sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Eleições: entre encenação, violência e deterioração da democracia

Ao participar de um debate radiofônico, em Pernambuco, sobre a conjuntura nacional, foi-me pedido, ao final, um artigo com uma análise sobre as eleições municipais. Caso não se queira repetir lugares-comuns e se deseje de fato adotar uma postura analítica, tem-se diante de si um tema hard. O "beijo do populismo", tanto à direita como à esquerda, tende a repisar chavões e os ditos lugares-comuns: o oba-oba exaltando 'a festa da democracia', demonstração de que 'as instituições estão a funcionar normalmente', população 'exercendo a cidadania', etc. De outra parte, os interessados em adornar com tintas de normalidade o caos e a putrefação política que estamos a viver fazem retórica para  tentar demonstrar que o processo eleitoral corre o seu curso convencional imaculadamente. Mas, seja no caso do "beijo populista", seja nesse último, parece que a banda toca diferente. Por quê? A conferir no referido artigo, aí abaixo, que chega primeiro por aqui. 

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Por Ivonaldo Leite 

Quem acompanha a série histórica das eleições municipais brasileiras, sabe que o pleito deste ano está se caracterizando como o mais violento desde a primeira eleição municipal pós-ditadura, em 1988.
Do que se tem registro, já são contabilizados cerca de 30 assassinatos, sendo o mais impactante o do candidato a prefeito de Itumbiara/GO, José Gomes da Rocha, morto ao lado do vice-governador do estado, que também saiu ferido. Afora esses casos extremos, são inúmeros os registros de discussões acaloradas e agressões, com as ‘vias de fato’ requerendo a intervenção policial. O aumento da violência tem ocorrido em dupla perspectiva: em termos quantitativos e em intensidade, com os assassinatos, neste último caso, sendo marcados, por exemplo, pela brutalidade de diversos disparos.
Um outro fenômeno tem feito companhia à essa barbárie eleitoral: a “sofistificação” e a naturalização da compra de votos. É fato indiscutível que tal prática, na história política brasileira, é bastante corriqueira. Contudo, o plus do presente processo eleitoral decorre da adoção de peculiares mecanismos para efetivar a compra de sufrágios – em muitos casos, como estratégia para burlar a legislação e a fiscalização. Assim surgem figuras como o ‘condutor de votos’ (aquele que faz a relação de eleitores a serem comprados), bem como se efetiva a compra, quando é feita com dinheiro em espécie, através dos serviços de mototaxistas. Cimento, tijolo, telha, etc. continuam sendo moeda de uso corrente.
 Empiricamente, dois fatos que tiveram lugar no estado da Paraíba servem para ilustrar a naturalização do mercado do voto, quais sejam: um candidato a vice-prefeito que pousou para foto ao lado de uma mala cheia de notas de R$ 100,00 e um eleitor que resolveu anunciar venda de votos mediante a afixação de uma placa.
Como que atônitas autoridades se dizem impactadas com o grau de violência presente na campanha eleitoral de 2016. Assim se manifestou, por exemplo, o ministro Gilmar Mendes, presidente do TSE. Data vênia, a tragédia era, de determinado modo, previsível, e pode-se até mesmo operacionalizar uma hipótese analítica estabelecendo uma relação causal entre o clima de ódio que foi reproduzido no país após o resultado da eleição presidencial de 2014 e a violência na campanha do presente ano.
Há cerca de dois anos, em escala ascendente, a divergência civilizada de ideias no Brasil cedeu lugar aos ataques da intolerância, as agressões físicas e as montagens em redes sociais para reproduzirem mentiras (a propósito, quando se tem necessidade de recorrer a montagens, é porque falta argumento). Nesse sentido, os disparates abundam. Dois deles são bem característicos, isto é: o ataque ao cardeal de São Paulo, Dom Odilo Scherer, que foi agredido durante uma missa e lançado ao chão por uma senhora que o acusava de comunista; e a deplorável atitude de uma pediatra no Rio Grande do Sul que se recusou a atender uma criança por causa da opção política da mãe da mesma. Por conveniência política, determinados segmentos se mantiveram omissos diante de tais fatos, pois, no momento em que eles ocorreram, o que importava era engrossar as fileiras do impeachment. Aliás, o próprio ministro Gilmar Mendes, sob o impulso de defender as suas posições, mais de uma vez deu expressão à truculência verbal, a ponto de dizer que o projeto da ficha limpa parecia ser ‘um projeto feito por bêbados’.
 O acúmulo da intolerância, da deterioração do ambiente de debate, das agressões, etc., está aí reverberando na violência presente no atual processo eleitoral.
Com tudo isso – violência, compra de votos, corrupção eleitoral -, ainda há quem insita em dizer que, com as eleições municipais, estamos vivendo a ‘festa da democracia’, que as instituições estão a funcionar bem, enfim, esses lugares-comuns. Trata-se de um discurso mais próprio de um mundo paralelo, o que é coisa para a psicanálise. Todavia, é de política que se trata. E o que os dispositivos da sua análise revelam é que o jogo político-eleitoral chegou a um ponto em que – com aliados de ontem sendo adversários hoje, para serem aliados novamente amanhã – a encenação é elevada ao máximo, ao mesmo tempo em que se sepulta a ação política fundada em bases programáticas. E assim se vai deteriorando a democracia brasileira.
Desde Hobbes, sabemos que a guerra de todos contra todos não leva a lugar nenhum, a não ser a catástrofes e mais catástrofes. Daí que se há algo que a teoria política moderna nos legou e que tem sido uma dimensão central nas ‘democracias avançadas’ é o conceito de contrato. A pactuação entre cidadãos, pois a força cria situações de fato, mas não estabelece o direito. O nível de deterioração da democracia brasileira tem levado cientistas sociais estrangeiros, como o sociólogo catalão Manuel Castells, a colocarem em dúvida o futuro do país.
Tirar as devidas ilações do grau de violência verificado no atual processo eleitoral, assim como da banalização do mercado do voto, é, portanto, condição sine qua non para pensar em um novo contrato político para o Brasil. Afinal, como assinala um postulado da ética, ‘seres vocacionados para a liberdade também são livres para se destruírem’.   

