sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Alegria mesclada e não mesclada de tristeza: esperança

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"Os conceitos que temos acerca da coisa mesma são os seguintes: 1º) ou consideramos a coisa como contingente, isto é, podendo ocorrer ou não; 2º) ou deve ocorrer necessariamente. Isso quanto à coisa mesma. Com respeito a quem concebe a coisa, ou deve fazer algo para promover a chegada da coisa, ou bem para impedi-la.
Desses conceitos nascem todos esses sentimentos do seguinte modo: se concebemos que uma coisa que está por vir é boa e pode ocorrer, daí a mente adquire essa forma que denominamos esperança, e que não é mais que uma certa espécie de alegria mesclada com um pouco de tristeza. Se, pelo contrário, julgamos que a coisa que pode ocorrer é má, daí vem à nossa mente a forma que denominamos medo.
Se concebermos que a coisa é boa e ocorrerá necessariamente, daí vem à nossa mente a tranquilidade que denominamos segurança, e que é uma certa espécie de alegria não mesclada de tristeza, como no caso da esperança. Porém, se concebemos que a coisa é má e ocorrerá necessariamente, daí vem à mente o desespero, que não é mais que uma certa espécie de tristeza.
Falamos [dessas] paixões de maneira afirmativa e dizendo o que é cada uma delas. Inversamente também podemos defini-las de modo negativo: esperamos que o mal não venha, tememos que o bem não ocorra, estamos seguros de que o mal não ocorrerá e nos desesperamos porque o bem não virá.
Jamais existem segurança ou desespero sem que antes tenha havido esperança e medo. Por exemplo, se alguém opina ser bom o que ainda tem a esperar, então adquire, em sua mente, a forma que denominamos esperança, e estando segura de alcançar o bem suposto, a mente adquire a tranquilidade que denominamos segurança.”

(Espinosa, in Breve Tratado, tradução e notas de Emanuel Ângelo R. Fragoso e Luís César G. Oliva, 1ª edição, Belo Horizonte: Autêntica, 2014, págs. 109-110).