiba a razão a seguir, na recensão da obra feita pela equipe da Editora Insular, que chancela a sua publicação. 

O colapso do figurino francês: Crítica às ciências sociais no Brasil <br> <b>Disponível 2ª edição</b>



Este é um livro que se choca com o pensamento eurocêntrico e colonizado predominante nas ciências sociais terceiro-mundistas e, particularmente, brasileiras, propondo o desenvolvimento de um pensamento crítico. 
Em nosso país, o figurino francês resulta, sobremodo, da hegemonia uspiana que se , tornou padrão e exemplo para toda a esnobe e suposta intellingentsia nacional. Afinal de contas, a USP, reconhecida como nossa principal universidade, e sua glorificada “escola paulista de sociologia”, foi vitoriosa no domínio das ciências sociais, mas por meios infames. 

Remando contra essa maré da sociologia da ordem, Nildo opõe, por exemplo, André Gunder Frank, Ruy Mauro Marini, Vânia Bambirra, Theotonio Dos Santos, Gilberto Felisberto Vaconcellos, entre outros, a figuras como Fernando Henrique Cardoso, Paulo Arantes, Francisco de Oliveira, Carlos Nelson Coutinho, Florestan Fernandes, Maria Conceição Tavares e por aí vai. 

Arrebatado e insurgente, Nildo é líder de uma batalha empreendida para superar o atraso intelectual brasileiro nas ciências sociais e a ruptura com seus atuais fundamentos: o figurino francês, ou seja, o velho colonialismo mental e seu corolário, a tentativa de perpetuar no Brasil a ignorância a respeito do caráter essencial da contribuição do pensamento crítico latino-americano ao desenvolvimento de nossas ciências sociais. E quer ainda desfazer o engodo que se armou sobre Frank e Marini, tentando tornar infecundas as ciências sociais ao anular as bases teóricas do radicalismo político e desestimular uma contundente ruptura da maioria do povo brasileiro com o status quo. 

Nossos males típicos do subdesenvolvimento decorreriam da incorreta aplicação do figurino francês, sempre mal compreendido e erroneamente aplicado nos trópicos, e da conjecturada “complexidade brasileira”. Porém, transparecem fissuras nessa hegemonia reacionária, pois é, evidentemente, incapaz de oferecer solução aos mais básicos problemas nacionais irresolutos. 
Predominou o figurino francês, desde o século XVIII, e o gringo no século XX. Contudo, não mais prevalecerão no século XXI.

Há que romper o bloqueio acadêmico eurocêntrico e evitar a impostura dominante nas ciências sociais ─ que anestesiou gerações de estudantes e militantes ─, contrapondo-se ao aprofundamento da dependência e ao desenvolvimento do subdesenvolvimento, e expondo um novo tempo histórico no qual os latino-americanos rumarão para as grandes transformações sociais às quais não devemos renunciar. 

Para tanto, é essencial abandonar o figurino francês, fruto do colonialismo intelectual em nossas universidades, e ingressar numa nova e inédita fase de disputa teórica, com a teoria da dependência reconquistando sua importância e enfrentando os graves problemas nacionais em compasso com a construção de um projeto nacional que revigore as ciências sociais no Brasil, integrando-nos à América Latina. 

Nesta nova correlação de forças, com o colapso e a ineficiência do capitalismo frente aos desafios do século XXI, nasceu a proposta da democracia participativa mobilizando e empolgando os latino-americanos no processo de revolucionar as questões centrais da economia e da organização estatal. No Brasil, a grande tarefa intelectual é construir um projeto nacional, superando o “apagão mental” que embota o ambiente universitário e político brasileiro.

Embora o figurino francês tenha sido sobrepujado pelo estadunidense, obrigando-nos a pensar em inglês, escrever em inglês, publicar em inglês, no continente temos 450 milhões de habitantes potencialmente capazes de construir a Pátria Grande em espanhol e português.

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