Alegria mesclada e não mesclada de tristeza: esperança

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"Os conceitos que temos acerca da coisa mesma são os seguintes: 1º) ou consideramos a coisa como contingente, isto é, podendo ocorrer ou não; 2º) ou deve ocorrer necessariamente. Isso quanto à coisa mesma. Com respeito a quem concebe a coisa, ou deve fazer algo para promover a chegada da coisa, ou bem para impedi-la.
Desses conceitos nascem todos esses sentimentos do seguinte modo: se concebemos que uma coisa que está por vir é boa e pode ocorrer, daí a mente adquire essa forma que denominamos esperança, e que não é mais que uma certa espécie de alegria mesclada com um pouco de tristeza. Se, pelo contrário, julgamos que a coisa que pode ocorrer é má, daí vem à nossa mente a forma que denominamos medo.
Se concebermos que a coisa é boa e ocorrerá necessariamente, daí vem à nossa mente a tranquilidade que denominamos segurança, e que é uma certa espécie de alegria não mesclada de tristeza, como no caso da esperança. Porém, se concebemos que a coisa é má e ocorrerá necessariamente, daí vem à mente o desespero, que não é mais que uma certa espécie de tristeza.
Falamos [dessas] paixões de maneira afirmativa e dizendo o que é cada uma delas. Inversamente também podemos defini-las de modo negativo: esperamos que o mal não venha, tememos que o bem não ocorra, estamos seguros de que o mal não ocorrerá e nos desesperamos porque o bem não virá.
Jamais existem segurança ou desespero sem que antes tenha havido esperança e medo. Por exemplo, se alguém opina ser bom o que ainda tem a esperar, então adquire, em sua mente, a forma que denominamos esperança, e estando segura de alcançar o bem suposto, a mente adquire a tranquilidade que denominamos segurança.”

(Espinosa, in Breve Tratado, tradução e notas de Emanuel Ângelo R. Fragoso e Luís César G. Oliva, 1ª edição, Belo Horizonte: Autêntica, 2014, págs. 109-110). 


quarta-feira, 28 de setembro de 2016

'Cognição de proteção da identidade' ou quando ideias preconcebidas colonizam mentes

