sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Pessimismo da razão, otimismo da vontade e eterna mente

Há momentos em que, mesmo que se esteja sob os cuidados de Esculápio (na mitologia, deus da medicina), há de se fazer a palavra falar. Pois bem, são fartas as notícias em torno da comemoração de um graduado militar paulista pelo fato de uma manifestante, atacada em um protesto pela polícia, ter perdido parcialmente a visão de um dos olhos. Por outro lado, nos é dado a conhecer que o ex-prefeito de Recife João Paulo, que se encontra em campanha eleitoral, foi atacado fisicamente em um shopping da cidade. Onde vamos parar? Não é uma questão de ser 'A' ou 'B'. Diz respeito, isto sim, ao tipo de postura/procedimento que se lança mão para  tratar as divergências. Está desaparecendo qualquer filigrama de civilidade. É uma espécie de regresso ao 'Estado de Natureza'. Estamos chegando a esse ponto no Brasil. Navegar, contudo, é preciso, e se assim o é, convém ter em atenção o postulado do filósofo italiano da hegemonia: 'pessimismo da razão, otimismo da vontade'. De outra parte, faz bem, do meu ponto de vista, um regresso a Espinosa, inquirindo sobre a relevância das coisas - ou, em última instância, sobre o que vale a pena. Para isso, fala-nos sobre a mente. Diz-nos ele: 

"Quando observamos com atenção o que é a mente, e de onde nascem sua mudança e sua duração, veremos facilmente se é mortal ou imortal. Dissemos que a mente é uma ideia que está na coisa pensante e que nasce da existência de uma coisa que está na Natureza. Daí surge que a mudança e a duração da mente devem ser conformes à mudança e à duração da coisa (...). 
A partir disso, pode-se ver facilmente que: 1) que se a mente está unida unicamente a um corpo e esse corpo vem a perecer, ela também deve perecer; pois se está privada  do corpo que é fundamento do seu amor, também deve desaparecer com ele. Porém, 2), se a mente está unida a outra coisa que é e permanece imutável, então deverá, ao contrário, também permanecer imutável. Pois por que meio seria possível que pudesse desaparecer? Não por si mesma, pois assim como não pôde começar a ser, quando ainda era, tampouco pode mudar ou desaparecer, agora que é. De maneira que somente aquilo que é causa da existência dela deve também (se ela vem a desaparecer) ser a causa de  sua não existência, porque aquilo mesmo terá mudado e se aniquilado". 
(Espinosa, Breve Tratado, Belo Horizonte: Autêntica, 2014, p. 143). 

Uma causa, o amor (em suas faces diversas), um exemplo de vida, etc. Mais do que as várias banalidades que estamos a assistir.  Há muito a se falar. Eterna mente.