Um trabalho que não recusa a polêmica e não escamoteia os fatos, eis o que é o novo livro do economista Nildo Ouriques (Universidade Federal de Santa Catarina/Instituo de Estudos Latino-americanos). Denomina-se 'O Colapso do Figurino Francês: Crítica às Ciências Sociais no Brasil'. Por que o livro é polêmico? Saiba a razão a seguir, na recensão da obra feita pela equipe da Editora Insular, que chancela a sua publicação.
Este
é um livro que se choca com o pensamento eurocêntrico e colonizado predominante
nas ciências sociais terceiro-mundistas e, particularmente, brasileiras,
propondo o desenvolvimento de um pensamento crítico.
Em
nosso país, o figurino
francês resulta, sobremodo, da hegemonia uspiana que se , tornou padrão e
exemplo para toda a esnobe e suposta intellingentsia nacional.
Afinal de contas, a USP, reconhecida como nossa principal universidade, e sua
glorificada “escola paulista de sociologia”, foi vitoriosa no domínio das
ciências sociais, mas por meios infames.
Remando contra essa maré da sociologia da ordem, Nildo opõe, por exemplo, André
Gunder Frank, Ruy Mauro Marini, Vânia Bambirra, Theotonio Dos Santos, Gilberto
Felisberto Vaconcellos, entre outros, a figuras como Fernando Henrique Cardoso,
Paulo Arantes, Francisco de Oliveira, Carlos Nelson Coutinho, Florestan
Fernandes, Maria Conceição Tavares e por aí vai.
Arrebatado e insurgente, Nildo é líder de uma batalha empreendida para superar
o atraso intelectual brasileiro nas ciências sociais e a ruptura com seus
atuais fundamentos: o figurino
francês, ou
seja, o velho colonialismo mental e seu corolário, a tentativa de perpetuar no
Brasil a ignorância a respeito do caráter essencial da contribuição do
pensamento crítico latino-americano ao desenvolvimento de nossas ciências
sociais. E quer ainda desfazer o engodo que se armou sobre Frank e Marini,
tentando tornar infecundas as ciências sociais ao anular as bases teóricas do
radicalismo político e desestimular uma contundente ruptura da maioria do povo
brasileiro com o status
quo.
Nossos males típicos do subdesenvolvimento decorreriam da incorreta aplicação
do figurino
francês, sempre
mal compreendido e erroneamente aplicado nos trópicos, e da conjecturada
“complexidade brasileira”. Porém, transparecem fissuras nessa hegemonia
reacionária, pois é, evidentemente, incapaz de oferecer solução aos mais
básicos problemas nacionais irresolutos.
Predominou o figurino
francês, desde
o século XVIII, e o gringo no século XX. Contudo, não mais prevalecerão no
século XXI.
Há que romper o bloqueio acadêmico eurocêntrico
e evitar a impostura dominante nas ciências sociais ─ que anestesiou gerações
de estudantes e militantes ─, contrapondo-se ao aprofundamento da dependência e
ao desenvolvimento do subdesenvolvimento, e expondo um novo tempo histórico no
qual os latino-americanos rumarão para as grandes transformações sociais às
quais não devemos renunciar.
Para tanto, é essencial abandonar o figurino francês, fruto
do colonialismo intelectual em nossas universidades, e ingressar numa nova e
inédita fase de disputa teórica, com a teoria da dependência reconquistando sua
importância e enfrentando os graves problemas nacionais em compasso com a
construção de um projeto nacional que revigore as ciências sociais no Brasil,
integrando-nos à América Latina.
Nesta nova correlação de forças, com o colapso e a ineficiência do capitalismo
frente aos desafios do século XXI, nasceu a proposta da democracia
participativa mobilizando
e empolgando os latino-americanos no processo de revolucionar as questões
centrais da economia e da organização estatal. No Brasil, a grande tarefa
intelectual é construir um projeto nacional, superando o “apagão mental” que
embota o ambiente universitário e político brasileiro.
Embora o figurino
francês tenha
sido sobrepujado pelo estadunidense, obrigando-nos a pensar em inglês, escrever
em inglês, publicar em inglês, no continente temos 450 milhões de habitantes
potencialmente capazes de construir a Pátria Grande em espanhol e português.
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