"Que
a vida humana é apenas um sonho já disseram, mas também a mim esta ideia
persegue por toda parte. Quando penso nos limites que circunscrevem as ativas e
investigativas faculdades humanas; quando vejo que esgotamos todas as nossas
forças em satisfazer nossas necessidades; quando constato que a tranquilidade a
respeito de certas questões não passa de uma resignação, como se a gente
tivesse pintado as paredes entre as quais jazemos presos com feições coloridas –
tudo isso me deixa mudo. Meto-me dentro de mim e acho aí o mundo! Mas antes em
pressentimentos e desejos que em realidades e ações vivas. E então tudo paira a
minha volta, sorrio e sigo, penetrando adiante no universo.
Que
as crianças não sabem o porquê de desejarem algo, os pedagogos estão de acordo.
Mas também que adultos deambulem sobre a face da terra, sem raízes fixas num
único lugar apenas, ninguém parece acreditar. Quanto a mim, parece-me que não
há realidade mais palpável do que essa. Concordo de boa vontade que são exatamente
essas as pessoas mais felizes.
(...)
Não
poderia desenhar nada agora, nem sequer um traço, embora jamais tenha sido tão
grande pintor quanto neste instante. Quando a bruma do vale se levanta a minha
volta, e o sol altaneiro descansa sobre a abóbada escura e impenetrável da
minha floresta, e apenas alguns escassos raios deslizam."
(In: GOETHE, Johann W, Os sofrimentos do jovem Werther, Tradução de Marcelo Backes, Porto Alegre: LP&M, 2016)