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Colonized Mind - Prince 

Por Rodrigo Burgarelli 

O professor Pablo Ortellado, que coordena o grupo de pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação da Universidade de São Paulo (USP), arregalou os olhos quando viu os resultados finais da pesquisa de opinião organizada pela sua equipe durante um dos protestos a favor do impeachment da [ex] presidente Dilma Rousseff, em 2015. Os dados mostraram um fenômeno curioso: apesar da alta escolaridade dos manifestantes entrevistados (dois em cada três tinham curso superior completo), a maioria afirmou acreditar em boatos tão inverossímeis quanto “o PCC é o braço armado do PT” ou que “50 mil haitianos vieram ao Brasil para votar em Dilma” nas eleições do ano anterior.
O resultado dessas pesquisas é revelador, mas cada vez menos surpreendente. Uma série de estudos recentes num campo que congrega ciência política, cognição e psicologia social está derrubando a ideia de que o acesso a mais informação significa, de fato, que as pessoas ficarão mais bem informadas. Na verdade, quando o assunto é política, parece acontecer o oposto: o ser humano tende a reforçar ainda mais suas convicções (mesmo que estejam erradas) quando são expostas a evidências que provem o contrário.
Essa conclusão é nova, mas está se tornando consenso na academia. Um estudo que se tornou referência foi conduzido em 2013 pelo cientista social Dan Kahan,do Centro de Cognição Cultural, da Escola de Direito da Universidade de Yale. Mil adultos daquele país foram recrutados para analisar dados fictícios de uma pesquisa cujo objetivo era identificar se um novo creme para pele causava ou não irritação. A conclusão foi a esperada: quem antes havia se saído melhor em um teste de matemática conseguiu interpretar os números de maneira mais correta e identificar os possíveis efeitos do creme.
Tudo mudou, no entanto, quando o problema deixou de ser sobre um produto dermatológico e passou a envolver um assunto bem mais polarizador nos Estados Unidos: o porte de armas. Dados fictícios similares foram apresentados às mesmas pessoas, mas desta vez relativos a supostos crimes em cidades que proibiam ou permitiam o porte de arma pelos cidadãos. Dois grupos de dados foram apresentados a grupos distintos: um deles levava à conclusão de que o porte de armas estaria relacionado a aumento nos crimes, enquanto o outro apontava o oposto. Dessa vez, o que separou a performance dos indivíduos não foi mais a habilidade matemática, mas sim a ideologia: os liberais foram melhores para interpretar os dados quando eles relacionavam o porte de armas com um aumento de criminalidade, mas os conservadores ganharam quando a versão apresentada do exercício apontava à direção contrária.
O mais notável, no entanto, é que a taxa de erro no cenário político acabou sendo quase duas vezes maior entre os indivíduos bons de matemática do que entre os outros – justamente o contrário do que ocorrera quando o assunto era um simples creme para pele. Em outras palavras, os pesquisadores concluíram que a política “emburrece” mais justamente os mais aptos para analisar as evidências de maneira técnica – o que torna a correlação entre alta escolaridade e crença em boatos nas manifestações brasileiras algo bem mais compreensível.
“Esse processo existe, e isso está cada vez mais claro. Quando se discute algo relacionado com um valor importante para uma pessoa, a reação natural é que ela só saia mais convencida da sua certeza anterior”, diz Pablo Ortellado, que coordenou as pesquisas dos protestos no Brasil.  A reação natural dos indivíduos em proteger seus valores foi batizada por Kahan como “cognição de proteção da identidade”. Esse conceito, segundo ele, vem da importância dada pelas pessoas às crenças compartilhadas pelos grupos com os quais se identificam. “Baseados em mecanismos psicológicos, os indivíduos aceitam ou rejeitam evidências empíricas, a partir de sua visão desejada de sociedade”, escreveu o pesquisador.
Como o que importa para a identidade de cada grupo muda de sociedade para sociedade, é natural que consensos indiscutíveis em um determinado país sejam impossíveis de serem alcançados em outro. Um exemplo disso é o aquecimento global. Nos Estados Unidos, esse é um assunto polarizador, que divide o país em linhas similares aos dos dois grandes partidos (democratas e republicanos). Lá, apenas 64% da população acredita que essa seja uma ameaça séria, segundo pesquisa publicada na Nature em 2015. Já no Brasil, onde todos os grandes partidos parecem compartilhar preocupação similar em relação ao tema, como mostra artigo publicado pela Revista Opinião Pública também em 2015, esse porcentual salta para 99%.
Para Ortellado, dois fenômenos recentes são catalisadores desse processo cognitivo. O primeiro é o efeito bolha nas redes sociais. “Vimos nas pesquisas que ambos os lados nas manifestações dizem se informar sobre política principalmente no Facebook. E estudos recentes mostram que o algoritmo usado para escolher o que aparece na página de um usuário prioriza o que confirma as opiniões dele.” O segundo seriam as chamadas “guerras culturais”. O professor da USP explica: “O debate político está deixando de ser sobre questões econômicas e está indo para temas relacionados a valores, como drogas e homossexualidade. E os grupos e partidos estão se realinhando em torno dessas novas disputas.”
Para ele, essa tendência fortalece os vieses dos grupos que se articulam ao redor de uma posição sobre esses temas. Isso teria ao menos um efeito macabro: o debate público ficaria menos produtivo, já que um extremo não consegue conversar com o outro, e quem está no meio se sente excluído da discussão. Novos estudos feitos no Brasil corroboram essa tese. Um trabalho recente de dois pesquisadores da Universidade de Brasília, Carlos Oliveira e Mathieu Turgeon, com base em bancos de dados de pesquisas de opinião, concluiu que a grande maioria dos eleitores não se alinha em torno dos polos de direita e esquerda.
A disputa dos extremos no debate público, portanto, seria dirigida justamente a essa grande maioria silenciosa. “Os extremos polarizam o debate, e isso dá a falsa impressão de que é impossível conversar. Mas não é assim. Estimamos que esses extremos totalizam cerca de 10 milhões de pessoas no Brasil. Todo o resto, portanto, pode ir pra lá ou pra cá. São pessoas que nem se interessam tanto por política, e por isso não têm tanta dificuldade em mudar de opinião ou serem convencidas”, afirma Ortellado.
Para alguns pesquisadores desse campo, mais importante do que entender como funcionam os vieses cognitivos é descobrir como furá-los. A importância disso está no uso prático – uma ONG ambientalista, por exemplo, precisa convencer pessoas de que o aquecimento global ameaça a humanidade. Por isso mesmo,  partidos políticos e think tanks norte-americanos gastam milhões de dólares financiando pesquisas para descobrir a resposta a duas perguntas: É possível resolver impasses entre os extremos? E, se sim, como?
Ainda não há respostas definitivas, mas aparecem hipóteses promissoras. Uma delas é quase uma consequência óbvia da cognição de proteção de identidade: se a tendência das pessoas é reagir à evidência sobre um assunto de maneira a não contradizer as crenças do grupo social com o qual ela se identifica, talvez ela fique mais aberta a mudar de ideia caso essas evidências sejam apresentadas de maneira que reforcem sua visão de mundo, em vez de contestá-la.
Essa saída foi testada por pesquisadores das universidades de Yale, Texas e de Stanford, que tentaram mudar a opinião de estudantes que se declararam contrários ou favoráveis à pena de morte. Eles concluíram que era mais simples convencer alguém do contrário quando os argumentos eram apresentados de maneira condizente com valores considerados importantes por essa mesma pessoa em um momento anterior da pesquisa – se alguém havia dito que se identificava como ligado à família, por exemplo, comentários que enfatizavam esse traço pessoal eram feitos antes da leitura do texto, o que, segundo os pesquisadores, aumentava as chances de o estudante mudar de ideia.
Mas um artigo que saiu na revista Science, em abril deste ano, causou furor especial nesse meio. Uma dupla de pesquisadores da Universidade da Califórnia e de Stanford comprovou que existe outra maneira eficaz de causar mudanças em opiniões fortes sobre um assunto polarizador: a homossexualidade. O estudo, financiado por uma ONG de combate à homofobia, consistia em enviar 56 entrevistadores – alguns transgêneros, outros não – em mais de 500 residências na Flórida para conversar sobre preconceito contra homossexuais e saber a opinião dos indivíduos em duas ocasiões diferentes, separadas por três meses. O resultado provou que, quando um transgênero realizava a entrevista, a chance de a pessoa reduzir sua pontuação em uma escala de homofobia tinha aumento significativo. O contato pessoal com os dramas pessoais, portanto, ajudaria a derrubar barreiras cognitivas que antes pareciam intransponíveis.
O que todos os estudos mostram é que, se nem evidências científicas são suficientes para mudar a opinião de um convencido, partir para o enfrentamento direto é a pior das estratégias. O melhor caminho para estimular o debate entre grupos opostos – ou transformar uma opinião cristalizada sobre um assunto politicamente sensível – pode estar em entender os valores considerados importantes para os grupos e usá-los na hora de apresentar novos argumentos. Parece simples, mas uma olhada rápida em qualquer feed de Facebook prova que encontrar esse meio-termo pode ser tarefa árdua.

