quarta-feira, 24 de junho de 2015

O Romantismo e os Três Poemas da Solidão


Por Maria Fernanda Teles de Castro e Quadros Ferro

I

Nem aqui nem ali: em parte alguma. 
Não é este ou aquele o meu lugar. 
Desço à praia, mergulho as mãos no mar, 
mas do mar, nos meus dedos, fica a espuma. 

Meu jardim, minha cerca, meu pomar. 
Perpassa a Ideia e mói, como verruma. 
Falar, mas para quê? Só por falar? 
Já nada quer dizer coisa nenhuma. 

Os instintos à solta, como feras, 
e eu a pensar em velhas primaveras, 
no antigo sortilégio das palavras. 

Agora é tudo igual, prazer e dor, 
e a tua sementeira não dá flor, 
ó triste solidão que as almas lavras. 

II 

Tão só! 
Cada vez são mais longos os caminhos 
que me levam à gente. 
(E os pensamentos fechados em gaiolas, 
as ideias em jaulas.) 

Ah, não fujam de mim! 
Não mordo, não arranho. 
Direi: 
— «Pois não! Ora essa! Tem razão». 

Entrando, na gaiola, 
cantarão em silêncio 
os sonhos, as ideias, 
como pássaros mudos. 

III 

Solidão. 
A multidão em volta 
e o pensamento à solta 
como alado corcel. 
E as ideias dispersas, em tropel, 
como folhas ao vento 
pétalas do Pensamento. 

Solidão. 
A angústia da Cidade, 
a impossível procura da Unidade, 
o clamor 
do silêncio interior, 
mais pungente, estridente, 
que os bárbaros ruídos 
que ferem, dilaceram 
os nervos e os sentidos. 

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