Os habituados com a música erudita, por certo, lembrarão dele apresentando um programa televisivo denominado 'Quem tem Medo da Música Clássica?' Falo sobre Arthur da Távola. Ao fim de cada edição do programa, ele repeita: 'música é vida interior, e quem tem vida interior jamais padecerá de solidão' (claro, há Música e música). De determinado modo, esse é um ponto de valorização da solidão. Do silêncio. E de encontro com o Existencialismo. Sartre foi categórico sobre isso: 'se você sente solidão quando está a sós, então está em má companhia'. Bom, e como por cá vivemos a semana da Fête des Amoureux, embora não de Saint Valetin, vai aí o poema do 'Amor Maduro' de Arthur da Távola. Ou a tranquilidade, a estabilidade no viver e a serenidade.
O amor maduro não é menor em
intensidade.
Ele é
apenas quase silencioso. Não é menor em extensão.
É mais
definido, colorido e poetizado.
Não
carece de demonstrações: presenteia com a verdade do sentimento.
Não
precisa de presenças exigidas: amplia-se com as ausências significantes.
O amor
maduro somente aceita viver os problemas da felicidade.
Problemas
da felicidade são formas trabalhosas de construir o bem e o prazer.
Problemas
da infelicidade não interessam ao amor maduro.
O amor
maduro cresce na verdade e se esconde a cada auto-ilusão.
Basta-se
com o todo do pouco.
Não
precisa nem quer nada do muito.
Está
relacionado com a vida e a sua incompletude, por isso é pleno em cada ninharia
por ele transformada em paraíso.
É feito
de compreensão, música e mistério.
É a forma
sublime de ser adulto e a forma adulta de ser sublime e criança.
O amor
maduro não disputa, não cobra, pouco pergunta, menos quer saber. Teme, sim.
Porém, não faz do temor, argumento.
Basta-se
com a própria existência.
Alimenta-se
do instante presente valorizado e importante porque redentor de todos os
equívocos do passado.
O amor
maduro é a regeneração de cada erro.
Ele é
filho da capacidade de crer e continuar, é o sentimento que se manteve mais
forte depois de todas as ameaças, guerras ou inundações existenciais com
epidemias de ciúme.
O amor
maduro é a valorização do melhor do outro e a relação com a parte salva de cada
pessoa.
Ele vive
do que não morreu mesmo tendo ficado para depois.
Vive do
que fermentou criando dimensões novas para sentimentos antigos, jardins
abandonados cheios de sementes.
Ele não
pede, tem.
Não
reivindica, consegue.
Não
persegue, recebe.
Não
exige, dá. Não pergunta, adivinha.
Existe,
para fazer feliz.
Só teme o
que cansa, machuca ou desgasta.
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