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Fonte: Estado de São Paulo, edição do dia 27/08/2016. 


terça-feira, 27 de setembro de 2016

Carta recortada: incandescências de Werther


"Que a vida humana é apenas um sonho já disseram, mas também a mim esta ideia persegue por toda parte. Quando penso nos limites que circunscrevem as ativas e investigativas faculdades humanas; quando vejo que esgotamos todas as nossas forças em satisfazer nossas necessidades; quando constato que a tranquilidade a respeito de certas questões não passa de uma resignação, como se a gente tivesse pintado as paredes entre as quais jazemos presos com feições coloridas – tudo isso me deixa mudo. Meto-me dentro de mim e acho aí o mundo! Mas antes em pressentimentos e desejos que em realidades e ações vivas. E então tudo paira a minha volta, sorrio e sigo, penetrando adiante no universo.
Que as crianças não sabem o porquê de desejarem algo, os pedagogos estão de acordo. Mas também que adultos deambulem sobre a face da terra, sem raízes fixas num único lugar apenas, ninguém parece acreditar. Quanto a mim, parece-me que não há realidade mais palpável do que essa. Concordo de boa vontade que são exatamente essas as pessoas mais felizes.
(...) 
Não poderia desenhar nada agora, nem sequer um traço, embora jamais tenha sido tão grande pintor quanto neste instante. Quando a bruma do vale se levanta a minha volta, e o sol altaneiro descansa sobre a abóbada escura e impenetrável da minha floresta, e apenas alguns escassos raios deslizam."  

