O debate político brasileiro continua deficitário no que se refere à qualidade e profundidade, sobretudo quando se trata de apresentar à população os cenários econômicos de curto e médio prazos e os consequentes impactos em seu cotidiano. Disso, contudo, não se furta a ciência social que se preza. É o que segue aí abaixo.
Por Paulo Gala
(Professor da Fundação Getúlio Vargas; Pesquisador Visitante na
Universidade de Columbia/Nova Iorque e Cambridge/Inglaterra)
O ano de 2015 marcou o final do longo processo de
crescimento no Brasil baseado no modelo CCC (crédito, commodities e consumo)
iniciado ainda em 2003, e potencializado por políticas anticíclicas no
pós-crise de 2008. A forte alavancagem das empresas e famílias brasileiras será
revertida nos próximos anos com consequente redução geral de endividamento; os
ciclos de crédito não são infinitos.
Os salários nominais e reais não repetirão
o comportamento exuberante dos últimos anos e os preços dos imóveis tendem a se
estabilizar, se é que não vão cair em alguns setores com importante excesso de
oferta. O preço dos bens não comercializáveis deverá, portanto, cair em relação
ao preço dos comercializáveis. O Brasil que vinha até então se esgotou. O
final do boom imobiliário brasileiro e o arrefecimento do varejo e consumo em
geral e do mercado de trabalho tiram pressão dos preços de serviços e facilitam
o controle da inflação; a ameaça de recessão no país continua.
A exaustão do
ciclo de commodities na economia mundial também auxilia, trazendo uma pressão
geral deflacionária. Apesar de que o efeito de desvalorizar a moeda brasileira
acaba atrapalhando um pouco nesse ponto. A exaustão do expansionismo fiscal e
dos aportes do tesouro nos bancos públicos também devem contribuir para uma
inflação mais bem comportada nos próximos anos. O ano de 2015 foi marcado por
dois importantes realinhamentos de preços na economia brasileira ora em curso:
entre preços internos e externos (taxa de câmbio) e livres e administrados
(tarifas públicas). Esses processos devem entrar em exaustão em 2016. Quando
esses preços se acomodarem em seu novo patamar, a taxa de inflação convergirá
para o centro da meta.
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Fonte: http://www.paulogala.com.br/