terça-feira, 6 de setembro de 2016

A exaustão do ciclo CCC no Brasil e as consequências no cotidiano da população

O debate político brasileiro continua deficitário no que se refere à qualidade e profundidade, sobretudo quando se trata de apresentar à população os cenários econômicos de curto e médio prazos e os consequentes impactos em seu cotidiano. Disso, contudo, não se furta a ciência social que se preza. É o que segue aí abaixo. 




Por Paulo Gala 
(Professor da Fundação Getúlio Vargas; Pesquisador Visitante na
 Universidade de Columbia/Nova Iorque e Cambridge/Inglaterra)  

O ano de 2015 marcou o final do longo processo de crescimento no Brasil baseado no modelo CCC (crédito, commodities e consumo) iniciado ainda em 2003, e potencializado por políticas anticíclicas no pós-crise de 2008. A forte alavancagem das empresas e famílias brasileiras será revertida nos próximos anos com consequente redução geral de endividamento; os ciclos de crédito não são infinitos. 


Os salários nominais e reais não repetirão o comportamento exuberante dos últimos anos e os preços dos imóveis tendem a se estabilizar, se é que não vão cair em alguns setores com importante excesso de oferta. O preço dos bens não comercializáveis deverá, portanto, cair em relação ao preço dos comercializáveis. O Brasil que vinha até então se esgotou. O final do boom imobiliário brasileiro e o arrefecimento do varejo e consumo em geral e do mercado de trabalho tiram pressão dos preços de serviços e facilitam o controle da inflação; a ameaça de recessão no país continua.

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A exaustão do ciclo de commodities na economia mundial também auxilia, trazendo uma pressão geral deflacionária. Apesar de que o efeito de desvalorizar a moeda brasileira acaba atrapalhando um pouco nesse ponto. A exaustão do expansionismo fiscal e dos aportes do tesouro nos bancos públicos também devem contribuir para uma inflação mais bem comportada nos próximos anos. O ano de 2015 foi marcado por dois importantes realinhamentos de preços na economia brasileira ora em curso: entre preços internos e externos (taxa de câmbio) e livres e administrados (tarifas públicas). Esses processos devem entrar em exaustão em 2016. Quando esses preços se acomodarem em seu novo patamar, a taxa de inflação convergirá para o centro da meta.

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Fonte: http://www.paulogala.com.br/