(In: GOETHE, Johann W, Os sofrimentos do jovem Werther, Tradução de Marcelo Backes, Porto Alegre: LP&M, 2016)  

Rumo e alternativas: o risco do 'futuro fraco' ou do não futuro

Por Celso Rocha de Barros
(Doutor em Sociologia pela Universidade de Oxford)

Em 1962, Celso Furtado se tornou Ministro do Planejamento. A situação era desesperadora. A inflação subia, os desequilíbrios se acumulavam e a democracia estava morrendo. A nomeação de Furtado foi um dos maiores "se vira aí, famosão" da história brasileira.
O que fez o famosão? Bolou um plano econômico que, além de enfrentar problemas imediatos, tentava conciliar os interesses em conflito no que era uma profunda crise social. Os detalhes não importam aqui, pois remetem aos problemas da época.
O que me interessa é o espírito da coisa: fazer, ao mesmo tempo, o ajuste econômico exigido pela direita (que era necessário) e políticas de redistribuição pedidas pela esquerda, como reforma agrária (o que também teria sido uma boa ideia).
Ninguém apoiou, durou só seis meses, tudo seguiu degringolando até 1964 e, aí, enfim. Hoje parece que tudo isso era inevitável, mas não era: havia acordos inteiramente factíveis que não foram feitos.
Neste momento em que as coisas tampouco parecem ir muito bem, sugiro que pensemos como Celso Furtado em 1962, e tentemos conciliar o ajuste com medidas redistributivas que possam responder à crise social e política que vivemos. Fazer ao mesmo tempo, por exemplo, reforma da Previdência e um sistema tributário mais progressivo.
No fim das contas, será necessário negociar com os sindicatos qualquer reforma que se proponha. Minha proposta é que os sindicatos não se limitem a defender o máximo possível do status quo, mas também apresentem medidas para resolver parte do problema fiscal com mais impostos sobre quem pode pagar.
Vale lembrar, medidas redistributivas são necessárias porque a estratégia de combate à desigualdade adotada até aqui –tornar o gasto mais progressivo, mesmo que a tributação não o seja– pode perder impacto com as reduções de gastos previstas.
O Brasil tem gente boa para discutir cada aspecto desse programa.
Eu sei, o mais provável é que ninguém faça nada disso no clima político envenenado em que vivemos. Mas, antes de descartar a saída Furtado, sugiro ao leitor que considere a alternativa que, no momento, parece mais provável.
O plano atual parece ser comprar no Congresso as reformas com um "acordão" que contenha os danos causados pela Lava Jato, como o que foi tentado na segunda-feira passada [19/09]; e torcer para que a esquerda não consiga mobilizar os insatisfeitos com as reformas. Pode dar certo.
Mas, mesmo se der, é isso que somos agora? Teremos uma Constituição de 2017 aprovada deste jeito?
Se não fizermos um acordo na sociedade civil, não teremos só que tolerar o acordo no Congresso. Teremos que torcer para ele dar certo. Será a única conciliação nacional possível, e não teremos até 2018 um governo forte o suficiente para dispensar algum tipo de conciliação.
Será muito triste se tivermos que nos conformar com isso.

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Fonte: Folha de São Paulo, versão para assinantes, edição do dia 26/09/2016. Título original: 'Façam como Celso e tentem conciliar o ajuste com medidas redistributivas'. 

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Paralaxe da vida, espera em paradoxo: movimento

Denomina-se paralaxe o fenômeno definido como afastamento entre o eixo da construção teórica e o eixo da experiência real do indivíduo que a está desenvolvendo. Vem dos antigos gregos. Mais recentemente, o filósofo Zizek deu expressão ao conceito, com o livro 'A Visão em Paralaxe'. Pois bem, David Lynch é um roteirista, produtor e músico, com marcada perspectiva surrealista - embora 'Uma História Simples', um dos seus filmes mais conhecidos, esteja um tanto fora da órbita do surrealismo. O mesmo não pode ser dito do vídeo aí abaixo, 'atribuindo estética' a uma de suas músicas. I'm wainting here. Temos uma espécie de encontro com a paralaxe. O ato da espera em paradoxo: movimento na estrada. É conhecido o gosto dos surrealistas pelas estradas. Fixas paisagens de passagem. Carretel mental das linhas psicanalíticas desenrolando-se. A conferir. 


domingo, 25 de setembro de 2016

A mediocridade não pode ser considerada inofensiva: sobre fascistas e democratas


Por Leandro Karnal 
(Historiador, UNICAMP) 

