terça-feira, 9 de junho de 2015

Silêncio e sentimento maduro

Os habituados com a música erudita, por certo, lembrarão dele apresentando um programa televisivo denominado 'Quem tem Medo da Música Clássica?' Falo sobre Arthur da Távola. Ao fim de cada edição do programa, ele repeita: 'música é vida interior, e quem tem vida interior jamais padecerá de solidão' (claro, há Música e música). De determinado modo, esse é um ponto de valorização da solidão. Do silêncio. E de encontro com o Existencialismo. Sartre foi categórico sobre isso: 'se você sente solidão quando está a sós, então está em má companhia'. Bom, e como por cá vivemos a semana da Fête des Amoureux, embora não de Saint Valetin, vai aí o poema do 'Amor Maduro' de Arthur da Távola. Ou a tranquilidade, a estabilidade no viver e a serenidade. 


O amor maduro não é menor em intensidade.
Ele é apenas quase silencioso. Não é menor em extensão.
É mais definido, colorido e poetizado.
Não carece de demonstrações: presenteia com a verdade do sentimento.
Não precisa de presenças exigidas: amplia-se com as ausências significantes.

O amor maduro somente aceita viver os problemas da felicidade.
Problemas da felicidade são formas trabalhosas de construir o bem e o prazer.
Problemas da infelicidade não interessam ao amor maduro.

O amor maduro cresce na verdade e se esconde a cada auto-ilusão.
Basta-se com o todo do pouco.
Não precisa nem quer nada do muito.
Está relacionado com a vida e a sua incompletude, por isso é pleno em cada ninharia por ele transformada em paraíso.
É feito de compreensão, música e mistério.
É a forma sublime de ser adulto e a forma adulta de ser sublime e criança.
O amor maduro não disputa, não cobra, pouco pergunta, menos quer saber. Teme, sim. Porém, não faz do temor, argumento.
Basta-se com a própria existência.
Alimenta-se do instante presente valorizado e importante porque redentor de todos os equívocos do passado.
O amor maduro é a regeneração de cada erro.
Ele é filho da capacidade de crer e continuar, é o sentimento que se manteve mais forte depois de todas as ameaças, guerras ou inundações existenciais com epidemias de ciúme.

O amor maduro é a valorização do melhor do outro e a relação com a parte salva de cada pessoa.
Ele vive do que não morreu mesmo tendo ficado para depois.
Vive do que fermentou criando dimensões novas para sentimentos antigos, jardins abandonados cheios de sementes.
Ele não pede, tem.
Não reivindica, consegue.
Não persegue, recebe.
Não exige, dá. Não pergunta, adivinha.
Existe, para fazer feliz.
Só teme o que cansa, machuca ou desgasta.





Nenhum comentário:

Postar um comentário