Duas pessoas discutem sobre um tema espinhoso como o aborto ou a liberação de drogas. Quando a temperatura da conversa aumenta, um dos lados vai jogar, com grande certeza, o insulto de “nazista” ou “fascista” sobre o adversário. A sombra de Hitler alonga-se no horizonte. O professor não desmarcou a data da prova como pedido? −Nazistão − bradará o coro dos alunos indignados. Um governo lança a ideia de controle da mídia? Tática fascista! 
O nazismo funciona como um conceito portemanteau, expressão francesa que usamos para falar em alças nas quais dependuramos tudo, como os casacos em cabides. Citar sempre o nazismo como modelo de ditadura é um recurso retórico eficaz quando se insulta adversários, pois algumas linhas gerais do fascismo alemão são do conhecimento geral e Hitler encarna o mal em estado absoluto para quase todas as pessoas. 
Tente difamar um inimigo nas suas redes sociais dizendo que o pensamento dele se parece com o de Rafael Trujillo, ditador por três décadas da República Dominicana. O efeito será nulo. Lembrar-se de infames, como Alfredo Stroessner, é só um sinal de idade. Hitler é um nome mais magnético e eficaz, o tipo ideal de ditador. A memória nazista atravessa gerações. Todo professor de história sabe que a análise da personalidade de Hitler provoca atenção até em alunos. Ivan é “o terrível” para nós e “o grande” para russos”.  D. Maria I é a “louca no Brasil” e a “pia” em Portugal. Hitler é o malvado favorito de todos. 
Para aqueles que idealizaram o ditador nazista como um gênio do mal, é preciso dizer que se o mal é bem empregado no caso, gênio é um equívoco. Já ouvi muito: “Ele era um assassino, mas era brilhante”. As biografias tradicionais de Hitler, como a de Joachim Fest e John Toland, já tinham indicado que não se podia sustentar a tese da inteligência do cabo austríaco. De forma ainda mais contundente e recente, Ian Kershaw derruba, tijolo por tijolo, a imagem de estrategista poderoso ou brilhante. Era homem medíocre, limitado em todos os sentidos, com uma visão de mundo na qual sua tacanhice fazia par com seus ódios. Hitler é tão banal que fica o incômodo de como alguém assim chegou ao ponto dos genocídios que perpetrou. Talvez o segredo seja este: Hitler entendia o alemão comum por ser um homem comum. Como alguém estúpido chega ao poder? Ó brasileiros, ó cidadãos da minha terra amada: vocês tem certeza de que desejam me fazer este questionamento? Por que a Alemanha seria diferente de nós?
A biografia de Goebbels, de Peter Longerich, também revela dados curiosos. Como Goebbels era um doutor em Filosofia pela renomada Universidade de Heidelberg, imaginávamos que o verdadeiro gênio do mal era ele e não o seu chefe idolatrado. O livro destrói isso. Homem frágil, cheio de dor e de limitações e devotado como um cão ao Führer. O ideólogo oficial do regime, Alfred Rosenberg, não fugia a essa regra. Ele era filiado ao partido nacional-socialista antes de Hitler. Ler a obra principal dele, O Mito do Século 20, é quase constrangedor, ainda que tenha sido um ovo de serpente. A forca do tribunal de Nuremberg não matou nenhum gênio. A banalidade do mal, conceito de Hannah Arendt, serviria para mais gente além de Eichmann. Os nazistas não eram apenas comuns, também eram medíocres. 
Talvez esteja nessa mediocridade a vitalidade e a eficácia do sistema fascista alemão. Explorar medos coletivos, dirigir violências contra grupos em meio a histerias sociais, aproveitar-se de crises para assustar a muitos com fantoches, usar propaganda sistemática e fazer da violência um método exaltado é uma estratégia que, infelizmente, não se encerra com o fim do regime nazista e nem precisa de brilhantismo. São recursos fáceis na maioria dos momentos históricos, em especial os de crise. 
A mediocridade é uma das molas da história e um esteio da violência. Ao final da experiência totalitária nazista, seis milhões de judeus tinham desaparecido. Ao lado do racismo antissemita, outras vítimas como ciganos, testemunhas de Jeová, militantes comunistas, homossexuais e deficientes físicos e mentais tinham encontrado a morte. A mediocridade não pode ser considerada inofensiva. 
Sempre me assusta que a democracia de massas compartilhe com as ditaduras a necessidade do espetáculo. A produção de um acordo que possibilite ao ditador ou mesmo a um democrata o exercício do poder,  é algo estranhamente essencial a um sistema ou outro. Convenções partidárias e cenografia, guardados certos parâmetros, aproximam as apoteoses nazistas em Nürnberg e os encontros dos partidos democrata e republicano nos EUA atuais. Da mesma forma, a propaganda política que nos seduz/adestra/omite sobre os candidatos às prefeituras e ao cargo de vereador são, muitas vezes, seguidoras da ideia nazista de uma mentira repetida mil vezes. 
Democracia é melhor do que ditadura. Na ditadura, o corpo da liberdade e dos direitos fundamentais é assassinado. Na democracia, ele é chicoteado e insultado, mas sobrevive. Na ditadura, a chama da liberdade é apagada; na democracia, ela bruxuleia. Gostaria que os dois continentes, o da liberdade e o do fascismo, fossem mais distantes. A sedução de um psicopata imbecil como Hitler talvez indique que, além de muitas pontes, os dois mundos têm fluxo migratório acima do desejado.

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Fonte: http://cultura.estadao.com.br/. Título original: 'Os medíocres fascistas e os democratas'. 

sábado, 24 de setembro de 2016

O livro dos destinos

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"Caminhando, encontrou um eremita, cuja barba branca e venerável lhe caía até a cintura. Tinha na mão um livro que lia atentamente. Zadig parou e lhe fez uma profunda reverência. O eremita o cumprimentou com um ar tão nobre e tão pacífico, que Zadig teve a curiosidade de conversar com ele. Perguntou-lhe que livro lia. 
- É o livro dos destinos - disse o eremita. Quer ler um pouco?
Pôs o livro nas mãos de Zadig, que, por mais versado que fosse em várias línguas, não conseguiu decifrar uma única letra do livro. Isso redobrou a sua curiosidade. 
- Pareces bastante aborrecido - lhe disse o eremita. 
Infelizmente! Tenho motivos para tanto! - disse Zadig 
- Se me permites que te acompanhe - continuou o ancião - talvez eu possa te ser útil: consegui, algumas vezes, incutir sentimentos de consolo na alma de pessoas infelizes. 
Zadig sentiu-se tomado de respeito pela aparência, pelas barbas e pelo livro do eremita. Descobriu, em sua conversa, luzes superiores. O eremita falava do destino, da justiça, da moral, do bem, do amor, da lealdade, das virtudes, da fraqueza humana - falava com uma eloquência tão viva e tocante, que Zadig se sentiu atraído por o que ele dizia com um invencível encanto. Pediu-lhe com insistência que não o deixasse até que pudessem retornar para a Babilônia. 
- Eu mesmo te peço esse favor - disse-lhe o velho.
Os dois seguiram viagem. 
Mas, de repente, enquanto o babilônio Zadig falava, percebeu que o velho já não tinha barba, que o seu rosto adquirira os traços da juventude. Chamava-se agora Jesrad. 
- Os seres humanos - disse Jersard - se apressam muitas vezes em pensar que conhecem, e, conhecendo superficialmente, superficiais se tornam. Formam ideias sobre a aparência do corpo sendo ignorantes a respeito dos assuntos da alma que governa a estrutura física. Perdem-se no mundo das aparências e nos devaneios do falso conhecimento."

(In: Voltaire - Zadig ou o Destino, Coleção Grandes Obras do Pensamento Universal, Tradução de Antonio Geraldo da Silva, São Paulo: Editora Escala, 2008, págs. 99-100). 

Primavera distante


sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Estado, Educação e a Reforma do Ensino Médio: tristes tópicos

Do que, ao longo do tempo, tenho estudado sobre o Ensino Médio (designadamente envolvendo as relações entre educação e trabalho) e do que tenho lido sobre a proposta de reforma apresentada pelo governo, penso que, dentre outras, cabem considerações como:

1) Fica-se por saber se as demonstrações de inabilidade técnica e as trabalhadas são involuntárias ou não. O fato é que não se faz uma reforma como essa do modo como se está a proceder, sem interação com os segmentos envolvidos e por Medida Provisória, a ser aprovada em até 120 dias. 

2) O "casamento" entre as cinco áreas (linguagem, matemática, ciências humanas, ciências naturais, ciências biológicas) e a flexibilização de componentes curriculares (filosofia, sociologia, artes, etc.) oscila entre o confuso e o nonsense. 

3) A ideia de trancamento de matrícula numa fase etária em que, diferente da universidade, se está a trabalhar com adolescentes (o que demanda maior acompanhamento em termos de indicação de diretrizes) pode se tornar um estímulo à evasão. 

4) Subvaloriza-se as ciências humanas, assim como os cursos de licenciatura. No primeiro caso, é possível notar o regresso de uma compreensão ultrapassada sobre capital humano; no segundo, ignoram-se os requisitos formativos, do ponto de vista pedagógico, necessários ao processo de ensino e aprendizagem.  

5) As redes particulares de ensino serão beneficiadas com a reforma, pois, com a flexibilização proposta, estarão livres para não ofertar componentes curriculares ou minimizá-los, dispensando professores ou precarizando ainda mais o trabalho docente, sob o discurso da redução de custos - ou, dito de outro modo, em função do aumento dos lucros. 

6) Last but not least, chama a atenção a inconsistência (o primarismo, beirando o senso comum)  de apreciações críticas que têm sido feitas à proposta de reforma - inconsistência de quem, por dever de ofício, não deveria ser inconsistente na análise. De algum modo, isso é um reflexo das fragilidades que têm marcado a pesquisa educacional brasileira ultimamente, onde, por exemplo, determinadas perspectivas têm se limitado a fazer a apologia de autores e/ou a brandir modas acadêmicas. Neste último caso, a propósito, é bastante sintomático o modo como o conceito de Estado tem sido deslocado de muitos estudos em educação, sob alegações as mais bizarras possíveis. Pois bem, agora, está aí o Estado, à Mendonça Filho-Michel Temer, com uma inconcebível proposta de reforma do Ensino Médio, e, perante isso, as reações dos referidos segmentos da pesquisa educacional se limitam a repetição de lugares-comuns. O trabalho acadêmico requer mais do que 'festivais celebratórios' e oba-oba de eventos. 

A propósito do papel do Estado na educação e um pouco sobre o que está em causa no Brasil, do ponto de vista das políticas educativas, neste momento, escrevi o artigo aí abaixo para uma publicação chilena. 


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ESTADO, EDUCACIÓN Y LOS NUEVOS ESCENARIOS EN BRASIL

Por Ivonaldo Leite 

Los sistemas educativos nacionales han sufrido diversas transformaciones desde su constitución en el siglo XIX. Algunas obedecen a su dinámica interna, pero otras reflejan transformaciones más generales en el patrón de relación entre Estado y la sociedad.
Como se ha dicho Emilio Fanfani, la actual configuración de la relación entre Estado, sociedad y sistema educativo responde a una evolución que reconoce dos etapas fundamentales.
La primera adquiere sus rasgos distintivos luego de la crisis de 1930 y de la segunda guerra mundial y se extiende, en los países capitalistas centrales, hasta el estallido de la crisis del petróleo en 1973, y en los países latinoamericanos hasta la eclosión de la crisis de la deuda externa en 1982. A partir de ese momento se abre una segunda etapa, todavía en curso.
En el contexto de la crisis de 1930, la educación juega un papel central, puesto que era percibida como una inversión clave para la promoción tanto del crecimiento económico como de la justicia social. Las políticas educativas dominantes durante este período procuraron estimular en el sistema educativo prácticas conducentes a la producción de individuos fácilmente adaptables a los procesos políticos y productivos vigentes.
Sin duda el interés estatal en la integración nacional de las poblaciones bajo su autoridad resultó el motor de la expansión de los sistemas educativos en origen. El motor para la expansión de la cobertura y de la equidad del sistema resultó de la necesidad de realización del ideal de integración y promoción social característicos de los Estados de posguerra.
Uno de los aspectos básicos de los Estados de posguerra es su carácter intervencionista. El Estado interventor asumía un rol central en el mantenimiento de este equilibrio, interviniendo en la establecimiento de los precios y en la distribución del ingreso, directamente, a través de la política monetaria y la política de impuestos, e, indirectamente, a través, de la política de salud, la política de asistencia social y la política educativa. Era necesario que el Estado nacional centralizara tanto la recaudación y la distribución de los recursos financieros como el diseño de los currícula, dejando para las jurisdicciones sub-nacionales y los agentes privados solamente la responsabilidad de la provisión directa de los servicios.
Pero la crisis del Estado interventor puso en cuestión no solamente el arreglo socioeconómico que sostuvo el equilibrio de posguerra, sino también los pilares que sostuvieron la expansión de los sistemas educativos. El ideal universalista que inspiró la constitución y expansión de los sistemas educativos ha entrado en declive.
En países como Brasil, después de más de una década de políticas educativas activas del Estado, ahora el gobierno Temer adopta nuevas directrices que regresan a una agenda mínima del Estado en la educación. El discurso del nuevo ministro de educación está marcado por la tesis de la reducción de la inversión y la privatización.
En verdad, las nuevas reformas educativas brasileñas plantean una versión atrasada de la teoría del capital humano. Esto significa que o que impulsa a más gente a estudiar cada vez más años no es tanto o no solamente la expectativa razonable de una mejora en el ingreso en el mercado laboral sino la devaluación de los títulos académicos y las credenciales educativas. El solo hecho que cada vez más gente acceda al mismo título disminuye inmediatamente el valor de ese título, y de las habilidades que ese título simboliza en el mercado de trabajo.  Este es un tema central para el debate sobre la reforma de la educación secundaria brasileña.
El dilema de Brasil es no sólo desde el punto de vista de las reformas educativas, sino también el tipo de enfoque teórico y metodológico que muchos investigadores educativos han adoptado en sus estudios. En general, estos enfoques en nada tiene que ver con la realidad brasileña y de Latinoamérica. Por lo tanto son sólo  modas teóricas que alimentan egos y intereses en el mercado académico.
De todos modos, en fin, hay un serio riesgo de las nuevas políticas resultaren en una marcada segmentación del sistema educativo brasileño, y, consecuentemente, de la estructura de oportunidades educativas y sociales.